“Quando tudo é estupro, fome e guerra… Bem, então só há uma coisa certa a se fazer (…) você deve SORRIIIIIRRRR” pelo menos esse é o conselho do maior piadista de Gotham, o Coringa.
Se ele está certo eu não sei, mas ele faz as pessoas sorrirem por bem ou por MAL, inclusive o Batman.
A Piada Mortal, Graphic Novel quase clássica e histórica escrita e ilustrada por Allan Moore (Watchmen, V de Vingança) e Brian Bolland, marcou o universo DC e enlouqueceu os fãs, traz inúmeras reflexões sobre a loucura, o conceito do “homem comum”, questiona a vida perante a insanidade e aborda o existencialismo. Enquanto a história percorre os quadrinhos, nos é apresentado profundamente a origem do emblemático Coringa, bem como as maldades terríveis que ele é capaz de cometer apenas para provar um argumento; mas de um jeito fascinante, podemos notar que a psicose e o sadismo apenas tomaram conta de um cara que teve “um dia ruim”. E não quero simplificar e nem justificar, mas existe um lado humano que vai além de heróis e vilões e é importante quebrar esse estereótipo.
A história é simplesmente incrível! E nos envolve em uma nuvem de mistérios. Prende o leitor do começo ao fim, e ao mesmo tempo o arrepia com as maldades do Joker, se deixando cativar pelas suas falas carregadas de sentidos obscuros e ideias fortes. Acompanhamos a luta de Batman não apenas para combater o crime, mas para combater essa obsessão que o persegue, talvez tentando romper a linha tênue que separa a sensatez do descontrole, dois personagens bem construídos e impactantes; e Gordon sempre com seu enorme senso de justiça tentando respeitar os seus valores éticos e morais. Tudo isso se compila em páginas de tensão e aventura.
Quem leu sabe que, apesar da simplicidade que uma HQ carrega, ao mesmo tempo ela tem um peso surreal, te fazendo pensar e refletir, ela te conecta com os personagens. Você sente e compreende de alguma forma aquele conflito incessante entre o certo e o errado, o amor e o ódio, a loucura e a sanidade. Os diálogos são excelentes e enquanto quadrinho, podemos afirmar que ela excede o nível do esperado.
Finalmente a DC comics decidiu adaptar A Piada Mortal e transformá-la em um desenho animado que foi exibido nos cinemas, proporcionando-nos uma experiência diferente e muito legal! Apesar de não surpreender, também não deixou nada a desejar, foi fiel e simplesmente deu vida ao que lemos.
A animação é ótima quando chegamos ao ponto exato, ou seja, no que queremos de fato ver. Os primeiros trinta minutos parecem uma animação à parte da que assistimos, é necessário apenas para preencher as horas, e também para explicar brevemente quem é Barbara Gordon (Batgirl) e a importância dela na história, de modo que se torne mais compreensível e completo para aqueles que não possuem um conhecimento tão abrangente sobre o assunto.
O envolvimento da Batgirl na história como uma mulher frágil, “apaixonadinha” e descontrolada, apesar de toda a sua força, inteligência e ímpeto, não me agradou. O romance dela com o Batman deu um tom mínimo de superficialidade no roteiro, pelo menos dentro dessa história, é chato, insosso e bobinho, com momentos desinteressantes, sem contar que mais uma vez a desvalorização da mulher é escrachada, e não me refiro à luta dela com vilões e o desrespeito óbvio dos personagens maldosos, mas sim a forma e a posição na qual ela é colocada, é sim uma super heroína, mas ainda fica estereotipada como a maioria das mulheres: temperamentais, “teimosas”, emocionalmente instáveis e loucas por um homem aparentemente super controlado, macho alfa, focado nos objetivos, frio e calculista.
A narrativa do começo e até mesmo o enredo da história não são ruins, é empolgante e tem cenas muito bacanas, sem contar que introduziu bem A Piada Mortal. Mas é quando vemos na tela a HQ ganhando forma, as ilustrações perfeitas bem ali na janela mágica do cinema, que o sentimento de felicidade, nostalgia e satisfação tomam conta de todos nós. Afinal, é uma delícia essa sensação, é como observar a nossa própria imaginação.
Com diferenças muito sutis e necessárias, nos foi apresentado um trabalho extremamente bem feito, com cortes impecáveis. O desenho simplesmente fluiu, entre os diálogos, a ação, de modo que tudo que foi modificado ou acrescentado só tornou a adaptação da obra ainda melhor. As dublagens sensacionais de Mark Hamill (Coringa) e Kevin Conroy (Batman), bem como a interpretação na entonação, torna tudo ainda melhor (apesar de que eu adoraria ter assistido com a dublagem brasileira).
O desenho como um todo é modesto, mas consegue atender as expectativas, cumpre com o que promete. Não trata-se de uma obra prima cinematográfica, mas de um fã service de qualidade.
Lembrem-se: SORRIA!
Revisado por: Bruna Vieira.