Ilha dos Cachorros é uma animação em Stop Motion que conta a história sobre cães que foram isolados numa ilha por uma lei aprovada pelo prefeito da cidade (Kobayashi) que supostamente queria livrar o seu povo das doenças desses animais. Com isso, nós acompanhamos um grupo de cachorros tentando sobreviver em uma ilha de lixo no Japão. Até que em dado momento, um garoto (Atari Kobayashi) aparece para encontrar e resgatar o seu amado cão.
Enquanto você assiste o filme, muitas sensações passarão pelo seu corpo. Isso é devido à extrema competência do diretor em transitar entre comédia e drama. O humor característico de Wes Anderson (O Grande Hotel Budapeste) faz com que fiquemos com um sorriso no rosto durante quase todo o filme. Assim como é impressionante ver a delicadeza em contar assuntos pesados como o drama de seres que sofrem do abandono e a sobrevivência em um local que é totalmente feito de lixo.
Isso deixa claro que o roteiro dá um excelente suporte para a trama. Temos ótimos diálogos, uma boa estrutura com sacadas inteligentes tornando a aventura prazerosa; bons personagens que alternam bem, mesmo quando em locais e momentos distintos e um ambiente carismático que prenderá a atenção do público. O único problema seria com o esquecimento de alguns personagens quando o filme se encaminha para o final. Essas personas acabam perdendo função na trama.
Mas se tem algo que merece muito elogio é a estética de Wes Anderson. Toda a direção de arte, a fotografia e a qualidade do Stop Motion são de se aplaudir. Os cenários são muito bem construídos e ressaltam aos olhos devido à excelente fotografia que valoriza os planos abertos assim como o jogo de luz criativo que está intrinsecamente inserido à narrativa. A movimentação da câmera, totalmente inventiva, nos cativa também em prol da estética e do humor. E a execução do Stop Motion… como é lindamente fluido. É quase imperceptível que tem alguém movimentando fisicamente bonecos enquanto são fotografados. É, talvez, a máxima qualidade de uma animação em Stop Motion.
Mas os elogios não param por aí. O longa é muito bem composto em sua trilha sonora. Alexandre Desplat demonstra, mais uma vez, porque já recebeu dois óscares. Um por O Grande Hotel Budapeste e outro pelo recente A Forma da Água. Aqui sua trilha transita em harmonia entre humor, drama, tensão e momentos de ação. Tudo muito bem orquestrado, sem que um momento se sobressaia a outro.
Ilha dos Cachorros é uma fábula emocionante que homenageia o cinema oriental, principalmente de Akira Kurosawa, facilmente percebido com os planos abertos e a semelhança com os filmes de samurai. Extremamente cativante, o longa fará com que o público saia com um sorriso de orelha a orelha e pensativo quanto aos temas e os assuntos escondidos em suas camadas da história.