Não é dúvida que Valheim é o sucesso do momento. Lançado há quase 1 mês, o jogo já bateu números absurdos, com mais de 4 milhões em vendas e um pico de quase 500 mil jogadores simultâneos. A grande questão que fica é: O jogo realmente é tudo isso ou ele está surfando na popularidade da temática Viking? Desse jeito, trazemos abaixo a nossa Review do jogo. Agradecemos a Assessoria Jesús Fabre por nos fornecer a chave do jogo para que essa review fosse feita.
Valheim é o tipo de jogo cujo a história serve apenas como pano de fundo para justificar a gameplay e não é o grande foco. Basicamente, baseado na mitologia nórdica, Odin, o pai de todos, derrotou e aprisionou seus inimigos há séculos no décimo mundo, deixando-os exilados dos outros 9 mundos. Quando descobriu que os mesmos estavam crescendo novamente em força ele foi até Midgard, a Terra-Média, e mandou suas valquírias procurarem pelos maiores e melhores guerreiros. Mortos para o mundo, esses guerreiros nasceram novamente no décimo mundo: Valheim.
Agora, precisando provar seu valor como guerreiro, o jogador deve sobreviver no décimo mundo, enfrentar e eliminar diferentes monstros míticos e garantir seu lugar em Asgard ao lado de Odin. A partir disso, o jogador irá acordar sem nada e deverá começar a sua jornada em Valheim. Toda essa história é contada em uma cutscene inicial bastante rápida.
Logo que acordamos em nosso mundo de Valheim (que é gerado proceduralmente), conhecemos Hugin, um dos únicos dois NPCs que vamos encontrar ao longo da jogatina. Um corvo que serve de guia, dizendo-nos o que devemos fazer no mundo e explicando novas coisas e mecânicas de acordo com que vamos nos deparando com elas. Nossa missão é bastante simples, explorar o mundo, encontrar os altares das criaturas mitológicas, realizar o sacrifício necessário para invocá-las e então abate-las. Uma vez feito isso, podemos oferecer a cabeça da criatura como um presente para os deuses no local no qual despertamos no começo, ganhando novos bônus e partindo atrás da próxima.
Outra coisa que nos ajudará ao longo das nossas explorações é que podemos encontrar pedras marcadas por mensagens de “outras pessoas que antigamente passaram por ali”, algumas na mesma missão que nós. Normalmente essas mensagens vem com alguma dica no meio para auxiliar o jogador.
Jogadores do gênero de sobrevivência rapidamente vão pegar as mecânicas do jogo. Inicialmente é necessário coletar madeira e pedras com nossas mãos para podermos construir nossas primeiras armas e ferramentas, e, de acordo com que vamos conseguindo novas ferramentas, podemos adquirir também novos recursos e assim ir expandindo cada vez mais o número de coisas que podemos construir. Nesse aspecto, Valheim tem uma variedade bastante agradável de estruturas, e com algum esforço, é possível fazer construções bastante bonitas (se procurar no youtube, existem diversos vídeos bem legais). Além disso, o jogo também conta com uma boa variedade de equipamentos. Outra mecânica bastante comum a esse tipo de jogo, é que caso o jogador morra, ele poderá renascer e procurar seu corpo para recuperar itens.
Algo que chama atenção é que a física presente no jogo é muito boa. Cortar uma árvore irá derrubá-la sobre outras, podendo derrubá-las também (inclusive elas podem cair em cima do jogador e matá-lo). Flechas e lanças precisam ser miradas acima do alvo pois irão cair com a gravidade. Ser derrubado ou cair de lugares altos causará danos no jogador, entre outras coisas.
Normalmente o processo de coleta de recursos é complicado no início, mas de acordo com que novas ferramentas vão sendo habilitadas e novas localizações descobertas, fica cada vez mais fácil do jogador tomar conhecimento de como encontrar um determinado recurso necessário para o momento. Como diversos jogos de sobrevivência, em Valheim é possível caçar animais para pegar couro, que o auxilia a fazer novos itens, e carne para comer, porque sim, como é comum ao gênero, é necessário se alimentar. Um diferencial entretanto, é que a barra de fome não serve apenas para que seu personagem não morra da mesma.
Cada alimento dá ao jogador uma quantidade extra de estamina e vida por um determinado tempo, sendo que você pode ficar com até 3 alimentos consumidos ao mesmo tempo, então procurar como fazer novos pratos se relaciona diretamente com ter mais bônus no jogo. O jogo possui uma variedade boa de alimentos também, podendo encontrar carne em diferentes bichos, frutas, leguminosas (que podem ser plantadas), mel, entre outros.
Falando rapidamente de aspectos não relacionados a jogabilidade, Valheim possui gráficos que lembram bastante a era Playstation 2 com mais partículas, porém isso não é um demérito, visto que parece ser uma escolha estética do game. No geral, a natureza pode oferecer paisagens bonitas em diferentes biomas, assim como as criaturas e os monstros mitológicos possuem designs bem interessante.
A única coisa não muito bonita são as pessoas. Vale a pena dizer também que algumas partículas do jogo são bastante confusas, como a animação de vento que é bastante similar a de flechas, e as vezes dá a impressão de você estar sendo atacado. Além de outras vezes ocorrerem pequenos bugs visuais, como pássaros atravessando objetos ou desaparecendo na hora que pousam.
Outro aspecto bastante positivo do jogo é sua trilha sonora. Apesar de possuir poucas faixas e nenhuma delas ser necessariamente memorável, o jogo conta com músicas de fundo que combinam perfeitamente com os locais e situações do momento, indo desde músicas relaxantes para quando você está na sua casa, outras que sugerem mistério dentro de criptas, até músicas com batidas e distorção mais pesadas para as lutas contra chefes.
Dentre os sistemas do jogo, quase todas as suas ações possuem níveis que aumentam de acordo com quanto mais você as realiza. Correr, socar, usar lanças, andar abaixado, nadar, etc, tudo vai passando de nível com o tempo. Essa passagem de nível normalmente se relaciona com você gastar menos estamina para realizar aquelas ações. A diferença entre um nível e outro, porém, é bem pouco perceptível, é necessário passar em muitos níveis uma ação para que comece a fazer uma diferença significativa a quantidade de estamina preservada.
Outra coisa que pode ser elogiada é o sistema de combate, que conta com uma pequena porém satisfatória variedade de armas, com a maioria possuindo 2 tipos de ataques diferentes, e ainda existindo mecânicas de bloqueio e esquiva. Sendo bastante básico, o sistema é fácil de dominar e agrada bastante.
Um grande destaque do jogo ainda é o fator multiplayer, sendo que fica a critério do jogador jogar em um mundo sozinho ou procurar um server para entrar. No momento, os servidores criados podem suportar no máximo 10 jogadores, e é importante observar que o objetivo de Valheim é ser uma experiência cooperativa, e não PvP. Um dos fatores mais interessantes disso é que o PvP precisa ser acionado individualmente por cada jogador. Explicando melhor, fica a critério do jogador escolher se ele quer poder sofrer dano de outros jogadores. Ou seja, se você não quiser jogar PvP, mesmo que outras pessoas do server queiram, elas não poderão te machucar ao menos que você ative essa condição. Infelizmente as estruturas construídas por você não compartilham dessa vantagem, e podem ser destruídas por outros jogadores. É importante entender que o jogo é perfeitamente jogável sozinho, mas que também tem uma camada de diversão nova ao jogar com amigos.
Então podemos concluir que Valheim de fato é esse jogo incrível e que seu sucesso não tem nada a ver com a temática, certo? Na verdade não é bem assim. Valheim é um jogo muito bom, porém também passa por diversos problemas, e a maioria deles relacionados a qualidade de vida.
No geral, vários dos sistemas do jogo passam por pequenos problemas que podem ser bastante estressantes com o tempo. Listando algum deles:
Para ter acesso a maioria das construções, você precisa ter um WorkBench construído, porém, essas também tem uma distância de efeito relativamente baixa, e você só pode usar 100% das suas opções se tiver construído um teto acima dela (por motivos desconhecidos). No início isso não parece um problema, mas de acordo com que vai se mostrando necessário, o seu mapa começa a ficar com workbenchs pra todo lado.
Outra coisa vem do sistema de mira. Como comentado antes, o jogo possui gravidade atuando sobre projéteis, porém o sistema de mira é bastante ruim, fazendo com que usar o arco e flecha também não seja uma das melhores experiências, até porque o jogo não conta com uma opção de visão em primeira pessoa.
O jogo ainda passa por outros problemas, como por exemplo o fato de que é necessário construir uma quantidade incrivelmente grande de baús para guardar itens, porque cada um tem um número bastante limitado de espaço disponível dentro e ele não conta com opções com uma quantidade de espaços grande. Em termos de construir estruturas, enquanto a construção está na horizontal, ela é extremamente fácil e intuitiva, porém quando ela passa para a vertical, ou é necessário fazer alguma suporte e/ou estrutura debaixo da água, a história já fica diferente e começa a ficar bastante complicada. Inclusive é comum as pessoas que fazem vídeos de construção para o youtube se utilizarem de hacks para poder construir sem ter que lidar com as limitações do jogo.
Ainda sobre as construções, a maioria delas exige que você tenha terreno plano para fazer, e você até possui uma enxada para aplanar o terreno, porém a ferramenta funciona muito mal e é bastante confusa/difícil de se usar. A quantidade de coisas que você pode fazer sob a água também é bastante limitada.
No fim, existe um número relativamente grande de interações dentro do jogo que com o tempo começam a incomodar, e que poderiam ser melhoradas. O lado positivo é o fato de Valheim ainda estar em acesso antecipado, ou seja, muitos desses problemas devem vir a passar por modificações e devem ser melhorados, assim como o conteúdo do jogo deve aumentar.
No fim das contas, Valheim é um bom jogo e que tem MUITO potencial para ser muito mais. Possuindo um preço e conteúdo bastante justos, daqui para frente o jogo poderá ter dois caminhos para ir: Caso ao longo de sua existência ele não passe por nenhuma melhoria de qualidade de vida, é provável que comece a se tornar uma grande decepção e perca a base de jogadores que está construindo.
Porém, caso venha a ocorrer a melhoria nesses diversos sistemas, e com o tempo mais conteúdo sejam adicionados, ele pode facilmente se tornar um jogo nota 9 ou até mesmo um 10/10. É importante lembrar também que esse é um jogo feito para um nicho específico, e provavelmente quem não gostar de jogos de sobrevivência não vai sentir nenhum prazer jogando.
Para quem gosta do gênero de sobrevivência e da temática Viking, o jogo é uma pedida certa e que vale muito a pena.