No início do mês, no Festival de Veneza, Darren Aronofsky assistiu a sua mais nova produção ser aplaudida e vaiada, uma reação muito polarizada, mas já esperada pelo diretor de Mãe!
Como alguém espera que uma de suas criações seja odiada e amada ao mesmo tempo? Parece que Darren sabia que o misticismo e o surrealismo ligado à religião não agradaria a todos, apenas quem embarcasse na obra, uma das mais desafiadoras do século.
A imagem de thriller psicológico que foi transmitida através do trailer perde logo de cara a sua relevância já que, com o passar do tempo, parece que um novo gênero toma conta da tela a cada minuto.
A história do casal interpretado por Jennifer Lawrence e Javier Bardem gira em torno da residência, que vem sendo reconstruída pela mulher, em uma tentativa de ajudar o marido a retomar sua inspiração para voltar a escrever. A vida pacata, isolada em uma casa no campo, contrasta com a maneira com que Darren filma a personagem de Jennifer Lawrence. Os closes e a câmera atrás do ombro combatem a tranquilidade com que os dois vivem, e chega a angustiar ao mesmo tempo que intriga, fazendo quem assiste se perguntar o tempo todo o que aconteceu na vida fora daquele ambiente.
O interesse no que acontece fora da casa desaparece com a chegada de visitantes desconhecidos. Esses estranhos, personagens ainda mais misteriosas, aparecem para estremecer a trama e dar início ao caos na vida da personagem de Jennifer, justificando a atmosfera tensa em um lugar tão pacífico.
Como em quase todos os filmes de Aronofksy, as mensagens existem e estão lá, mas nunca escancaradas. As representações e alegorias acontecem a todo momento e desta vez estão ainda mais complexas e ousadas, misturando natureza com símbolos religiosos e implantando tons e cores que fazem a história variar sensações, indo do mais sombrio momento de descoberta da personagem até uma recepção calorosa e carinhosa por parte do personagem de Javier Bardem.
Referências como O Bebê de Rosemary e baseado em momentos de rituais e significados macabros e misteriosos, Mãe! aponta diferentes gêneros e principalmente diferentes trilhas a serem seguidas durante a trama.
A busca pelo engrandecimento da obra como algo pessoal e contestador fez Darren beirar a pretenção e abalar a crítica especializada e o público. A verdade é que Mãe! desnorteia e contesta. Um filme que veio para deixar ainda mais evidente a utilização de objetos semelhantes na representação de elementos maiores por parte de Aronofsky. Desta vez na história mais famosa e mais contada pela humanidade.