Dirigido por Damien Chazelle (La La Land), Babilônia segue grandes atores do cinema mudo no final da década de 1920, justamente quando o cinema passa a ser falado. Em 1926, o imigrante mexicano Manny, ajuda a transportar um elefante para a festa do executivo da Kinoscope Studios.
Lá, conhece a atriz Nellie LaRoy e também a atriz Jane Thornton. Durante a festa, Manny passa a ver outros atores em suas versões menos glamorosas. Nellie acaba sendo recrutada para substituir Thornton na Kinoscope e rapidamente começa a ser a nova “it girl” de Hollywood, aparecendo em inúmeros filmes e sendo a mais amada.
Manny também não é esquecido, ele consegue rapidamente ultrapassar atores mais consagrados com a chegada dos filmes falados, já que muitos outros não conseguiram se adaptar à nova mudança. Já Nellie, mesmo sendo uma das atrizes mais famosas de Hollywood, acaba se virando para as drogas com as altas demandas de seus produtores.
Quando pensamos em cinema, automaticamente pensamos (ou quase) em Hollywood. A capital do cinema é uma imagem quase única da produção audiovisual no mundo, sendo lembrada por ser repleta de estrelas, obras clássicas e muitos sonhos em cada calçada. Sendo um local que atrai turistas e sonhadores que buscam alcançar seus objetivos, a romantização de Hollywood e seu símbolo para a sétima arte começou na famosa “Era de Ouro”, nos anos de 1920 a 1960.
Babilônia é ambientado nos loucos anos 20 e o que se esperava era algo focado na tal “Era de Ouro” tanto de Hollywood quanto do cinema da forma mágica que sempre imaginamos e que sempre foi retratado muitas vezes pelos próprios estúdios. E não foi nada disso.
Realmente teve-se a representação da sétima arte, a transição do cinema mudo para o falado e as chegadas dos musicais, mas recebemos muito mais que isso. Uma sensação de revelação. E é essa a revelação que Chazelle em Babilônia queria retratar: uma Hollywood cruel, cheia de oportunismo, hostilidade, ganância e sonhos frustrados.
As loucuras em excesso, a mistura de cenários e quase todos os gêneros do cinema passando na tela pra dar o ar das graças (como ação, comédia, romance e drama). Chazelle retratou a realidade do tempo em que se passa em um ritmo e trilha sonora um pouco mais frenética e contagiante do que vimos em seus outros filmes, com jogos de câmeras estratégicas na finalidade de fazer o público ficar inteiramente concentrado na narrativa em relação aos acontecimentos a fim de tornar todas aquelas cenas um grande objetivo.
Embora certas marcas registradas da direção de Damien surgissem um momento ou outro, é quase impossível reconhecê-lo. Simplesmente tire a ideia de um Damien Chazelle de Whiplash ou La La Land. (no bom sentido).
Em Babilônia o desenvolvimento dos personagens é algo muito satisfatório de se assistir. Com certeza suas histórias contadas foram um grande sinal de uma perfeita combinação chamada roteiro e atuação. É fácil se apegar e se emocionar com cada um deles, mesmo com seus defeitos muito explícitos e explicados, consegue compreendê-los. A perda de um e de outro era tocante, porque é possível sentir a dor que sentiam, diante de todo aquele cenário de que tanto o cinema quanto seus sonhos e suas conquistas estavam desmanchando para eles.
E essa foi outra característica perceptível sobre a indústria cinematográfica: é muito fácil realizar os seus sonhos e torná-los seus próprios pesadelos. São descartados no momento em que não os acompanha nas mudanças do novo mundo audiovisual, como a entrada do cinema falado e a dificuldade de Jack Conrad de manter o seu sucesso e seu destaque.
Além do galã, temos a aspirante a atriz Nellie LaRoy que mesmo conseguindo seu estrelato, também não conseguiu se adaptar às mudanças tecnológicas, e além disso teve que participar do treinamento moralista em meio ao seu vício com drogas e jogos de azar. Continuando, temos Manny Torres, um mero faz tudo de estúdio para estúdio e que sonha trabalhar com a magia que o cinema é para ele, e quando finalmente alcança seu objetivo, acaba se perdendo por fazer escolhas erradas.
Por fora desse núcleo, tem-se o trompetista Sidney Palmer e a cantora de cabaré Lady Fay Zhu, que acabam chegando ao seu estrelato também, mas são indiretamente rejeitados pela indústria conservadora e aspirante a moralista por ser um homem negro e uma imigrante chinesa lésbica.
Quanto a mudança de cenários, percebe-se uma mudança drástica com o passar dos anos, em que antes Hollywood não continha censura e tinha seus escândalos e depravação em excesso a mostra, e depois de um tempo toda essa decadência foi deixando de existir ou sendo feita escondida por baixo dos panos da capital do cinema.
Quanto maior o sucesso, maior eram as tentativas de criar uma imagem conservadora e mágica da vida estadunidense, tanto por motivos morais quanto por outros como fome e desemprego na Grande Depressão. Era a fuga da realidade em forma de entretenimento, otimismo e lucro. O chamado “American Way Of Life”.
A fotografia também remete bastante à realidade em Babilônia, com cores quentes em uma visão que costumávamos ver em preto e branco, adicionando-se a uma visão suja, encardida e imunda, retratada no sentido literal de toda a história.