A gente vive com a mania de ter pena dos outros. é o velhinho morador de rua, o cara drogado, a puta o, a, o ,a coitadinho/a etc etc etc. E nessa onda, a gente acaba se colocando num patamar superior ao dessas pessoas, mesmo que sem querer. A gente acaba não se perguntando se aquelas pessoas não optaram por estarem ali. Pior… a gente nem oferece uma alternativa para estes supostos problemas. Porque sentir pena é muito fácil, porque criticar é muito fácil, porque não se enxergar como um ser igualmente cheio de turbulências também é muito fácil. Todavia, entender e humanizar as histórias de vida, compreender que fulano é alguém que optou por aquilo, mesmo que, às vezes, na restrita possibilidade de seu pequeno leque de opções, e pedir permissão para ajuda-lo, ser proativo, ninguém quer. Assistir tudo de um plano confortável é realmente tarefa fácil. Todo mundo xinga uma prostituta ao mesmo tempo em que sente dó da mesma. No entanto, todo mundo se esquece que essa mulher quis estar ali. E, veja só, ela é uma mulher, pertencente de dignidade como qualquer outra, mas ninguém percebe que pena só contribui com a marginalidade desse ser humano, com o distanciamento dela de seu título, o de mulher.
A história muda quando nos olhamos no espelho e alguma imperfeição vem à tona. A realidade é igualmente cruel para todos, e aí o drama é livre. A barreira que te separava do louco marginal é quebrada. A diferença é que você não teve culpa, foi vítima. Você não aceita críticas- sempre está certo. E não pense que me refiro a grandes problemas. são situações rotineiras, momentos banais que acontecem toda hora. Em algumas situações menos desavisadas faremos uma birra…vai ter dengo, doce, tudo pra vir alguém passar a mão na cabeça da gente dizer às crianças (nós) no final: ” Ohhh!! tadinho!!olhe só o quão ele se feriu… mas calma!! vai passar!!!”. Aí que despencamos mesmo. choro pra cá, choro pra lá… até começar só a soluçar e perceber que, na realidade, não tinha ninguém ali do lado da gente pra ouvir nossas birras. Olhamos pro lado, fazemos cara de assustados ao perceber a ausência da plateia, ao perceber que o mundo continuou funcionando normalmente mesmo com nossos dramas, mega particulares. Então damos nosso rumo, finalmente (nem que seja na marra). Existirão aqueles que demorarão a se tocar que não são o centro do universo, mas uma hora se tocam. Criolo, o rapper brasileiro, diz que não precisamos sofrer pra saber o que é melhor pra gente. Acontece que temos prazer em nos sentir vitimas, para sermos adulados. Disso tudo digo, com toda certeza, que quanto mais cedo conseguirmos perceber essa não exclusividade nossa, mais cedo nos tornaremos seres plenos, felizes. Há quem mime demais, criando uma redoma em volta das nossas criaturas, deixando-nos incapazes de desenvolver nosso potencial e perceber o quão forte somos, de perceber o quão os OUTROS são fortes… um lamaçal de coitadismo com pouca solução concreta nos cerca.
A gente tem que parar de chorar, sair da barra de saia de mamãe, e humanizar o que nos rodeia. Tratar com naturalidade aquilo que mais contribui com o aumento do preconceito quando analisadas de um ponto de vista crítico muito negativo, mas pouco reflexivo. Temos que aceitar as opções de cada um, tomar rumos da proatividade, estendendo a mão ao próximo sem subestimá-lo, se assim ele quiser. Façamos esse trato e a vida se encaminhará de seguir mais leve que o usual, até porque amontoar problemas tanto dos outros quanto nossos só traz frustrações e energias desperdiçadas.
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