Com um título desconhecido para uma grande parcela do público da Netflix que não acompanha histórias em quadrinhos fora do circuito já conhecido, The Umbrella Academy conseguiu alavancar um poderoso sucesso em seu primeiro ano de exibição.
Baseada em uma série de quadrinhos de Gerard Way, vocalista da famosa banda My Chemical Romance, ilustrada pelo brasileiro Gabriel Bá, a história chamou a atenção por tratar a questão dos super-heróis desajustados com bastante sarcasmo e violência, mas ao mesmo tempo mostrando suas fragilidades e inseguranças, mesclando a uma trilha sonora envolvente que prende o público aos acontecimentos. Assim, ela garantiu uma continuação em 2020 depois do notório boom de visualizações no canal de streaming.
Na primeira temporada somos apresentados a disfuncional família Hargreeves. Com a morte sob circunstâncias suspeitas de seu patriarca Sir Reginald (Colm Feore), seus filhos adotivos se reencontram depois de anos evitando contato. Esses filhos possuem habilidades especiais e foram treinados de forma pesada durante toda sua vida para enfrentar o crime, porém nunca tiveram amor paternal em troca, vivendo num regime totalitário ditado por seu pai.
Ao final, Luther (Tom Hopper), Diego (David Castañeda), Allison (Emmy Raver-Lampman), Klaus (Robert Sheehan), Ben (Justin H. Min), Número Cinco (Aidan Gallagher) e Vanya (Ellen Page) colocam de lado as suas desavenças familiares com o objetivo de tentar pôr um fim no apocalipse, desencadeado pelos eventos que se desenvolveram como um efeito cascata. A solução foi apostar em uma arriscada viagem no tempo, comandada pelo Número Cinco.
Em comparação ao seu primeiro ano, a segunda temporada dita um ritmo muito mais envolvente e cativante, provavelmente por não precisar se explicar demais já que o espectador está familiarizado com a história e seus personagens. A trama começa exatamente onde a última temporada termina, com a tentativa do Número Cinco de salvar os irmãos e o mundo, transportando eles através do tempo. Só que essa tentativa não é bem sucedida e eles acabam separados ao longo de três anos durante a década de 1960 no Dallas, Texas. Como eles não tinham notícias uns dos outros, tiveram que seguir a vida pois achavam que eram os únicos sobreviventes. Cinco foi o último a pousar em Novembro de 1963, bem no meio de uma destruição nuclear que está prestes a acabar com o planeta. Sua missão é encontrar e juntar seus irmãos para evitar que isso ocorra novamente.
O público é apresentado a novos personagens, como Os Suecos que são três irmãos antagonistas aos heróis da Umbrella Academy. Eles estão presentes em algumas das melhores, mais violentas e mais bem coreografadas cenas de luta da temporada, porém não representam tanto o sentimento de perigo iminente que se espera, devido a tantas outras coisas que estão acontecendo ao mesmo tempo na trama, tornando assim a presença deles um pouco esquecível. Já Raymond (Yusuf Gatewood), Sissy (Marin Ireland) e Lila (Ritu Ayra) tem mais espaço e possuem papéis fundamentais com a relação que eles tem com Allison, Vanya e Diego, respectivamente. Lila especialmente é uma personagem carismática e complexa, que transita como alívio cômico e elemento dramático de forma leve, tendo tudo para ganhar o favoritismo do espectador.
É uma temporada mais sangrenta e violenta, com os níveis de sarcasmo no ponto exato sem parecer forçado. A fotografia em composição com o figurino exagerado arrematam todo o conceito de fantasia remetendo às HQs, sem que fique infantilizado. A trilha sonora é um acerto com presença de canções de Billie Eilish, Backstreet Boys, Billy Idol, entre outros nomes. A apresentação de cada música parece que foi minuciosamente pensada para encaixar e transformar cada cena em uma experiência. É um trabalho audiovisual tão bem feito que é muito gostoso e agradável de assistir que a vontade é de ficar em cada cena por mais tempo.
Por estar centrada nos anos 60, a série consegue avançar por outros ângulos e enriquecer seu roteiro, fugindo de uma saturada história sobre super-heróis com lutas e um único objetivo, ao dar um enfoque por exemplo na luta racial pelos direitos civis e como anteriormente se relacionar com pessoas do mesmo sexo era tratado como uma doença, trazendo importantes debates para a sociedade atual na qual estamos inseridos. Parece que amadureceram a série desde o seu último ano, com uma direção certeira que guia todo o espetáculo dos dramas e lutas de forma magistral.
De maneira geral, a temporada se supera e se consolida como uma ótima história de heróis. O cliffhanger deixado para a próxima temporada pode até dar aquela sensação de dèja vu, mas que ele planta uma curiosidade e uma expectativa para o que se pode esperar numa terceira temporada da série é inegável, principalmente depois da qualidade da produção apresentado neste ano. Além disso, somos apresentados a novos segredos vindos da família Hargreeves e o que se pode aguardar deles e como vão impactar no futuro são perguntas ainda a serem respondidas.