O 11 de setembro foi uma das mais terríveis manchas de sangue da história mundial recente. Um lamentável crime que deixou cicatrizes profundas no povo norte-americano e no mundo e é partir desse horrível evento que se inicia a trama de “O relatório” – detalhe para as palavras “de tortura” censuradas propositalmente em uma animação que mostra o título do longa – e que trata dos relatórios de inteligência de um controverso método de interrogatório da CIA à potenciais terroristas que é basicamente, tortura.
O protagonista da história é Dan Jones (Adam Driver), um assessor/investigador da senadora Dianne Feinstein (Annette Bening), que lidera uma comissão do senado norte-americano para investigar supostos abusos da CIA em operações e na obtenção de informações no Oriente Médio, cabendo à Jones entrar na Central de Inteligência e recuperar nos arquivos documentos que incriminem a Agência.
É difícil assistir “O relatório” e não fazer uma comparação, ainda que vaga, com “Conspiração e Poder” (2015), ambos baseados em fatos. Enquanto este último fala sobre a saga de uma equipe jornalística sofrendo pressão e tentando manter a credibilidade de uma reportagem que revelou uma possível fraude do então candidato à reeleição George W. Bush enquanto servia à Guarda Nacional na juventude e sofrendo sérias consequências por isso, em “O relatório” temos um Daniel Jones determinado em trazer a verdade à tona, não importando quanto tempo, pressão ou abandono enfrente durante a caminhada para conseguir o número máximo de registros e provas contra a inteligência americana, pesquisa essa que durou cinco anos. Adam Driver entrega uma ótima atuação, que consegue transmitir com muita clareza o estado de espírito do personagem – de mais um trabalho realizado à uma cruzada pessoal – , desde a ansiedade à raiva pelas coisas que descobre e o desejo cada vez mais sedento de que justiça seja feita.
A trilha sonora é quase imperceptível e, num gênero como esse, não muito relevante, já que o longa preocupa-se apenas em tentar transmitir os fatos da maneira mais verossímil possível, neste caso, o ponto de maior emoção é Jones que fica cada vez mais impactado com o desenrolar dos fatos e se encontrando em diversos dilemas. A fotografia também ajuda a transmitir essa tensão e a seriedade da trama apostando em cores frias e num contraste muito nítido no rosto do ator, muitas vezes tomado totalmente por escuridão, talvez uma alegoria ao seu estado mental depois de mais um dia garimpando informações. As cenas de tortura exibidas também são agoniantes, nada perturbador ou explícito, mas claro o suficiente para causar uma incômoda empatia.
A trama é bem escrita, há diálogos bem construídos e que ajudam o espectador a entender como funciona o jogo político, por vezes, trazendo uma mensagem de que, no mundo da política “a coisa certa nem sempre é a apropriada para o momento” e que a sede de justiça pode esbarrar em muitas burocracias governamentais, além de trazer à tona o ponto chave: numa guerra, os fins realmente justificam os meios?
Não espere explosões, tiroteios ou grandes reviravoltas, apenas um homem que descobre o que seu governo andou fazendo de errado e se esforça para fazer o certo. Muito embora um pouco antes do final, o roteiro comece a dar voltas em torno da mesma coisa, isso não torna a trama chata ou cansativa, mas é preciso ter um mínimo de interesse sobre política ou história. Para os fãs deste gênero e demais interessados “O relatório” é um prato cheio.