Fui convidado pela Paris Filmes para ver A Bailarina, estou mais acostumado a ver filmes da Pixar do que de outros estúdios de animação, e ao tentar sair deste hábito, confesso que minhas expectativas foram frustradas por esse longa-metragem, que apesar do bom potencial, deixou muito a desejar.
A trama se passa em Paris no ano de 1869 e traz uma menina órfã chamada Félicie, que decide fugir para a capital da França com o objetivo de realizar seu sonho: se tornar uma grande bailarina. Ao chegar lá, ela decide fingir ser outra pessoa até conseguir um número no Grand Opera.
A Bailarina já começa a apresentar seus problemas a partir do momento em que o espectador fica confuso quanto à época em que se passa o filme, e isso se deve à sua trilha sonora que não combina em nada com o clima do filme, ainda mais quando consideramos que balé se trata de uma expressão artística onde a música clássica é essencial. Para piorar, músicas pop são tocadas em momentos onde deveriam ter melodias de piano, mais comuns no balé, como por exemplo na apresentação que encerra o terceiro e último ato.
O roteiro de Carol Noble, Eric Summer e Laurent Zeitoun (nomes demais envolvidos nunca é um bom sinal) é dos mais rasos, especialmente por conta do fato de introduzir certos arcos e dramas pessoais de alguns personagens que são abandonados no decorrer da narrativa, como é o caso de Victor e seu desejo de se tornar um inventor. O mesmo pode ser dito sobre Camille, que começa como uma grande inimiga da protagonista e de repente vira sua amiga. Além do excesso de clichês, tudo parece acontecer rápido demais e sem substância alguma, principalmente a transição do segundo para o terceiro ato; algo que é agravado por uma montagem que parece ter cortado detalhes importantes (a duração ideal seria duas horas).
Outro tropeço reside na direção de Eric Summer e Éric Warin, que tenta modernizar demais um filme de época e chega a apelar para cenas exageradas de slow motion à la Zack Snyder. A fotografia não é nem boa nem má, despertando apenas indiferença. O design de produção consegue reconstruir bem o século 19, com arquiteturas clássicas e cheias de abóbodas e cores mais cinzas. As piadas são forçadas demais e repetitivas, como por exemplo o fato de Victor ser desastrado e bater com a cabeça em um sino o tempo inteiro.
No fim das contas, A Bailarina é um filme raso que poderia ter ousado mais nos temas que aborda, como a expressão artística que o próprio balé é. É uma animação esquecível e que não traz nada de especial ou novo, e o resultado não consegue gerar uma impressão nem boa nem ruim. É apenas um longa-metragem genérico e superficial, mas não chega a ser impossível de se assistir e nem a irritar o espectador.