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Os filmes de heróis foram se desenvolvendo aos poucos no decorrer dos anos, começando com sucessos absurdos como Superman, dirigido por Richard Donner e estrelado por Christopher Reeve, e o Batman de Tim Burton, que mostraram dois dos maiores ícones dos quadrinhos nas telas de cinema em filmes de grande orçamento pela primeira vez. O grande sucesso desses filmes porém falhou em impulsionar esse formato, que foi praticamente enterrado com os lançamentos de Joel Schumacher entre 1995 e 1997.
Os heróis voltaram a ter presença marcante no cinema com a Marvel, em filmes produzidos por outras empresas, como Spider Man, X-Men e até mesmo Blade. Os três se transformaram em trilogias com diferentes graus de sucesso, até o retorno triunfal de um dos maiores ícones da cultura pop, Batman Begins (2005) do até então pouco conhecido, porém já aclamado, Christopher Nolan, que a essa altura já tinha produzido Amnésia, considerado até hoje uma de suas obras primas. A nova produção do homem morcego trazia um novo tom mais sombrio e realista que fisgou os fãs e os críticos como os filmes de heróis tinham feito poucas vezes antes.
Mesmo com o sucesso de Batman Begins, o filme não pôde ser considerado o grande responsável pela “explosão” do gênero que temos visto nesta década de 2010. O responsável foi um projeto de pouca credibilidade, feito por uma empresa sem experiência no ramo, com um diretor que até então não tinha feito filmes de grande orçamento, protagonizado por um ator desacreditado, com um passado conturbado e muito distante do seu auge. O filme que pegou todos de surpresa em 2008 e revolucionou a indústria do cinema foi Homem de Ferro, dirigido por Jon Favreau e interpretado por Robert Downey Jr.
Alguns certamente dirão que o Cavaleiro das Trevas, sequência de Batman Begins, é de fato o melhor e mais bem-sucedido filme de heróis lançado em 2008 e essa afirmação é completamente verdadeira. Porém o filme que auxiliou a sedimentar os filmes de super heróis como um gênero a parte e independente foi Homem de Ferro.
Após o lançamento de Homem de Ferro, há quase 10 anos, temos visto a Marvel lançar sucesso após sucesso, de diferentes níveis ano após ano. E muitos se perguntam: Por que?
Heróis menos conhecidos
Um gênero não sobrevive somente de ícones e duas ou três grandes estrelas. Homem de Ferro sedimentou o gênero pois trazia um herói menos conhecido, o que fez um sucesso absurdo. Filmes do Batman, Superman e Spider Man traziam público para os cinemas, porém poucos confiavam que heróis do segundo escalão conseguiriam fazer sucesso com o público mainstream. Desde então, a Marvel tem dependido somente de heróis menos conhecidos para trazer grandes sucessos para as telonas.
Marvel sem Homem Aranha, Quarteto Fantástico, Wolverine e X-Men era algo inconcebível para qualquer grande fã da editora, porém rapidamente se tornou realidade.
Diretores estreantes em grandes produções
Vemos desde o primeiro diretor, Jon Favreau, que todos os filmes foram capitaneados por diretores inexperientes com filmes de grande orçamento, com exceção de Joe Johnston, diretor de Capitão América O Primeiro Vingador.
Isso trouxe um controle um pouco maior ao estúdio, além de uma sede de manter uma boa qualidade por parte dos diretores. Ademais, a Marvel sempre procurou diretores de destaque em projetos de baixo orçamento. Os irmãos Russo com Community e Arrested Development, Shane Black com Kiss Kiss Bang Bang e James Gunn com Slither, por exemplo.
Com isso, o estúdio consegue adquirir talento comprovado, porém que siga os parâmetros e direcionamentos da empresa. A única vez que tentaram abertamente fugir desse conceito a aceitarem um projeto oferecido para o estúdio, foi com Homem Formiga, projeto desenvolvido por anos por Edgar Wright. O diretor extremamente autoral e com controle absoluto sobre seus filmes, decidiu deixar o projeto por divergências criativas com o estúdio. Wright é um dos meus diretores favoritos em atividade hoje, e lamento a sua saída, porém o resultado foi surpreendente, tendo em vista a conturbada produção.
Universo Compartilhado
Por mais bem sucedido que a trilogia do Cavaleiro das Trevas tenha sido, o grande problema para o futuro dos filmes da DC, foi o fato dos filmes não darem espaço para expansão. O que a Marvel fez desde Homem de Ferro, que foi estabelecer e aprofundar o seu Universo Compartilhado a cada nova inserção. Cada filme tem ligação com o próximo e com o anterior, e tenta prometer sempre algo novo no futuro.
As cenas pós-créditos também conseguem unificar de forma brilhante os filmes. Mesmo que Christopher Nolan tenha dito que filmes de verdade não possuem cenas pós-créditos, vemos que a afirmação não é mais verdadeira para a DC e Harley Quinn e sua turma, que já se renderam a estes benefícios.
Riscos
Uma coisa que ninguém pode acusar a Marvel de ser nos cinemas é medrosa. Podem dizer que a empresa não arrisca, porém isso não é verdade. A própria criação da Marvel Studios foi um enorme risco, levando-se em consideração que os maiores heróis não fariam parte do catálogo da empresa.
Homem de Ferro foi um enorme risco, por ser o primeiro. Hulk foi um risco, por seguir um filme de baixa receptividade estrelando o mesmo herói alguns anos antes. Thor foi um risco, por mexer com elementos mágicos que pouco tinham sido abordados no gênero até então. Guardiões da Galáxia e Homem Formiga então, não preciso nem citar.
Disney
Percebi, no decorrer dos últimos anos, que muitos não sabem que a Marvel Studios não foi criada pela Disney, e muito menos foi a Disney quem conduziu o Universo Cinematográfico do estúdio. Os primeiros filmes inclusive foram lançados pela Paramount e continuaram sendo mesmo depois da compra pela Disney, até que o contrato de distribuição com a Paramount expirasse.
Após a compra de 4 bilhões, a Marvel Studios se viu com um financiamento praticamente infinito, uma vez que agora era o filho prodígio de um dos maiores conglomerados de entretenimento do mundo. Além disso, a Disney é um Juggernaut quando se trata de merchandising e marketing, que auxiliam mais ainda o crescimento da Marvel.
Kevin Feige
A grande mente por trás do MCU, Kevin Feige, trabalhava junto com Avi Arad em produções como Demolidor, X-Men e até a trilogia do Homem Aranha, como produtor executivo, adquirindo conhecimento incalculável sobre o gênero. Quando percebeu que a hora havia chegado, conseguiu, juntamente com Arad, um financiamento de meio bilhão de dólares com o banco de investimentos Merril Lynch e assegurou a produção de dois filmes pelo novo estúdio, com a ousada promessa de um filme cross over, chamado Os Vingadores.
Após assegurar o empréstimo, Arad abandonou o projeto, por acreditar que seu fracasso era iminente, entregando as chaves do reino para Feige, que se tornou Presidente da Marvel Studios, cargo que retém com sucesso até hoje.
O controle e a capacidade visionária do produtor são notórios, a ponto dele ter se tornado sinônimo do controle positivo de um estúdio, necessário em qualquer universo compartilhado. A frase “A DC precisa de um Kevin Feige” é extremamente comum em discussões sobre filmes de herói.
Linha dura com a competição
Essa talvez seja o maior ponto de controvérsia entre os fãs de quadrinhos. Marvel Studios, conforme já citei acima, não possui os direitos sobre algumas de suas maiores estrelas. Se você acha que eles teriam dó de sacrificar alguns de seus maiores heróis devido à concorrência, achou errado. Nos últimos anos, a Marvel dissolveu o Quarteto Fantástico, praticou eventos cataclísmicos contra os X-Men e matou o Wolverine. O Homem Aranha provavelmente só se safou das garras do estúdio pois negociações já estavam em andamento a algum tempo para a sua inserção no MCU, conforme os e-mails vazados da Sony confirmaram.
Além disso, a empresa retém os direitos de merchandising dessas propriedades, que a empresa se recusa a negociar ou mesmo utilizar para fazer brinquedos, para evitar marketing para heróis concorrentes. Se o Homem de Ferro é hoje o filho prodígio da Marvel, X-Men é o que foi deserdado.
Elenco
As escolhas de atores quase sempre têm sido certeiras. Desde Robert Downey Jr, até Benedict Cumberbatch, passando por Chris Hemsworth, Chris Evans, Chris Pratt, Scarlett Johansson e até escolhas “estranhas” como Paul Rudd e Tom Holland, é difícil debater que os atores não se encaixaram bem no papel.
A Fórmula Marvel
Não sou fã deste termo, porém creio que seja a maneira mais fácil de explicar o padrão e o tom que os filmes da Marvel tem seguido de forma constante desde a fundação do universo, em 2008. Os filmes podem tratar de temas diferentes, com vilões diferentes, heróis diferentes e etc, porém sempre vemos um padrão no quesito TOM.
Não considero a palavra fórmula adequada, porém é a mistura de ação, aventura e humor que todos os filmes da empresa trazem, mesmo que em variações muito diferentes. Alguns filmes pendem mais para o lado do humor, como Homem Formiga e Guardiões da Galáxia, enquanto outros possuem menos momentos de leveza, como Capitão América 1 e 2, e uma ação mais presente e importante para a trama.
Planejamento
Apesar de tudo o que foi falado acima, nada teria se concretizado sem o planejamento prévio e minucioso de Kevin Feige, que já tinha todo o Universo Cinematográfico mapeado em sua cabeça a anos. O sonho distante se tornou realidade, porém a empresa se manteve sempre fiel a seu plano inicial, com pouquíssimos ajustes no decorrer dos anos, e lançamentos frequentes e bem distribuídos.
Sem esse quesito, um projeto extremamente desacreditado dificilmente teria se tornado o modelo a ser seguido em Hollywood, a ponto de séries consagradas como Star Wars estarem seguindo à risca as regras que Kevin Feige determinou.
Penso que o planejamento foi o fator mais determinante para o sucesso da Marvel Studios. O grande diferencial entre ela e sua maior rival, DC Comics, é exatamente este elemento. Todos os grandes tropeços da DC Comics podem ser explicados pela pressa da empresa em estabelecer um Universo Compartilhado a altura de sua rival, e o resultado tem sido até louvável, considerando a rapidez com que os filmes têm sido feitos, e o quanto o Universo DC já foi explorado e aprofundado com somente três filmes.
Veja no vídeo abaixo quantos dos filmes mais lucrativos da história são da Marvel Studios:
Na próxima semana irei abordar os maiores defeitos do Universo Marvel nos cinemas! Não percam!
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Revisado por: Bruna Vieira.