Em seu lançamento em 2022, a série Halo gerou grandes expectativas ao trazer para as telas a épica franquia de jogos do Xbox. No entanto, ao final da primeira temporada, a produção recebeu diversas críticas devido o seu distanciamento do lore da saga e pelo ritmo insoso – mesmo com algumas cenas de ação interessantes, um elenco e direção de arte impecáveis.
Agora, com o segundo ano disponível em sua totalidade pelo Paramount+, a dúvida que fica ao expectador é se Halo ainda está neste curso ou se os produtores adotaram uma nova rota, corrigindo o que os fãs e seus críticos diziam ser necessário.
A resposta é que – para o bem e para o mal – a série se consolida ainda mais como algo distinto do universo que o inspirou. E isso não é algo que soaria ruim, se a produção atingisse completamente os ambiciosos objetivos que estabelece ao longo dos episódios.
É fato que Halo chega muito melhor nesta segunda temporada, apresentando de forma impressionante os riscos envolvidos e entrega uma ação cuidadosamente coreografada e empolgante. A trama se mostra muito mais ameaçadora, enfraquecendo cada movimento dos Spartans e infundindo cada conflito com uma sensação eletrizante de momentos “à lá Game of Thrones”. Aqui, todo personagem – com a exceção de Master Chief, obviamente – parece dispensável, o que é positivo junto ao expectador.
David Wiener, novo showrunner de Halo, introduz essa inquietação desde cedo. Seis meses após o ataque dos Spartans a Raas Kkhotskha, uma emboscada do Covenant (agora muito mais intimidador do que na primeira temporada) sinaliza uma ameaça maior. Master Chief alerta para o perigo, mas seus apelos são ignorados pelo alto escalão da UNSC, aqui personalizado mais uma vez na almirante Parangosky (Shabana Azmi). Quando os avisos de Chief se concretizam em uma batalha de vida e morte, a produção alcança o seu ápice.
O problema aqui é que a temporada, no fim das contas, não leva a lugar nenhum. A narrativa enxuta proposta por Wiener trouxe uma escalada mais rápida e brutal que sua antecessora, e embora todas as sequências de ação sejam muito bem feitas – com destaque ao quarto episódio – a falta de conexão emocional com esse universo prejudica cenas que deveriam ter um forte impacto junto ao público. Fora que a segunda metade da temporada é mais confusa e impessoal que a primeira. Embora imprevisível, nada do que acontece em tela deixa uma impressão duradoura.
Nota-se… Isso não ocorre por falta de esforço. Personagens morrem em Halo, há plot twists interessantes ao longo da trama, mas quase não se sente um apelo emocional. Um claro exemplo disto é a sequência de um funeral que ocorre na metade da temporada: a cena não causa impacto algum no expectador, uma vez que o personagem em questão não foi devidamente desenvolvido. O que se viu foi mais uma peça no jogo do Master Chief contra a UNSC, o que ilustra bem o que a série apresenta de potencialidade disperdiçada.
E mesmo com alguns problemas pontuais, o elenco não é um problema em Halo. Personagens como Kai (Kate Kennedy) e Ackerson (Joseph Morgan) se destacam positivamente, mas poderiam ter um desenvolvimento maior. A adição de Morgan à história em andamento foi interessante, mas o problema é que seu personagem não recebe oportunidades suficientes.
Neste quesito, Halsey é a personagem mais bem aproveitada, com Natascha McElhone entregando uma interpretação impressionante. A série inteligentemente a mantém como o eixo para muitas dinâmicas de alguns personagens, e grande parte do crescimento que vemos em seus pares e colegas acontece como resultado direto de sua rigidez. No meio disso, McElhone flutua sua atuação entre a simpatia e a aversão, dando a Halsey uma aura instigante.
Quem merece destaque também é Pablo Schreiber, muito mais à vontade na pelo do protagonista Master Chief. O ator consegue extrair de uma narrativa confusa uma interpretação convicente que, somado ao seu carisma e sua presença magnética, traz toda imponência – e, ao mesmo tempo, todo o conflito interno – que o líder dos Spartans carrega em seus ombros.
Resumo do Review
A realidade é que sim, a segunda temporada de Halo é mesmo um avanço em relação à primeira, só que a incapacidade da produção e roteiro em gerenciar suas muitas tramas e a falta de empatia prejudicam seu potencial. Com um enredo disperso e uma direção muitas vezes sem rumo, a série mostra que não basta ter um bom casting e visual fiel para garantir uma atração de qualidade.