Levemente baseado numa HQ contemplativa de nome Sandcastle (Castelo de Areia), Tempo (Old) é um thriller com premissa super interessante, mas que peca ao tratar o espectador como burro e não nos dá tempo (que irônico) pra questionar e tentar adivinhar o que está acontecendo.
No filme acompanhamos principalmente a família Cappa (Gael Garcial Bernal,Vicky Krieps, Thomasin McKenzie e Alex Wolff), que passa férias em um resort “melhor do que Cancún” e recebe o convite de conhecer uma praia restrita junto com um seleto grupo de hóspedes.
Tarde demais, se veem presos lá, e descobrem que o tempo corre muito mais rápido, cada meia hora equivale a 1 ano, mas desmaiam sempre que tentam fugir.
O trailer (para quem assistiu) já entrega tudo isso, inclusive entrega demais, mas é sufocante. Dá vontade de assistir ao filme. E nesse ponto, está tudo bem. O problema é o filme em si…
Um recurso de roteiro é apresentar pistas ao longo da trama pra que o espectador vá deduzindo o que pode ser o final. Isso se faz delicadamente. Houve uma tentativa aqui, mas os diálogos forçados meio que entregam todas essas as pistas. E nada soa natural.
E não me levem a mal, não é má atuação…o elenco desse filme é EXCELENTE (que inclusive conta com Gael García Bernal). Só foram dirigidos pra serem forçados. Quase uma novela mexicana, mas com diálogos pobres que se acham espertos.
Junto à família Cappa, estão outros casais, compostos por médico, enfermeiro e até uma mulher com convulsões frequentes. Além da tensão com a rápida passagem do tempo, eles envelhecem e problemas de saúde e psiquiátricos crescem rapidamente. Isso gera mortes e situações que dão nervoso.
A câmera está quase sempre em movimento… Ângulos bem fechados são muito utilizados para tornar sutil o envelhecimento e sempre nos deixar sem ver completamente o que está acontecendo. Notar isso me fez querer muuuuuuito ver esse filme (na verdade, uma adaptação melhor do quadrinho) na mão do Ari Aster (diretor de Hereditário e Midsommar). Uma cena em particular me fez pensar muito em Midsommar e uma melhor execução.
Faltou mostrar um sanguinho.
O desenrolar final é até interessante, muito diferente da HQ, mas que também gera um questionamento. Só fico triste porque foi perdido o momento de finalizar o filme e tem uns 10 minutos a mais que me fizeram sair extremamente irritada do cinema. Explica menos, tio Shyamalan, deixa a gente saborear mais. Quero ver de novo com a minha namorada só pra ver ela se irritar com as partes médicas.
Ainda assim, Tempo é um filme legal de assistir em grupo, rir de algumas partes e ficar com raiva de outras. Não vai te fazer pensar muito, mas é um divertimento legal com pipoca. Só não é nem de longe uma obra prima. Vá sem grandes expectativas.
Tempo está em exibição nos cinemas.
*O Cabana do leitor foi convidado pela Universal Pictures para a cabine de imprensa do filme Tempo, uma sessão reservada a jornalistas e que cumpriu rígidos protocolos de segurança.