Adaptações de obras literárias para o cinema costumam trazer dificuldade para quem se prontifica a fazer o filme. Se Hollywood escolhe um romance, provavelmente é porque já possui uma horda de fãs que garantirá o hype em cima da vindoura película. O preço disto é estar vulnerável às cobranças dos fãs de fidelidade à obra original. Para uma saga considerada a magnum opus de ninguém menos que Stephen King, não teria como ser diferente. A série literária é repleta de referências ao mundo de Tolkien, faroestes e contos arthurianos, o que é transportado para o filme. Mas o que acontece quando a adaptação só se preocupa com as referências e não pensa em momento algum com a história, nem com os que nunca leram os livros?
“A Torre Negra” nos traz para o mundo criado pelo escritor de Carrie, a Estranha, O Iluminado, It – A Coisa e diversos outros best sellers da história da literatura. No filme, somos apresentados a Jake (Tom Taylor), um jovem que, desde a morte do seu pai, vem sofrendo com recorrentes sonhos que mais trazem a impressão de serem visões de algo que acontece muito longe da realidade onde ele se encontra. Nestes sonhos, podemos ver um nefasto Homem de Preto (Matthew McConaughey) utilizando a mente de crianças para destruir a Torre Negra, o que deixaria o mundo de Jake, assim como os demais, vulnerável para que o Homem de Preto espalhasse sua escuridão. Jake também vê, em suas visões, um salvador conhecido como o Pistoleiro (Idris Elba), único capaz de acabar com os planos do vilão. A história começa mesmo quando Jake se dá conta de que suas visões são reais e parte em busca de respostas.
O diretor dinamarquês Nikolaj Arcel tem o grande desafio de condensar a história em uma hora e meia de filme. A partir daí, vemos uma trama corrida, sem muito tempo para desenvolver a relação dos protagonistas com seus coadjuvantes. Sabemos que Jake ama sua mãe porque, enfim, é sua mãe. Aquele que parece ser seu único amigo aparece solto e sem propósito em nenhuma cena. O padrasto só fica claro que é um filho da puta por meio de diálogos forçados. Um outro personagem so aparece para morrer, que mais parece um personagem somente amigo do que parente. Até o personagem de Jackie Earle Haley, quando demonstra ter força física para encarar o personagem de Idris Elba, é mal aproveitado.
O Homem de Preto é o grande destaque, roubando a cena em todas as suas aparições. Mas mesmo isso não é bem aproveitado. Matthew McConaughey exala carisma e charme através de seu vilão, de modo que sua figura não passa o medo necessário. Por mais que Matthew seja um grande ator, parece um caso claro de erro de casting. O talentoso Idris Elba tenta tornar seu Pistoleiro um personagem mais profundo, magoado e vingativo, mas a história não ajuda. Parece mais importante mostrar como seu personagem é habilidoso em atirar e recarregar.
A própria Torre deveria ser uma personagem por si só, como acontece, por exemplo, com o Um Anel da trilogia O Senhor dos Anéis, ou com a Porta da Estalagem da Minnie em Os Oito Odiados. Era necessário enaltecer a importância da figura mítica deste universo para que sentíssemos medo das implicações de sua destruição iminente. Ficamos, ao invés disto, com algumas poucas menções e imagens de algo que parece estar no título apenas para tornar mais explicativa a narrativa. Se tiver a sorte de alcançar o sucesso necessário para engatar uma franquia, é bom que o grande elemento físico e metafórico da trama seja enaltecido já na próxima sequência.