A biografia Palmares de Zumbi escrita por Leonardo Chalub, em parceria com Luis Matuto, dono das belíssimas xilogravuras, foi publicada em julho pela Editora Nemo.
Palmares de Zumbi conta a história do jovem Francisco, uma criança trazida da África pela política escravocrata e separado de seus pais ao chegar no Brasil. Graças a um padre, escapou de servir aos senhores donos de terra, virando coroinha e morando na igreja.
Certo dia, o menino organiza uma fuga junto à seu amigo Manuel, um jovem índio que é seu companheiro de quarto. Ambos fogem do lugar no cair da noite, felizes e libertos, até serem capturados e, seu parceiro de fuga, morto. A história de Zumbi, até aqui Francisco, só estava começando.
“A história mais intrigante que ouviu dos companheiros de senzala foi sobre os quilombos. Jamais havia ouvido falar da existência desse lugar onde os negros viviam livres, segundo suas próprias leis, guerreando contra aqueles que quisessem escravizá-los. Aquilo mexeu com a cabeça do menino, que passou a ver na fuga para um quilombo sua única chance de uma vida melhor.”
Tomado de uma responsabilidade, o autor recria de maneira bem especial, a trajetória da lenda por trás do dia da consciência negra. A narrativa vai desde sua infância até seu reinado, de modo a abordar outros temas, além do que normalmente se ouve ou se lê.
Repleto de cenas fortes, o livro requer um acompanhamento histórico-social, o que pode deixar algumas pessoas um tanto aflitas quanto aos tratamentos usados na época de linguajar agressivo. Isso de longe é algum tipo de crítica negativa, já que torna tudo muito próximo do público, que se sente na pele o que as vítimas passaram.
O que está longe do alcance dos leitores foi priorizado na literatura, é a imagem do menino Francisco, agora conhecido como nzumbi, que ajuda desde muito novo outros escravos à libertarem-se de seus respectivos “donos”.
“Os pés de Zumbi eram rápidos, e o homem não conseguiu se esquivar, por mais que fosse bem treinado. Os que estavam de fora zombaram, e o homem enfureceu-se, pegando um pedaço de madeira no chão e partindo com ódio para cima do Zumbi. Queria feri-lo a qualquer custo para salvar a própria honra, mas não conseguiu acertá-lo nem com o pau e nem com as mãos, tomando, por fim, um potente chute na barriga que o deixou sem ar e caído no chão.
A imagem de Zumbi como amante da capoeira é também muito bem retratada pelo autor, que aborda o tema como jamais se ouviu. Da paixão pela luta para uma grande habilidade utilizada para salvar seu povo, o ex-escravo passa a ser guerreiro de seu próprio quilombo. O rumo do livro é tomado pela ação nas batalhas de escravos versus senhores do engenho, saciando o leitor-espectador curioso, sedento por histórias nunca contadas, principalmente em detalhes.
A importância de Zumbi de Palmares está muito além do final de sua carreira. Sua jornada foi dotada de heroísmo desconhecido, mas aqui foi explorado. O livro de 170 páginas é dedicado a todos os brasileiros, sejam negros ou brancos, jovens ou adultos. A edição maravilhosa contém capa em relevo e algumas figuras durante a narrativa.