A Caçadora de Dragões, uma incrível fantasia literária, foi escrita por Kristen Cicarelli e publicada em 2018 pela editora Companhia das Letras através do selo SEGUINTE.
A protagonista dessa história é Asha, filha do rei e caçadora de dragões, uma iskari. Esse título lhe foi dado, pois, antes da morte de sua mãe, a menina tinha muitos pesadelos e a mesma lhe contava histórias proibidas que, segundo a lenda, atraia dragões que envenenavam quem as tivesse proclamando. Apesar desse mal, era essa a única forma de acalmar a pequena Asha.
Em um dia que a menina recitou uma das lendas em voz alta, Asha invocou Kozu, o primeiro dragão, que invadiu a cidade e incendiou todo o reino, inclusive a própria garota, que saiu do acidente viva mas com marcas pelo corpo e pela alma. Asha acabou carregando cicatrizes pelo corpo inteiro, lembrando ao reino que as histórias jamais devem ser entoadas.
“Havia uma garota que se sentia atraída por coisas amaldiçoadas, como histórias antigas e proibidas. Não importava se elas tinham matado sua mãe. Não importava se haviam matado muitos outros antes dela. A garota deixou que tomassem conta dela. Deixou que consumissem seu coração e a amaldiçoassem também”
Agora, já uma jovem mulher, sua missão era encontrar Kozu, como prometeu ao seu pai, e vingar seu povo. Entretanto, durante a busca pelo inimigo, algumas descobertas em cima de dúvidas que não se encaixam tomam o lugar do primeiro objetivo, e é assim que seus interesses sofrem uma reviravolta incrível!
O universo do romance é escravocrata, onde skralls não podem olhar, tampouco tocar nos draksors, que são seus donos. Mas nem sempre foi assim, já que tudo começou a desandar após as mudanças políticas e religiosas do reino, onde todos pararam de crer no Antigo e as histórias foram proibidas. Além desses dois povos existem os nativos. Eles discordam dos novos costumes mas tentam reatar os laços com o rei.
“Precisamos sofrer grandes dores para nos fortalecer contra a maldade”
Aparentemente o livro não revela a atmosfera sombrio que possui. A capa infanto-juvenil e a fantasia com criaturas mágicas escondem o quão bruto pode ser os conflitos da jornada da protagonista. As batalhas sanguinárias, tortura, machismo de um sistema opressor são lidos durante todo o livro. Temas políticos encaixados em um mundo fantástico são entregues sem corte pela autora.
”Ela deixou que os outros a definissem porque achava que não tinha escolha. Porque achava que estava sozinha, que não era amada”
Durante a leitura, histórias do Antigo e as lendas proibidas são intercaladas com as aventuras dos personagens, explicando assim os acontecimentos do presente e relacionando-os com os problemas de rivalidade do passado. É mágica a forma como Kristen consegue fazer isso sem que canse seus leitores, ao estender demais o número de páginas, ou sem que tudo vire uma grande confusão. A grande criação da autora conta com mitologia, formação social e uma religião própria…tudo isso sem furo e de maneira atraente e reflexiva. É uma leitura divertida ao mesmo tempo que é angustiante, o que se espera de uma trilogia excepcional.
O ponto mais forte do livro é, com certeza, a construção da personagem principal. Asha é uma princesa guerreira temida por todos de seu reino, mas, ainda que sagaz e destemida, o lado sensível é exposto em muitos momentos, como o drama de suas cicatrizes em frente ao espelho. A presença feminina forte, mas humana, traz proximidade às leitoras, que se inspiram enquanto também se reconhecem.
”Comecei a escrever este livro aos dezessete anos. Na época eu estava apaixonada por garotas como Mulan, Erwyn, Xena e a Princesa Mononoke. Queria desesperadamente histórias em que garotas usassem armas, fossem à guerra e demonstrassem valentia. Ainda não sabia, mas o que eu procurava eram mulheres rompendo um paradigma cultural que ditava quem e o que deviam ser. Estava cansada das narrativas em que as garotas eram retratadas como mais fracas, sempre vítimas. Eu não me via daquela maneira, tampouco as mulheres à minha volta”
AGRADECIMENTOS DE KRISTEN CICCARELLI
Apesar do romance, já contextualizado desde o primeiro capítulo do livro, A Caçadora de Dragões tem muito mais a oferecer. É uma história focada no poder feminino, com batalhas épicas, criaturas místicas e lendas emocionantes… Não tem como não se apaixonar e implorar pelo próximo livro.