Leia ao som de Sweet Beginnings
A memória é uma caixinha de lembranças que a gente volta pra reviver algo quando não resta mais nada, apenas a saudade. A gente volta pra saber onde foi que tudo desandou depois de uma tragédia, é aquela famosa caixa-preta que todos procuram depois da queda dos aviões. A gente volta porque se pergunta: Onde foi que deu errado? Só que já é muito tarde para recuperar histórias perdidas em meio a tantos destroços e destruição. Não há mais como voltar e então a gente apenas aceita e vai vivendo. Aceita e segue em frente, continua caminhando sem saber pra onde meio entorpecido e com o corpo anestesiado de tanta dor sem nem perceber todo o resto de vida a nossa volta.
Passei tanto tempo tentando me convencer de que eu tinha que te esquecer a qualquer custo se eu quisesse seguir em frente que nem percebi quando as suas lembranças finalmente ganharam um efeito de ‘Blur‘ na minha mente e hoje você mais me parece como um borrão no meio do meu passado, como quando a gente tira uma foto e olhando para ela muitos anos depois não consegue reconhecer nenhum rosto naquela imagem, mas sabe que aquela pessoa foi muito importante e de alguma forma te marcou. Não conseguimos lembrar direito dos detalhes de cada uma, mas sabemos que elas fizeram parte de quem somos hoje de alguma forma e sente aquela pontada de saudade e agonia ou quem sabe até alguma dose de nostalgia.
Quando foi que deixei de pensar em você? Não sei exatamente quando foi que aconteceu. Só sei que quando não restar mais nada ainda vou olhar aquela antiga foto. A nossa primeira foto, meio sem graça, onde sorrimos felizes por ter nos encontrado em meio a uma multidão desconhecida e que hoje, muito tempo depois, aquelas duas mais parecem pessoas completamente estranhas uma pra outra. Mas daí a gente olha de novo e lembra de tudo que vivenciou com aquela pessoa e vem uma sensação boa do começo de tudo quando ainda acreditávamos que era possível ser feliz. O problema é que reviver o passado só faz com que a gente reviva também a dor e sofrimento desnecessários. E então a gente volta a pensar que o melhor é mesmo esquecer… Deixar aquela foto no fundo de uma caixinha na gaveta. Afinal, doía demais ter que reviver você todos os dias com todos os jeitos, manias e o lado bom que a memória costuma guardar.
Mesmo que algum dia eu não me lembre mais de você e mesmo que eu não consiga mais encontrar a nossa caixa preta em meio a tantos destroços pra descobrir onde foi que tudo deu errado, sei que você ainda vive aqui em algum lugar em uma caixinha de lembranças e recordações que a gente guarda no armário e retira vez ou outra para relembrar as partes boas da nossa história. A memória não é uma boa companhia quando ela insiste em guardar um passado que já não faz mais sentido, mas que mesmo assim ainda faz falta.