A Visita Cruel do Tempo é um livro escrito por Jennifer Egan publicado em 2010 pela Knopf. A editora Intrínseca lançou o livro nas livrarias brasileiras em 2012 com tradução de Fernanda Abreu. A obra venceu o Pulitzer de Ficção 2011, o National Book Critics Circle Award, o Los Angeles Times Book Prize e o Tournament of Books.
Jennifer Egan nasceu em Chicago e cresceu em São Francisco. Publicou trabalhos em revistas como The New Yorker, Harper’s Magazine, Granta e GQ. Com seus artigos de não ficção para a The New York Times Magazine, Egan recebeu diversos prêmios jornalísticos. Foi eleita uma das 100 pessoas mais influentes do ano de 2011 pela revista Time.
O livro é um conjunto de histórias curtas inter-relacionadas conectadas a Bennie Salazar, um executivo da indústria musical, e aos outros integrantes de sua antiga banda de punk rock. O narrador muda conforme a história, assim como o tempo.
A obra implica em uma grande diferença de conhecimento do tempo do narrador em comparação aos personagens, estes que muitas vezes se mostram marcados pela juventude. O narrador tem a frieza de falar, em qualquer momento, sobre as tragédias que virão com o tempo.
Um detalhe que incomoda é que autora trabalha muito mais o seu papel como narradora do que a construção das ações do capítulo, e eles só acabam ganhando força devido aos elementos ousados da narração. Em outras palavras, a história se apequena ao se tornar tão dependente de um condutor.
Este fator também faz com que a narração seja muito bem trabalhada. Egan aos poucos vai mostrando que é capaz de viver intensamente cada personagem e sempre busca formas inovadoras de montar sua narrativa para que saibamos identificar a mudança de narrador.
A montagem da obra é o grande destaque, ela trabalha com a ideia de um tempo não linear e isto fica claro quando o próprio livro funciona desta forma. Os capítulos não seguem uma ordem cronológica e isso é sempre lembrado nos parágrafos quando ela expõe o futuro de um personagem a partir da transição com o presente, feita por determinado assunto, estabelecendo a coerência da exposição.
Ou seja, o próprio leitor sofre com a visita do tempo, da qual se mostra em muitas vezes bastante cruel. Assim são as tragédias, histórias que tiveram um início vivaz e sorridente, mas um fim doloroso e melancólico.
“Ele estava dirigindo um Mercedes vermelho. Em 1979, isso podia ser o início de uma história emocionante, uma história em que tudo poderia acontecer. Hoje em dia é um prenúncio de tragédia”
As consequências estão quase sempre longe do que esperamos; o livro mantém sua pegada realista. O futuro não é exagerado ao ser melancólico, é apenas indesejável. Com este desconforto percebemos que o tempo não está incomodando os personagens tanto quanto incomoda o leitor.
“É essa a realidade, não é? Vinte anos depois, a sua beleza já foi para o lixo, especialmente quando arrancaram fora metade das suas entranhas. O tempo é cruel, não é? Não é assim que se diz?”
Para os personagens o tempo é aquilo a se preocupar por representar o fim da juventude; para eles é linear. É preciso de maestria para abordar o tempo destas duas formas, linear e não linear ao mesmo tempo. Ainda mais para fazer o leitor sentir a mesma coisa, como é pretendido quando se observa a montagem do livro, e para fazer os personagens entenderem da forma que deve ser entendido por quem não está vendo a trama geral do livro.
A estrutura faz com que os personagens e o leitor se diferenciem na perspectiva de tempo. Deste modo, é fabulosa a delicadeza e o empenho com a qual Jennifer Egan implanta uma função exata na mente do leitor. Entretanto a dependência altíssima da história com a narração mutável enfraquece a carga emocional das ações.