O mais novo lançamento da Netflix é o filme O Diabo de Cada Dia, baseado no livro que leva o mesmo nome, escrito por Donald Ray Pollock. Aqui, a direção é de Antonio Campos ( Matha Marcy May Marlene), com roteiro do próprio escritor do livro.
Ambientado na década de 1960, em duas pequenas cidades nos estados de Ohio e Virgínia, acompanhamos a história de vários personagens e seus encontros pelo caminho. Cada um com seus desejos, temperamentos, mentiras, ignorâncias e fanatismos.
Narrado pelo próprio autor do livro, é impossível não se sentir tocado pelos acontecimentos. O que torna complicado definir se só nos sentimos enojados ou se algum tipo de afeição e pena vem também. Porque só existem dois tipos de personagens: os muito sofredores e os lobos em pele de cordeiro.
O filme toma os primeiros 40 minutos pra nos situar nos acontecimentos prévios ao real início da história e é hipnotizante. Não graças a uma direção estupenda ou fotografia marcante, mas sim pelo roteiro. Também, não era pra menos, além de ter sido escrito pelo próprio autor do livro, esse é o primeiro livro dele. O que já demonstra um grande potencial literário.
Seguimos principalmente a história de Arvin Russell ( Tom Holland ), acompanhando sua infância e crescimento, assim como os diversos acontecimentos tristes e traumatizantes pelo qual ele passa.
Com pouco mais de 2h de duração. Esse é um filme que se permite tomar tempo em cada acontecimento, mas sem que esse tempo vire barriga. Ele é interessante e prende a sua atenção do início ao fim.
Além de Arvin, outros personagens importantes são: sua meio irmã Lenola ( Eliza Scanlen ), o Reverendo Preston (Robert Pattinson), o xerife Lee ( Sebastian Stan) e o casal serial killer Sandy (Riley Keough) e Carl ( Jason Clarke). O elenco também conta com Bill Skarsgard, Mia Wasikowska e Mia Goth. E pra quem vocês não conhecem, procurem os trabalhos. Tenho carinho especial por alguns deles.
Não é um filme fácil de se assistir. Não por ser difícil de entender, mas sim pela percepção da maldade humana nua e crua. Daí o nome: O Diabo de Cada Dia. É como uma muralha de dominós, causam a queda da próxima peça.
Fala sobre assassinato, suicídio, estupro, fanatismo religioso, manipulação humana e autoritarismo masculino. Não é sutil, mas é polido. Sua narrativa pula entre personagens, tomando tempo para apresentar o necessário sobre cada um e isso acaba tornando a meia hora final previsível, o que pode ser um desmotivador para quem assiste. Para mim… apesar dessa percepção, a narrativa me manteve interessada e ao fim, me senti satisfeita.
O Diabo de Cada Dia é isso, uma demonstração escancarada da podridão humana, misturada com pequenos momentos de felicidade e ignorância, que nos fazem decidir a cada segundo o nosso destino e o que fazer com ele.
Não é um blockbuster, mas vale muito a pena ser assistido e apreciado. Lembrando da temática pesada, assista com a mente preparada pra experiência e julgar ou não as ações desses personagens que facilmente podem ser encontrados até hoje, com rostos e roupas diferentes, mas a mesma maldade em seu dia a dia.