Mangás shonen tem características muito frequentes. Todos os leitores de mangá estão acostumados com os personagens inspiradores, fortes e carismáticos. Claymore demonstra sua singularidade em suas primeiras páginas apresentando algo pouco comum, uma protagonista mulher chamada Clare. Inspirando força e confiança, a “bruxa do olhar prateado” já é apresentada com um traço reforçado e uma sombra misteriosa.
Norihiro Yagi, escritor e ilustrador investe pesado em demonstrar a força das mulheres em sua obra. Clare não é carismática como Goku, Naruto ou Luffy, porém é mais forte que todos eles no início de suas carreiras.
Na primeira aventura do mangá, nossa protagonista chega a um pequeno vilarejo onde um monstro causou uma série de assassinatos. O vilarejo não consegue solucionar o problema sozinho, já que estes monstros são extremamente poderosos e podem se transformar em humanos, se escondendo até sentir fome. As únicas pessoas que são capazes de diferencia-los são as Claymore, guerreiras de cabelos e olhos prateados, meio-humanas meio-monstro, que são treinadas por uma organização sem nome para caçar essas criaturas, funcionando como mercenárias. Dentro da organização, também é explicado que apenas mulheres podem se tornar Claymore, pois homens cedem rápido demais ao lado monstro.
Também somos apresentados ao jovem Raki, um garoto inocente que se fascina com a protagonista (enquanto os outros sentem medo). Raki serve no início da história como uma forma de explicar o mundo para o leitor, uma estratégia comum de roteiro. Esse jovem também é quem presencia a primeira ação de uma besta com seus próprios olhos, só sendo salvo por uma ação rápida de Clare. A contra gosto da protagonista, Raki se torna seu companheiro de viagem, e deste momento em diante acompanhamos os arcos de desenvolvimento destes dois.
Claymore utiliza de um traço bem singular de desenho, ambientes igualmente claros, simples com pouco uso de sombra e rostos pouco detalhados (as personagens em si tem diferenças claras, portanto os traços simples não incomodam). Porém os seus pontos fortes são as cenas de combate e o roteiro. As cenas de combate são bem desenhadas e passam uma ótima sensação de movimento, sem poupar momentos de Gore e violência.
Por sua vez, o roteiro brilha dentro de uma simplicidade inicial. O que começa com um desafio em usar seus poderes e habilidades sem ceder ao lado monstro, se desenvolve para uma belíssima história de sororidade. As guerreiras que começam demonstrando uma rivalidade feminina baseada na força, desenvolvem ao longo da narrativa uma amizade e respeito grande, perante uma instituição dominada por homens que as governavam.
A temática homem x mulher não é o que mais aparece, Yagi sequer cita isso diretamente, entretanto é visível que a opressão das guerreiras vem da lavagem cerebral induzida pela organização, que também as força a lutar entre si e esconde informações preciosas sobre seus próprios limites. Porém dá lugar para elas desenvolverem seus momentos de dor, frustração, raiva, e as vezes diversão e companheirismo.
Helen, Deneve, Clare e Miria se tornam um grupo muito unido, e talvez as personagens mais marcantes da obra. Além de poder, a amizade e os momentos que dividem trazem sentimentos diversos. Mas o amor pelas personagens é quase imediato. Ao chegar no final da obra, cada segundo que elas aparecem e seus desafios são intensos e dolorosos, porém o carinho que desenvolvemos por elas é indescritível.
Uma história que de forma simples e direta, passa a uma complexidade de sentimentos e personagens, dando sempre maior valor para as mulheres e seu local de fala nunca deixando de lado o combate, a velocidade e o poder. Envolvente e emocionante, este projeto não tão longo vale a pena cada página. Se preparem para uma ótima história.
8/10