As comédias passaram por vários altos e baixos durante as décadas, tanto nas mudanças de fórmulas e estilos de filmes quanto de prioridade de produção e bilheteria deles, Que Horas Eu Te Pego? Tenta fugir deste meio.
De 1980 a 1990 vimos uma certa predominância em comédias puxadas pro estilo romântico – as famosas rom-com’s – e no final de 1990 aos anos de 2010 vimos outros dois subgêneros crescendo ao lado das comédias românticas: besteirol e pastelão.
Entretanto assim como as rom-com’s, as comédias besteirol e pastelão perderam a força por motivos sociais e econômicos, visto que que a sociedade mudou muito em cerca de 10/20 anos e o jeito que esses subgêneros retratavam as piadas não agradou mais o público da mesma maneira como antes, em consequência bilheterias foram despencando e Hollywood não via mais motivos de valorizar o gênero.
Que Horas Eu Te Pego? é uma mistura dos três subgêneros e conseguiu atingir a expectativa uma vez que existia um certo tipo de consenso que as comédias que tentam fazer ultimamente não são boas como as clássicas de anos atrás. É um filme bobo, positivamente falando, do jeito e na fórmula que agradou o público do gênero no passado. Uma digna comédia de cinema.
Sendo um filme besteirol nos tempos atuais, o roteiro demonstra um certo cuidado e ao mesmo tempo ousadia ao colocar certas pautas sociais nas piadas e diálogos, podendo gerar uma interpretação errônea vinda do público, mas Gene Stupnitsky (diretor e roteirista) e Jennifer Lawrence (produtora) conseguiram dar a volta por cima e tornar as certas cenas engraçadas. Por outro lado, não há nada de errado em filmes que queiram provocar discussões e posicionamentos políticos e sociais, e, querendo ou não, os diálogos e algumas piadas do filme despertaram reflexões sobre o assunto.
Além disso, o filme em si teve o seu casal com química, um clichê e cenas previsíveis, e não há nada de errado nisso também, prever o enredo de uma comédia romântica não a torna chata, apenas reconhece que é popular. Ultimamente é muito visível a valorização de filmes de drama que não expõem de cara o contexto todo. E a previsão de um desfecho foi algo que esse filme conseguiu surpreender.
Que Horas Eu Te Pego? conseguiu encaixar os momentos dramáticos um minuto após uma cena engraçada de forma sutil e descontraída (ou você ria muito ou chorava muito), com um desenvolvimento dos personagens da mesma forma, e, mesmo não sendo personagens com construções tão profundas, restou aos atores e ao cineasta transmitir tudo isso, e o resultado foi tocante.
Tudo no filme foi desenvolvido com naturalidade. Mesmo retratando a nudez, que foi um pouco sexualizada (já é meio que um padrão em certas comédias), porém bem pensada.
Apesar da crítica especializada ter sido negativa em relação ao filme, com 67% de aprovação, o público reagiu de forma bastante positiva dando 87% de aprovação.
Ao todo, o filme foi uma válvula de escape cômica que conversou com o público de maneira divertida e leve, fazendo esquecer problemas de fora das salas de cinema e trazendo um pouco de cada geração. Das clássicas comédias românticas dos anos 90 e 2000 aos coming of age da última geração