“We are living the impossible” – Estamos vivendo o impossível. Guarde esta frase, pois ela parece mover todo o enredo do filme “Hidden Figures”, ou Estrelas Além do Tempo aqui no Brasil.
O filme, com suas 2 horinhas e pouco de duração, conta de forma leve e gostosa a história de Katherine, Dorothy e Mary, três mulheres extremamente inteligentes que trabalham para a NASA, e como se já não fosse difícil a falta de igualdade e apoio por serem mulheres, elas também sofrem com o preconceito por serem negras em uma época em que os Estados Unidos era dividido entre os brancos e “as pessoas de cor”.
Apesar de a história também contar a trajetória de Mary, uma aspirante a engenheira, e Dorothy, a qual o sonho era ser a Supervisora da ala Oeste, o foco volta-se para a vida de Katherine com sua grande habilidade em Geometria Analítica e facilidade com os números. Mãe de três filhas e viúva, vemos rapidamente como sua vida é difícil. Ela é uma personagem amável que nos cativa logo no do filme. Você irá torcendo por ela e odiar aqueles que tentam dificultar sua vida, principalmente Paul, o engenheiro chefe que parece não gostar de tê-la por perto.
A ambientação do filme é muito bem feita através de acontecimentos históricos. A trama desenvolve-se em plena Guerra Fria através das propagandas e símbolos. Vemos o soviético Yuri Gagarin (o primeiro homem a viajar ao espaço); a forte segregação racial e até citações ao pastor Martin Luther King, um dos principais líderes pelos direitos civis dos negros. A urgência de ganhar a “corrida espacial” unida ao racismo típico da época promove algumas situações revoltantes que nos deixam um pouco inquietos, causando inclusive um ponto crítico na história em uma discussão entre Katherine e seu superior, desencadeando uma mudança de visão interna na NASA em relação a segregação entre brancos e negros.
Além de tudo isso, ainda temos uma trilha sonora forte e um senso de humor leve durante o filme, nos estimulando a dançar na cadeira, rir e dar aqueles murmúrios de “isso garota!” baixinho no meio do filme. Afinal, não é à toa que ele foi indicado a alguns prêmios, incluindo o Globo de Ouro de Melhor Trilha Sonora.
No geral, como mulher e estudante de engenharia, me sinto mais que satisfeita com o filme, que se torna inspirador pela garra das três por fazer o que amam. Impressionou-me como elas puderam chegar tão longe considerando a situação em que se encontravam. Fiquei emocionada, confesso! E mais: quando pensamos, depois de tudo o que vimos no filme (que é baseado em acontecimentos reais!), elas não receberam nenhum ou quase nenhum crédito por isso, uma certa melancolia nos atinge.
Eu diria, às minhas colegas de profissão e às estudiosas da área de exatas que até hoje vivem a triste realidade desgraçada (cheia de preconceitos) com relação a nossas carreiras, esse é um filme que com certeza deve ser assistido para nos inspira a chegar mais longe. E, a todas as mulheres, esse é um filme de grande força para nos espelharmos.
Aos que forem assistir, e temem não compreender as referências, aqui vão algumas dicas:
Isósceles, Equilátero, Losango, quadrilátero e todas as outras coisas que são ditas no começo são formas geométricas, uma das paixões de Kathy (só para começarmos as referências devagar ok?).
Não se assustem com as fórmulas que aparecem. Elas são irrelevantes para o enredo apesar de deixarem evidente as dificuldade que se apresentam ali. O que você realmente tem que saber é que eles estão lidando com fórmulas matemáticas criadas para se adequar ao formato da órbita da terra (uma elipse) e que o método de Euler ( um dos mais simples para se aproximar a solução de um problema com um valor inicial conhecido) é básico e até bobo perto do que eles vêem todos os dias.
Fortran é uma família de linguagens de programação muito usada até os dias de hoje e nasceu para a IBM (International Business Machines).