Hoje está rolando uma pequena discussão na internet sobre os malefícios da dublagem, especificamente a brasileira, meio absurdo não? Porém, ao invés de debater os argumentos sobre o artigo que um famoso crítico de cinema postou sobre o assunto, entendi que talvez fosse melhor colocar minha experiencia pessoal no assunto.
Não é preciso ir muito longe, temos grandes dubladores no cenário do Brasil, a dublagem brasileira já foi amplamente elogiada no mundo inteiro, mas quando tornamos assuntos mais íntimos, na minha visão, tendem a ser mais esclarecedores.
Minha avó tem mais de 80 anos de idade, ama ver filmes, sai para todos os lugares possíveis, porém nunca vi ela ir ao cinema, mas se um dia ela quisesse ir, e por exemplo, um ministro da cultura elitista, decidisse que todos os cinemas deveriam exibir filmes legendados porque entende que algumas pessoas “tem preguiça de ler” minha avó estaria obrigada a ver filmes pelo DVD ou pelo Netflix, porque a ela foi negado o direito de ir em um local cultural chamado, CINEMA.
Aliás, as cabines de imprensa que antes eram ocupadas por intelectuais de alto nível acadêmico, acabou por ser tornar um local que criadores de conteúdo independentes (incluindo o Cabana do Leitor) tem acesso. Porém, para cada avanço conquistado, alguém vai ser contra.
Existem vários tipos de monopólios, o capitalismo incentiva o monopólio econômico, mas existe o monopólio cultural também e uma parcela grande de pessoas que figuram como intelectuais de diferentes frentes, não são muito a favor de uma maior distribuição cultural.
Quando um mecanismo adotado passa a facilitar a maior distribuição da arte, da cultura ou do conhecimento, as elites intelectuais (as vezes apoiadas por pessoas que detém o poder econômico) são primordialmente contra.
Vamos na história, quando a biblia era apenas de acesso a uma determinada classe social na idade média, esta elite controlava todos os aspectos religiosos e culturais da população. Através do maior acesso das pessoas ao livro tido como sagrado, as revoltas e discordâncias passaram a ser refletidas pelas pessoas. A Biblia Sagrada hoje tem suas traduções para praticamente todas as línguas da terra, hoje ninguém pode dizer que não tem acesso a biblia, ela é de acesso de todos.
Da mesma forma vejo a dublagem, ela facilita o acesso a cultura, e dar o direito de escolha que as pessoas possam ver seus filmes na Netflix ou no cinema, por exemplo, no caso da minha avó querer ver algum filme no Cinemark. Agora, porque a Dona Maria (minha avó, que tem dificuldade de leitura) não pode ver o filme onde ela quiser?
Vale ressaltar que, considerando o papel de cada profissional em uma engrenagem relativa à cultura, posso destacar que o cinema pode viver sem o crítico, e sua intelectualidade cinematográfica, mas o cinema teria um grande golpe sem a dublagem.
O crítico é uma figura intelectual, grande conhecedor e estudioso da arte do cinema, mas ele não tem o papel de estabelecer o que é importante ao outro ou como o outro deve ter acesso a arte.
O dublador (a) tem uns dos papeis mais nobres da sociedade, o profissional que leva cultura aos lares e aos cinemas de milhares de pessoas. E o profissional que muitas vezes sai de casa de manhã, e volta a noite porque tem dois empregos, muitos fazem por amor, não por dinheiro, porque é bem difícil ficar rico (não conheço um dublador que seja) fazendo dublagem. Então a questão não é dinheiro (talvez para algumas pessoas apenas se trata disso), mais o amor pela sua arte.
Nunca vi em discussão de amigos e algum deles dizendo “quero ser dublador porque quero ficar rico” pra falar a verdade, acredito que nem voce deve ter ouvido, porque ser dublador é uma vocação.
Talvez do alto dos apartamentos da elite que odeia dublagem (e outras coisas mais) não seja possível ver, mas o cego e os analfabetos devem ter seus direitos garantidos, não tornando o cinema um recanto intelectual e elitista como já foi, mas aberto e amplo como ele já é.