“Petaluma”, livro de Tiago Velasco, 107 páginas, Editora Oito e Meio, provavelmente exigirá do leitor um distanciamento perturbador. Isto porque o assunto de seus contos é a identidade em construção diante da realidade adversa do mundo. Não está fácil para ninguém, em nossas selvas de pedra é preciso ir à luta como nunca, os contos de “Petaluma” projetam esta ideia: investigam fora os nossos descaminhos de dentro, falam da busca por mítica relevância neste mundo contemporâneo.
A investigação rende muitos relatos de estranhamento. É preciso trabalhar, é preciso amar, é preciso viajar, tais demandas acabam por se tornarem demasiadas para quem deseja apenas “ser” a partir dos conflitos. Como elaborar a própria identidade enquanto as ambições, grandes e pequenas, louváveis e fúteis, cobram uma performance indispensável? A obrigação pode se tornar um desafio constrangedor, ainda mais para quem inicia a caminhada. É assim que o autor chega ao auge do volume, o conto que dá título ao livro: em um restaurante no exterior, jovens do mundo todo se encontram à procura de trabalho e grana para as despesas e realização. Mas, ao contrário do que se poderia esperar, na perfeita arena do self made man, o protagonista continua tão deslocado quanto em qualquer outro lugar.
O humor um tanto depreciativo de Velasco ajuda a compor bem esta coleção de histórias verossímeis, que têm a grande virtude de querer o leitor como seu mais valioso aliado. É possível contestar a desorientação de seus personagens, mas não se nega o caos como força espantosa no mundo. É preciso seguir em frente e é como se Velasco assinasse nos muros em grafite a cores: Tiago esteve aqui. O leitor atento saberá tirar proveito do recado e seguirá tais passos como pistas de seus próprios fragmentos pelos caminhos.