Vício Inerente tem excelente produção e enredo intrigante
Vício Inerente é uma adaptação do romance homônimo de Thomas Pynchon, dirigido por Paul Thomas Anderson. A produção é ambientada no início dos anos 70, na Califórnia, e acompanha Doc Sportello (Joaquim Phoenix), um hippie que trabalha como detetive. Muito bem produzido, o filme recebeu duas indicações ao Oscar (Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Figurino), tem grande elenco e boa concepção técnica, mas seu principal problema é o enredo confuso.
O detetive trabalha em três casos: a pedido de sua ex-namorada, Shasta Fay (Katherine Waterston), investiga o sumiço do magnata Mickey Wolfmann (Eric Roberts), de quem ela é amante; depois é contratado por Tariq Kahlil (Michael Kenneth Williams) para procurar o ex-presidiário Glen Charlock (Chritopher Allen Nelson), que lhe deve dinheiro; e ainda tenta encontrar Coy (Owen Wilson), marido de Hope Harlingen (Jena Malone). Vício Inerente é sobre esses personagens, a forma como suas vidas se cruzam e como estão conectados. Isso torna a história muito interessante, mas é o que também a faz caótica: a cada momento surgem novos personagens, ligados a outros, mas que aparecem pouco. O público pode facilmente se confundir e se perder.
Um dos pontos altos, o excelente elenco conta com grandes nomes do cinema. Embora a maioria deles apareça por poucas cenas, são espetaculares e conseguem dar vida aos mais diferentes tipos de personagens: hippies, drogados, traficantes, roqueiros, detetives, magnatas. Phoenix interpreta o protagonista brilhantemente, faz o público rir e ainda consegue transmitir bondade e todas as incoerências deste detetive. Doc é um anti-herói, mas o filme não revela totalmente sua personalidade; essa tarefa fica para o espectador.
A atuação de destaque, porém, é a de Katherine Waterson. Como Shasta, não aparece muito, mas traz a cada cena um estilo diferente, consegue ser dramática e sexy, mantendo o ar de mistério da personagem. Para completar, a cantora Joanna Newsom, que aparece em como uma amiga do detetive, mostra muita competência ao narrar toda a loucura da trama. As escalações são, certamente, um dos segredos para o sucesso da produção.
A equipe criativa também é muito eficiente, caprichosa e atenta a todos os detalhes. O cenário, a fotografia de Robert Elswit e os figurinos de Mark Bridges (vencedores do Oscar, respectivamente, por Sangue Negro e O Artista) dão um show à parte, capturam toda a essência da época e do lugar e transportam o público para as situações. A trilha sonora, composta por Jonny Greenwood, da banda Radiohead, além de complementar os outros elementos, criando uma atmosfera hippie, traz uma música inédita do grupo (Spook).
Paul Anderson é um cineasta complexo, com grande talento e inteligência, e Vício Inerente reflete isso. Combina humor negro, violência, sexo e sátira a filmes de investigação. O longa é exaustivo, em certo momento parece se arrastar, mas é porque exige do espectador, tem muito conteúdo e não entrega todos os fatos. A medida em que se desenvolve, a narrativa se torna mais complicada. É uma obra para aqueles que gostam de ser desafiados com histórias intrigantes e instigantes.