Antes tarde do que nunca, finalmente saiu a análise de Monster Hunter World: Iceborne pelo Cabana do Leitor! E antes de começar a falar sobre esse jogo em si, queremos agradecer à Capcom por ter nos disponibilizado a Key da versão de Steam do jogo para que essa review pudesse ser produzida. Agora, preparem-se para uma longa review, pois esse jogo merece.
Monster Hunter World foi lançado em 28 de Janeiro de 2018 sendo considerado o jogo mais ambicioso da série até então, e cerca de 1 ano e meio depois, em 6 de Setembro de 2019 foi lançada sua DLC Iceborne. Para começar a review é bom falar sobre as novidades que a DLC trouxe ao jogo. Iceborne trouxe não apenas uma expansão da história principal, como também novas localidades, novos monstros, novos ataques para as armas disponíveis no jogo, adição da Prendedora, melhorias nos monstros já existentes, adição das armas defensoras e armaduras Guardião que basicamente são equipamentos muito poderosos disponíveis logo de cara para que você termine o jogo básico rapidamente e chegue logo à expansão, e algumas coisas mais. Em outras palavras, Iceborne é praticamente um jogo novo. É como se a Capcom tivesse lançado o jogo base e algum tempo depois pensado “espera, nós podemos fazer algo ainda melhor” e então criado a DLC. Apesar de custar um valor a mais, eu diria que é totalmente válido para aqueles que desejam obter o jogo comprá-lo junto da expansão, visto que ela melhora em muito o jogo no geral.
A saga Monster Hunter não é conhecida por suas histórias, mas isso não quer dizer que elas não existam. É necessário entender que a história é apenas um pano de fundo para justificar quem você é e o que está fazendo naquele universo. Ainda assim, MonHun World tem um enredo interessante.
O jogo se trata da exploração do “Novo Mundo”, um novo continente além mar que ainda não havia sido explorado por falta de recursos, mas que agora, com o avanço da tecnologia naval, é possível. A primeira frota foi enviada 40 anos antes dos acontecimentos do jogo, sendo a equipe de reconhecimento que era composta por indivíduos extremamente habilidosos. A segunda frota era a equipe técnica, que tinha o compromisso de construir áreas de povoamento, de produção de equipamentos, entre outros. A terceira e a quarta frota eram compostas principalmente por cientistas e pesquisadores, que lidam com as logísticas, produção de comida e pesquisas. E por fim, a quinta frota foi a maior, composta principalmente por caçadores, incluindo o Jogador.
Quando a quinta frota está chegando no continente, embaixo do barco onde o jogador se encontra começa a se levantar um colossal Dragão Ancião, conhecido como Zorah Magdaros, destruindo a embarcação e fazendo com que seja necessário os caçadores fugirem por suas vidas. O jogador e sua Assistente conseguem fugir e chegar no Novo Mundo, chegando à cidade de Astera, onde se encontram com as outras frotas e podem começar suas missões, todas girando em torno de um objetivo em comum, decifrar os mistérios por trás da migração dos Dragões Anciões para o Novo Mundo e quais os poderes àquelas criaturas colossais possuem e como se relacionam com o ambiente ao seu redor.
Como se pode ver, o enredo do jogo é interessante, porém você não deve esperar por personagens marcantes, profundos e/ou com quem você vai criar laços. O destaque do jogo não são as pessoas. Na verdade, os NPCs nem possuem nomes próprios, no geral são conhecidos como “Capitão de X”, “Chefe do Y”, “Caçadora de Z”. Mas isso não é um demérito, e sim um recurso. Os únicos nomes que vamos ouvir ao longo da jogatina são os nomes dos monstros, portanto, não nomear as pessoas, mas sim os monstros, é uma forma de nos aproximar dos verdadeiros centros de atenção do jogo, e daqueles os quais a história vai se desenvolver e girar em volta.
Os monstros são o grande destaque da saga no geral, e World / Iceborne não ficam para trás nesse quesito. São dezenas de criaturas, variando desde pequenos animais até monstros colossais. Pra ser mais exato, o jogo base conta com 52 monstros, sendo adicionados mais 39 em Iceborne. O interessante é que cada um deles tem seu próprio comportamento no ambiente. Alguns são pacíficos e apenas fugirão quando atacados. Outros vão te ameaçar por estar invadindo seu território e, se você ficar por perto por muito tempo, se tornarão agressivos e atacarão, e por assim em diante. Monstros pequenos geralmente andam em bandos e são fáceis de se matar, sendo um problema maior apenas no caso de você ficar cercado. Monstros grandes andam sozinhos (ou acompanhados de pequenos) e são as estrelas do jogo. Os combates com monstros grandes envolvem estratégia. Cada um tem seu próprio padrão de ataque, tipo de dano, suas próprias resistências. Se você começar a atacar um monstro desesperadamente, é provável que dê errado. É necessário alguma observação, não apenas do monstro como também do cenário a sua volta, para entender como ele ataca, quais momentos é necessário se defender ou esquivar, quais as brechas para ser atacado ele possui, quais são seus pontos fracos. Atacar os pontos fracos de uma criatura podem deixar ela com uma região mais frágil, sofrendo mais dano, ou até mesmo cortar seu rabo fora. Criaturas grandiosas geralmente rendem lutas épicas, a quais retornam uma sensação de satisfação muito grande ao jogador quando vencidas. Essas lutas podem se tornar ainda mais épicas quando você está enfrentando um monstro grande e outro monstro grande entra na mesma região, fazendo com que as duas criaturas comecem a lutar entre si (geralmente rendendo cenas fantásticas de se assistir). Caçar ou capturar um monstro lhe rende pontos de pesquisa sobre ele, que servem para atualizar os dados que possui sobre o mesmo e poder melhorar suas estratégias quando for caçar a mesma espécie futuramente. Além disso, você sempre pode coletar recursos do monstros mortos, como chifres, escamas, entre outros.
Mas porque você voltaria a caçar um monstro que já caçou antes? Então, além da diversão, de acordo com que você vai avançando, os monstros novos vão apresentando novos desafios. Às vezes, você pode precisar de uma arma que dê um dano elemental diferente ou uma armadura resistente a um dano específico que o monstro que você vai enfrentar causa. Lembra os recursos recolhidos dos monstros? Pois bem, eles servem justamente para você poder criar esses equipamentos novos e específicos.
E após falarmos sobre os monstros, o melhor a se fazer é falar sobre os Caçadores e sobre nosso personagem. Para começar, a personalização do jogo te dá bastantes opções, de forma que até que é possível ser capaz de criar um boneco com um rosto parecido com o seu, se assim desejar. Após você personalizar seu personagem, você pode personalizar seu Amigato (Que por si só já fazem o jogo merecer um 10 de tão fofos que são), um ajudante felino que vai com você nas missões e te ajuda lutando, entregando itens, entre outros. Você é um caçador, sendo assim, você tem algumas opções de ações que pode fazer. Você pode correr, agachar, usar itens, usar sua atiradora, examinar pistas, coletar, empunhar sua arma, se defender e esquivar, montar armadilhas, além mais algumas outras coisas. Importante de se salientar: Tudo que você faz em Monster Hunter, como embainhar ou sacar a arma, usar poções, coletar recursos no chão, possui um tempo de animação que precisam ser completos para que ela ocorra. Ao tomar uma poção de vida, por exemplo, o seu personagem irá fazer a animação de beber a poção. Enquanto ele estiver bebendo a sua vida estará recuperando, mas caso você sofra um ataque que interrompa a animação, você também irá parar de recuperar vida, não usando todo o potencial do item. Isso é importante para o jogador entender que não adianta ficar junto ao monstro sempre, pois se sua vida estiver baixa, ela não vai voltar a ficar alta ao pressionar de um botão. É preciso pegar distância, e aí se curar, para poder aproveitar o máximo dos itens.
Uma das melhores coisas que o jogo faz é te dar a sensação de imersão, de você ir desde um caçador novato até se tornar experiente, e o jogo faz isso de uma maneira muito interessante. Ao você receber uma missão para caçar um determinado monstro, você deverá ir para o ambiente no qual ele se encontra, onde você terá alguns recursos a sua disposição. E a partir do momento que você chega lá, você meio que está por sua própria conta para achar seu alvo. O jogo não te fala onde encontrar ele porque esse é seu papel. Você é o caçador, você precisa achar a caça. A partir disso, você precisa começar a andar pelo mapa e procurar rastros dele (as vezes você da a sorte de dar de cara com o monstro bem cedo), que irão te guiar até achar o mesmo. Os mapas são divididos em diversas áreas pelas quais os monstros podem ficar circulando. Normalmente, a mudança de área coincide com algumas pequenas mudanças no cenário, mas sempre respeitando a estética e tema do Mapa no geral. Nesse aspecto, MonHun World apresenta avanços em relação aos títulos anteriores, pois não há a necessidade de loadings adicionais ao passar de uma área para outra. Com o passar do tempo, repetindo missões, você começa a entender que certos monstros frequentam sempre as mesmas áreas, se alimentam em determinados locais, fogem por certos caminhos, entre outros. O jogo não tem sistema de experiência ou nível, mas você começa a se sentir um caçador mais experiente quanto mais joga porque começa a entender o ambiente no qual seu personagem está inserido.
Além disso, para lutar os caçadores podem se utilizar de diversos recursos, mas o principal sem dúvida são as armas e o sistema de combate. Em MonHun, temos 14 classes de armas diferentes, todas com suas próprias características e mecânicas. Esse é um ponto importante do jogo. Não existem classes de armas melhores que as outras, existem apenas armas que o jogador pode gostar mais de utilizar e se adequarem melhor ao seu estilo de jogo. Algumas armas, como as Lâminas Duplas, possuem combos rápidos e com muitos ataques, mas causam pouco dano. Outras, como os Martelos, são lentos e tem poucos ataques, mas todos são bastante devastadores. Ainda existem as armas a distância, às quais você pode equipar diferentes tipos de munição para causar diferentes tipos de efeito nos monstros. E cada arma tem uma série de habilidades próprias que podem ser masterizadas para se utilizar todo seu potencial. Em minha jogatina, a classe de arma que gostei de usar foi a Lâmina Dínamo, que é um conjunto de espada e escudo que podem ser fundido para se tornar um machado. Algo a se considerar é que o jogador começa com uma versão básica de todas as armas, então ele pode testar a vontade no campo de treinamento ou em missões mais simples para descobrir qual se encaixa melhor com seu estilo de jogo.
Lembrando que o combate também segue a regra das animações, sempre que um movimento começa, ele precisa ser terminado, então isso quer dizer que usar um movimento lento no momento errado também abre brechas para os monstros te atacarem.
Como já comentado antes, é importante prestar atenção no cenário a sua volta e ter paciência. No ambiente existem armadilhas naturais que podem ser usadas contra os monstros, como grandes pedras que podem ser derrubadas, paredes nos quais eles podem ser empurrados, vinhas de plantas que ajudam a prendê-los, entre outros. Então muitas vezes pode ser mais interessante sentar, olhar no mapa com o filtro de “armadilhas naturais” quais opções você pode usar a seu favor, do que apenas sair correndo lunaticamente para cima da criatura. Além disso, quando as criaturas estiverem machucadas, elas tentarão fugir, nesses momentos também não há a necessidade imediata de sair perseguindo elas. Se quiser, tome o seu tempo, afie novamente a sua arma, recupere a vida, e aí vá atrás do monstro, novamente vendo se pode usar o ambiente ao seu favor, entre outros. MonHun é um jogo que recompensa você agir como um caçador experiente, e te pune por ser afobado.
Outra possibilidade legal que foi adicionada na expansão Iceborne é a Prendedora, que é um gancho que você pode usar para se prender a uma determinada parte do monstro e causa dano diretamente a ela, ou mudar a direção na qual o monstro está se movendo, e até mesmo pode ser utilizada para empurrar ele em uma direção desejada. Como tudo no jogo, precisa ser usada nos momentos certos, mas ainda assim, é bem divertido usá-la para não permitir que o monstro fuja. A prendedora é de longe um dos recursos que eu mais utilizei durante as caçadas (Inclusive de forma errada diversas vezes).
No combate nós podemos ver um dos poucos lados negativos do jogo: O sistema de câmera. Pra ser mais exato, a opção de centralizar a câmera em um monstro. Como muitas coisas acontecem na tela ao mesmo tempo, você tem a opção de utilizar a câmera fixada em um inimigo em específico, algo bastante comum em diversos jogos. Mas na maioria dos jogos, esse recurso vem acompanhado de uma “correção de mira” de forma que se você andar ou atacar, o jogo vai fazer com que o movimento do torso ou do golpe saia em direção ao foco da mira, ou seja, em direção ao monstro. Em MonHun não, o golpe será direcionado para o lado que você está correndo, fazendo com que o câmera fixa atrapalhe muito mais do que ajuda por causar um grande estranhamento e você perder visão das outras coisas que estão te cercando no ambiente. No fim, vale mais a pena jogar sem esse recurso.
Outra coisa estranha se trata da animação de se balançar em cipós. Em alguns ambiente existem cipós que podem ser utilizados para chegar de um ponto ao outro. Como o jogo não tem a ação de pular, ao chegar a um local com a opção de utilizar esse transporte, o personagem irá automaticamente pular para o mesmo, e se você tentar passar de um para o outro ele também o fará. A questão é que algumas vezes você claramente errou a direção do pulo, ou pelo menos o lugar de onde seu personagem saiu não era para alcançar o cipó, mas o jogo faz a leitura de que você queria ir para ele corrige para você… e você por um breve momento consegue ter uma visão muito estranha de seu personagem se deslocando lateralmente no ar até se agarrar no cipó desejado. Isso é feito para não diminuir a velocidade do jogo com você caindo e tendo que refazer o caminho, algo que prejudicaria o jogador, porém, ainda assim, é minimamente estranho…
Mas voltando a falar de lado positivos, os gráficos do jogo são lindíssimos. Não só os monstros e as pessoas são muito bem feitos, como os cenários são impressionantes. Astera, a cidade principal e inicial do jogo, tem um visual simplesmente incrível. A cidade basicamente é construída se utilizando dos barcos das frotas anteriores que chegaram no Novo Mundo, dando um aspecto único para o local. E nenhum ambiente fica para trás. Você pode ver a natureza tomar tudo a sua volta com detalhes vibrantes na Floresta Ancestral, e se sentir intimidado pela falta de cores sendo cercado pela morte no Vale Putrefato, um local onde o relevo é formado de ossos e carne de seres mortos.
E tudo que existe no jogo fica 10 vezes melhor quando jogado em multiplayer. Praticamente todas as missões do jogo podem ser jogadas em até 4 amigos, fazendo com que as possibilidades se tornem gigantescas. Todos podem cercar o monstro e atacar de forma massiva para causar muito dano, ou pode um jogador ficar perto segurando o dano enquanto os outros atacam de longe com armas de longo alcance. Também é possível que a equipe se posicione para impedir as rotas de fuga da criatura ou colocar armadilhas em diferentes espaços. MonHun é muito bom jogando sozinho, e se torna praticamente perfeito jogando em equipe.
Monster Hunter World: Iceborne não é um jogo que qualquer pessoa vai gostar. Ele tem um objetivo e um público definido. A questão é que ele é MUITO bom em seu objetivo, que é te fazer se sentir como um verdadeiro caçador de monstros.