A obra de Chloé Cruchauted veio para o Brasil através da editora Nemo, que sempre busca novidades muito interessantes e importantes dentro do atual mercado de quadrinhos. Degenerado não fica nada longe disso.
O livro foi inspirado em um outro título de nome La Garçonne et L’ assassin, de Fabrice Virgili e Daniéle Voldman. Ambos contam a história de Paul e Louise, um casal que viveu na década de 1910. A Primeira Guerra é o cenário da história e Paul, um dos soldados escalados para proteger seu país nas temíveis trincheiras.
O inferno não dá tréguas e, após ver a forma brutal com que foi tirada a vida de seu amigo, o homem preferiu o perigo de viver como desertor à estar abeira de uma morte tão horrível como a que havia presenciado. Foi Louise quem o ajudou a esconder-se do exército, condenado à permanecer em um quarto de hotel até que a guerra tivesse fim. Mas a solução veio antes e Paul teve a grande ideia de mudar sua identidade, transformando-se em Suzzane.
A guerra trouxe à tona problemas muito maiores que a prisão de um desertor. A confusão de gênero, o trauma e o conflito entre o casal acaba com um final cheio de surpresas.
A medida que Chloé vai mais a fundo, seus diálogos ficam mais viciantes, senão excitantes. A cada descoberta,uma emoção. Os quadros da autora são excelentes, passam muito bem o clima que os personagens se encontram.
Apesar de preto e cinza, tirando as cenas que a importância está atribuída à alguém, todo o quadrinho leva um ar mais monótono, talvez para afirmar o peso da guerra aos parisienses. Mas a riqueza de detalhes em cada página precisa ser reconhecida, seus traços particulares também agregam beleza à obra, que aparenta abusar das técnicas com grafite e nanquim.
A delicadeza, até nas partes mais quentes, servem para balancear o drama que vem forte para além do início dessa história de amor. Ao final do livro, informações extras são apresentadas, revelando um estudo de uma biografia .
Degenerado rendeu dois prêmios à autora, como o Prêmio da edição 2014 do Festival de Angoulême na categoria de Melhor Albúm, e o Grande Prêmio da Associação de Críticos e Jornalistas de Quadrinhos Francesa, em 2013. A HQ é o fruto de um trabalho incrível de pesquisa. Uma releitura fantástica, sem defeitos.