É indiscutível o impacto da série Cosmos na popularização da ciência e, porque não dizer, na cultura pop moderna. Quando sua primeira edição foi ao ar na década de 80 com o comando do icônico astrônomo Carl Sagan, a atração nos apresentava fatos científicos e históricos no intuito de que, como seres humanos, pudéssemos valorizar toda vida presente em nosso planeta, para que assim, partíssemos em uma possível jornada aos confins do Universo.
Exatos 34 anos depois, uma nova temporada – agora conduzida pelo também popular astrônomo Neil deGrasse Tyson – foi produzida, agora agregando às palavras de Sagan toda a evolução tecnológica (e social) que tivemos nesse curto mas intenso período. Temas como aquecimento global, por exemplo, são abordados com dados ainda mais precisos.
Agora, seis anos após sua “reestreia” na televisão, Cosmos retorna à programação da NatGeo com novos episódios e em um momento crucial, onde a ciência e a verdade são vergonhosamente questionadas por parte da sociedade e alguns de seus líderes. Num período marcado pela ‘pós-verdade’, a produção reafirma que “é necessário resgatar o passado para entender onde estamos”.
Exuberância visual e conteúdo de fácil assimilação
Os efeitos especiais em Cosmos sempre foram um show à parte: eles colocam o espectador frente a acontecimentos espetaculares, sejam estes do tamanho de um átomo ou então com o poder da junção de dois buracos negros. Mesmo o ambiente mais imaginativo apresentado na série, somado a uma direção de arte impecável, tem em sua base elementos científicos que o sustenta, fazendo-o ainda mais crível aos olhos do público.
Outro ponto sempre presente na produção é a sua facilidade em comunicar pontos como física quântica, astronomia e biologia para uma grande massa. Da mesma maneira que Sagan, deGrasse Tyson tem a capacidade de transformar qualquer tópico mais complexo em algo extremamente palatável, de modo que qualquer criança possa vir a se interessar pelo conteúdo e, o mais importante, compreendê-lo.
Ao nos apresentar o calendário espacial – uma das exemplificações recorrentes da série, onde temos a história do Universo desde sua criação até a atualidade condensados em um calendário anual, em que cada dia representa 40 milhões de anos e cada mês mais de um bilhão de anos – Cosmos nos revela, de modo didático, à nossa insignificância perante ao tempo e espaço. Isso fica evidente também ao pontuar que, graças a uma simples alteração em uma escada de DNA, a nossa espécie se difere das demais no planeta. Tudo apresentado de modo claro, esteticamente arrebatador e de fácil assimilação.
Olhar o passado para construir o futuro
A série “é uma visão do futuro que ainda é possível se tivermos a sabedoria e a vontade de reagir e agir de acordo com o que os cientistas nos dizem”, revelou recentemente a produtora Ann Druyan, que desenvolveu Cosmos ao lado de Sagan há 40 anos. E isso fica claro em cada frame da produção: se utilizando de todos os seus recursos narrativos, ela nos apresenta visões do passado para que possamos projetar o futuro não somente da humanidade em si, mas como de toda vida no planeta. Ao nos transportar para o surgimento das primeiras comunidades, Mundos Possíveis nos faz lembrar como eles viviam e como viam o mundo – não havia moléstias como divisão de classes, por exemplo – nos provocando a questionar do porquê tal problema é presente na sociedade atual.
Somos ainda colocados como fator determinante dentro do ecossistema do planeta, principalmente se tivermos o conhecimento de que temos responsabilidade por grande parte dos danos causados nele. O seriado nos convida a refletir nossa relação com a Terra e seus habitantes – sejam estes do reino animal ou vegetal – por do Museu da Extinção, uma alegoria que ilustra todo aniquilamento que já houve na história do planeta. Na nova temporada, um novo corredor se apresenta, agora com as extinções provocadas pelo homem e que, se não controladas, podem extinguir ele próprio.
Ainda sim, Cosmos: Mundos Possíveis nos faz lembrar de que ainda somos capazes de criar uma real consciência do nosso papel no mundo e assim evoluir. Ao sugerir que daqui a alguns anos uma frota de “nanonaves” partirá do Deserto do Atacama rumo a Alfa Centauri – o sistema solar mais próximo do nosso – a mensagem da série se evidencia: apesar de todo percalço, há esperança (e potencial concreto) de que a humanidade se eleve. Mostrar as infinitas possibilidades do caminho que possamos percorrer sempre foi a premissa da produção, nos levando à reflexão ao final de cada episódio.