O jogos NieR possuem uma delicadeza ímpar para contar fatos, mas eu sei que talvez quem esteja chegando agora nos títulos fique um pouco confuso com a sequência das histórias e os múltiplos finais. Então antes de tudo que possa vir aqui, eu preciso te apresentar Yoko Taro.
Yoko Taro é um japonês diretor e roteirista de jogos com 50 anos. Ficou conhecido pela série de jogos Drakengard, da até então conhecida empresa também japonesa de desenvolvimento de jogos chamada Cavia. Antes de fazer morada ali, Taro havia passado pela Namco e pela Sony.
Mas por que, você me pergunta, é tão necessário conhecer Yoko Taro? Porque ele é a alma de NieR.
Constantemente citado e mundialmente conhecido por seu estilo de jogo, o diretor e roteirista trabalhou em todos os jogos da série Drakengard. Ok, mas qual a importância de Drakengar para NieR? Você não veio aqui para ler um review sobre esse tal jogo, certo?
Uma coisa que constantemente venho percebendo é: a grande maioria das pessoas interessadas em jogar NieR Replicant (seja por experiências anteriores com Automata ou não) não sabe que a série é um spinoff.
NieR (Gestalt ou Replicant no Japão, dependendo do seu console) era inicialmente Drakengard 3. Com a evolução da profundidade do título durante o desenvolvimento, a produtora achou prudente que ele por si só se tornesse um stand alone da série, não sendo necessário jogar os 2 primeiros títulos para o entendimento do enredo por completo. Ainda sim, compartilhando o mesmo universo, as informações seriam ainda mais complementadas se assim o fizesse.
Pontos muito importantes a se levar em consideração por você que vai jogar qualquer um dos jogos de Taro são a rejogabilidade e os multiplos finais. NieR e Drakengard são JRPG’s clássicos que necessitam de tempo e empenho do jogador para mostrarem completamente a que vieram. E eu te garanto, não decepciona. Aqui, jogo conta com 5 finais diferentes, sendo o último deles que o conecta diretamente com a sequência Automata.
Replicant não é um remaster ou um remake, segundo o próprio diretor, e sim uma versão atualizada retrabalhada e com extras do primeiro título lançado apenas no Japão. No ocidente recebemos a versão adaptada para o público alvo, com alteração de protagonista, gameplay mais dinâmico focado na ação e trilha sonora contundente. A repaginação é a primeira vez que temos a oportunidade de conhecer a história original como ela deve ser contada.
A jogabilidade em muito lembra Automata, grande responsável por tirar NieR das sombras dos grandes jogos japoneses da geração passada. Entretando, o problema em subir escadas e pescar foi mantido. A trilha sonora é impecável, assim como a original, e temos a opção de jogar ao som que embalava Automata, memorável por si só.
O modo de combate atualizado trás mais fluidez, e é o ponto chave que te faz querer explorar mais e mais apesar de não ser o foco da narrativa. Você se vê querendo combater os Shades, assim como quer descobrir mais e mais sobre o protagonista Nier e sua irmã.
A narrativa, brilhante como sempre, nos coloca em situações devastadoras e tocantes. Nos mostra o pior lado dos seres humanos, no combate eterno contra o nosso próprio lado sombrio. Porém, ela também é o ponto chave para afastar jogadores.
Extensa, por vezes aparentando ser rasa demais e até meio boba, é nesse ponto que muitos abandonam o game. Mas não se deixe enganar, Taro é uma pessoa deveras inteligente em seus roteiros. Todas as concepções, achismos e spoilers que a história te dá de bandeja, possui camadas de intenções e informações que só farão sentido lá na frente.
Entretanto, mesmo que em 2021, o jogo faz a piada mais suja e de mal gosto que já vi em um jogo até hoje. Kainé, uma das protagonistas do jogo, é interssexual e possui uma história e posicionamentos interessantes na história principal. Por conta de traumas de infância, Kainé não te acompanha dentro das vilas, com medo de ser atacada e prefere acampar fora dos limites das cidades. Isso, por si só, manteria o jogo em alto nível de comprometimento. Vejam, lançar um jogo em um país conservador como Japão e ainda manter a característica de um dos personagens principais como interssex, é uma ação deveras corajosa. Mas a responsabilidade e visibilidade que isso trás, faz com que a história e a personagem sejam tratadas com respeito. Mas colocar um troféu que premia o jogador que olhar 10 vezes sob o vestido dela, está beeeem longe disso. Daredevil, o nome do troféu que você precisa se quiser platinar o jogo, é sobre a ação “você arriscou sua vida e espiou 10 vezes para descobrir o segredo de alguém”.
E vale ressaltar que até hoje, mais de 10 dias após o lançamento oficial do jogo, não foi lançada uma atualização para retirada desse troféu.
NieR Replicant entrou na lista dos meus jogos favoritos quase que instantaneamente, sendo eu mesma uma grande fã de JRPG’s clássicos, mas dizer que minha nota não foi influenciada pelos erros do passado sendo cometidos no futuro seria mentira. Ele seria facilmente um 9/10 ao meu gosto, mas hoje ganha um 7/10 por toda a composição em torno do erro grosseiro e infeliz. Espero que a Square Enix realmente pense em toda a repercusão negativa do jogo, não só em questão de marketing, mas em questão de pessoas. Pessoas se sentiram ofendidas por essa piada, e essas mesmas pessoas merecem uma representatividade dignas nos games que jogam.