Tivemos a oportunidade de participar da coletiva de imprensa internacional da Universal Pictures com a diretora Nia DaCosta, que está escalada para dirigir The Marvels da Disney, se tornando a primeira mulher negra a dirigir um filme da Marvel.
A entrevista foi realizada por vídeo com veículos de imprensa de vários países, contudo não foram liberados os vídeos das entrevistas, então trouxemos as transcrições das respostas por escrito.
Pergunta: Como foi a colaboração com Jordan Peele para a produção de A Lenda de Candyman?
Nia: Eu já conhecia Jordan anteriormente e gostava muito do trabalho dele, quando fui chamada para trabalhar com Candyman fiquei bastante empolgada e ele também adorou a ideia. Jordan acrescentou bastante e aprendi muito com ele durante a produção, ele é brilhante e ajudou o filme a se tornar melhor ainda.
P: Existem muitos elementos sociais explorados no filme, como foi equilibrar todos os elementos dentro da história?
Nia: De maneira bem objetiva, a história foi baseada em storytelling de eventos de terror e sobrenaturais e colocados sobre ângulos de vida real, com acontecimentos reais, como se o Candyman existisse no mundo real. Para mim, equilibrar todos esses elementos com a história de Candyman, que eu já era muito familiarizada, foi bem tranquilo, principalmente com os temas da comunidade que faço parte.
P: Contar a história do filme original como uma lenda urbana foi uma ideia de fazer uma referência ao invés de um flashback?
Nia: Eu e Jordan conversamos como seria ruim criar um flashback do filme original, então a ideia era que a história de Candyman passasse adiante como uma lenda urbana, contar a história de Helen Lyle foi justamente para manter essa ideia.
P: O que te levou a utilizar Cabrini Green como cenário para esse filme, falar sobre gentrificação fazia parte da ideia inicial?
Nia: A ideia era utilizar um local com um passado conhecido para conectar a história, e a população de Cabrini está desaparecendo do local, por isso queríamos falar o que ficou para trás, por isso a ideia de utilizar a gentrificação como parte do roteiro.
P: Como foi a experiência de fazer um filme com um assassino no espelho que não estava em cena?
Nia: Foi bastante difícil, criar padrões e cenas onde conseguíssemos mostrar como ele estava agindo ou atacando mesmo que ele não estivesse visível o tempo todo, mas isso deu um bom tom de terror à história. Adoro quando a audiência fica apreensiva para saber onde o assassino pode estar.
P: Candyman é um conto muito famoso, foi difícil trabalhar com algo desse tamanho? Você chegou a assistir o original para a produção?
Nia: Com certeza, eu reassisti o original, mas era um filme que eu sempre gostei. Sempre falo isso com os amigos, fiquei muito feliz ao saber que ia fazer um filme de Candyman e ainda ter como produtor Jordan Peele, tudo isso foi muito positivo para mim. As pessoas no estúdio me lembrava que as pessoas, a internet se importa muito com o personagem e eu estava agindo como uma fã.
P: Você acha que o Candyman é um monstro? O que ele representa para você?
Nia: Ele é um monstro, de fato. Mas ele acaba tendo uma visão de anti-herói e como ele é apresentado na história faz com que as pessoas o vejam de maneira diferente. Mas tentamos desconstruir essa ideia de monstro e que as pessoas o julgassem como uma criatura viva e decidissem quem é o verdadeiro vilão.
P: Como foi encontrar esse maravilhoso casting? Você já tinha em mente pessoas para atuar ou começou a buscá-las de alguma maneira específica?
Nia: Eu inicialmente pensei na Teyonah Parris, o estúdio me apoiou de começo, eu sempre quis trabalhar com ela. Já o Yahya foi graças ao contato de Jordan Peele, eu sabia que ele era talentoso e adorei poder chamá-lo. Colman Domingo é um grande ator, todos adoramos ele, lendo sobre o personagem conseguia imaginar Colman nesse papel. Fiquei muito feliz que todos disseram sim.
P: Sobre o visual do filme, como foi trabalhar com todos os espelhos, janelas e coisas reflexivas para o Candyman aparecer?
Nia: Eu e Cara Brower, a diretora de fotografia, fazemos um ótimo trabalho juntas, também estaremos juntas em The Marvels, para esse filme ele pegou minhas referências e colocou na mesa ótimas ideias para trabalharmos, como reflexos e espelhos, então buscamos lugares que pudessem nos apresentar esse tipo de exposição. Então visitamos Chicago e buscamos todos os tipos de lugares em que nossas ideias pudessem estar em ação.
P: Você já conhecia o Candyman clássico, para esse reboot quais coisas você quis manter e quais você preferiu adicionar?
Nia: Sou muito fã do original e cheguei a assistir as continuações quando mais velha, então quis manter a “natureza romântica” do Candyman, essa ideia de ser um anti-herói negro e como essa história era contada. Acredito que essa foi minha maior inspiração.
P: Muitas pessoas dizem que quando se grava um filme de terror coisas estranhas acontecem. Teve alguma história assustadora durante a produção?
Nia: Sim, estávamos em Los Angeles durante a pré-produção e na casa onde todos trabalhávamos, do nada ouvimos zumbidos de um enxame de abelhas, mas não encontramos de onde vinha, então fechamos todas as janelas e portas correndo para evitar as abelhas, mas não chegamos a ver uma sequer. Ficamos perguntando de onde isso teria vindo e nos pareceu bastante sobrenatural.
P: Você já chegou a falar Candyman cinco vezes em frente ao espelho?
Nia: Não, nunca. Nunca quis tentar.
P: Apesar de ser um filme de terror, Candyman parece ser uma carta de amor às pessoas negras, como suas experiências afetaram como escreveu e como você vê Candyman?
Nia: Acho que consigo ver tudo através dos olhos da Brianna, com o trauma que ela passa, como o ceticismo de acreditar no Candyman vai se desenrolando e perseguindo ela, destruindo a vida dela. Eu me vejo passando por situações pessoais similares com a Brianna, então acho que foi nisso que me inspirei.
P: Como foi a produção das músicas do filme, todo filme de terror tem músicas bem marcantes?
Nia: Robert A.A. Lowe pensou em músicas tensas como em todo filme de terror, também pensou na versão tema do filme como uma caixa de música, isso foi um presente para mim, que achei arrepiante e perfeita para o filme. Acho que ele conseguiu entregar um ótimo trabalho que combinou perfeitamente com o filme.
P: Não ter violência muito visual foi uma escolha para deixar a violência subjetiva?
Nia: Foi um equilíbrio que quis trazer, eu adoro gore, mas acho que o filme pode ficar mais assustador quando você não vê o que está acontecendo ou quando as coisas acontecem não diretamente em cena. Um filme de slasher normalmente vemos a cena de pessoas sendo dilaceradas, mas ver essas cenas menos visuais deixam o filme mais tenso.
P:O que podemos esperar de Candyman?
Nia: O inesperado.