O Cabana do Leitor convidou para a cabine de imprensa uma das escritoras mais influentes de fantasia no Brasil, autora dos livros A Arma Escarlate e A Comissão Chapeleira, (conhecido como O Harry Potter brasileiro), Renata Ventura.
Acabei de assistir a “Animais Fantásticos e Onde Habitam”. Como fã de Harry Potter, estou saltitando de empolgação, mas tentarei ser breve em minha resenha, para evitar spoilers.
Talvez esta não seja uma resenha propriamente dita. Talvez sejam apenas comentários soltos, do tipo que trocamos com nossos amigos assim que assistimos um filme. Pode ser? Chamemos isto, então, de uma resenha informal de fã entusiasmada. Não consigo fazer de outro jeito neste momento, tendo acabado de sair do cinema. Sei que não é a postura ideal para uma escritora, mas, cara, é magia! É J. K. Rowling! É mais um filme no mundo bruxo!
Para quem ainda não viu o trailer, o filme, escrito pela própria Rowling, autora de Harry Potter, acompanha o jovem magizoologista inglês Newt Scamander em sua viagem para Nova York. Já no primeiro dia em terras americanas, sua maleta é acidentalmente aberta, e, dela, saem inúmeros animais fantásticos que, agora, ele terá de recuperar, antes que eles se machuquem e que a comunidade bruxa norte-americana seja perigosamente exposta ao mundo dos não-bruxos.
Posso dizer que assisti ao filme com um sorriso no rosto, do início ao fim. O mundo que J.K. Rowling criou é tão genial que voltar a ele continua sendo um prazer inenarrável para mim. Impossível não amar, ainda mais agora que, pela primeira vez, estamos tendo a oportunidade de assistir a um filme sem termos lido a história antes! Ninguém no cinema sabia de nada do que ia acontecer. Era tudo surpresa! E isso foi maravilhoso. Sério.
Veja a crítica do Cabana do Leitor… Abaixo a crítica da Renata Ventura continua.
O que dizer de “Animais Fantásticos e Onde Habitam”? O filme é envolvente, complexo, extremamente bem feito e, o mais impressionante, consegue alternar momentos de absoluta fofura com cenas surpreendentemente sombrias, sem fazer esforço.
Cenas pesadas de repressão, de intolerância e de profundo terrorismo emocional. Perfeitas, aliás. Alguns personagens são bem sofridos, e eu adoooro isso. (Leitores de meus livros entenderão, kkkk.)
Menção especial (especialíssima) para a atuação de Ezra Miller, como Credence. Fiquei impressionada! Credence é incrivelmente intenso e Ezra consegue encarná-lo com perfeição.
Aliás, os personagens são a maior qualidade do filme. Todos muito bem construídos, complexos, amáveis, carismáticos, enfim, humanos. Rowling sempre soube criar personagens envolventes.
Newt Scamander é sensacional. Ele chega trazendo características que não costumamos ver em protagonistas: timidez misturada com ousadia, uma certa falta de jeito em lidar com outros seres humanos, uma doçura excepcional que dá vontade de abraçar… Enfim, fofo e revolucionário ao mesmo tempo. Amei. Sabe aquelas pessoas que são super tímidas, mas que querem mudar o mundo e vão, timidamente, dando seus pequenos passos nessa direção? Então, é ele.
Já Percival Graves (personagem de Colin Farrell) leva seu idealismo para um outro lado, sendo, por isso mesmo, igualmente intrigante. Conseguimos entender os motivos de todas as suas ações, e é isso que torna este filme tão bom: nenhum personagem de “Animais Fantásticos” é superficial. Todos têm seus medos, suas inseguranças, seus sonhos e suas ideias perfeitamente compreensíveis sobre como o mundo deveria ser. Tanto os mocinhos, quanto os antagonistas.
Até Jacob, o no-maj (muggle, trouxa, não-bruxo), me surpreendeu. Confesso que, quando vi os trailers, achei que ele seria apenas um alívio cômico, mas Jacob é muito mais do que isso. Jacob é adorável. Acho que precisávamos de um trouxa no filme, em meio a tantos bruxos experientes, para termos aquela mesma sensação que sentíamos ao assistir Harry Potter e ver o jovem Harry ficando boquiaberto a cada detalhe novo que ele descobria sobre o mundo bruxo. Sem esse elemento de inocência e descoberta que Jacob trouxe, talvez o filme não tivesse tanta graça. Enfim, fui conquistada pelo simpático padeiro. Ele é muito carismático, assim como as duas bruxas da trama, Tina (Katherine Waterston) e Queenie (Alison Sudol): igualmente complexas, em suas personalidades.
No início, Queenie me pareceu um pouco fútil em comparação com sua irmã Tina (tão séria, profissional e maravilhosa), mas de fútil, Queenie não tinha nada. A leitura de mentes é um dom que pode fazer uma telepata, como ela, entender melhor as outras pessoas, e acho que essa é a maior qualidade de Queenie: a empatia.
Todas as personagens femininas do filme, aliás, são muito fortes. Tina, Queenie, Mary Lou, TODAS. Ter uma mulher negra como presidente da MA.C.U.S.A. então… É sensacional.
Para quem não sabe, MA.C.U.S.A é o Congresso Mágico dos Estados Unidos. Em “Animais Fantásticos”, o mundo mágico que já conhecíamos é expandido, introduzindo-nos à comunidade bruxa norte-americana, com seu sistema político diferente da Grã-Bretanha, suas burocracias, seus problemas e preconceitos. Talvez por isso o filme tenha uma atmosfera um pouco mais adulta que Harry Potter. Pela primeira vez, estamos realmente fora do ambiente escolar que tanto caracterizava os outros filmes (e livros).
Um detalhe que achei muito curioso foi a quantidade de vezes que eles aparatam (desaparecem e aparecem em outro lugar) no filme. Aparatam o tempo inteiro! Às vezes para lugares a poucos metros de distância! Achei isso extraordinário, não só porque, se eu fosse bruxa, eu faria a mesma coisa, mas também porque, como a maior parte da série Harry Potter se passava em uma escola, onde alunos e professores eram impedidos de aparatar, não conhecíamos essa faceta dos bruxos: aparatarem para tudo. Eita, preguiça!
Um outro detalhe me impressionou muitíssimo: apesar de eu estar falando bastante de Harry Potter aqui na resenha, em nenhum momento, durante o filme, pensei em Harry Potter. Animais Fantásticos e Onde Habitam é um outro filme. Tem outro clima, outro foco! Só o fato de terem tirado a escola e colocado a trama no meio da rua, já mudou tudo. Não senti falta de Hogwarts, não senti falta de batalhas entre casas, nem de crianças e jovens. Os bruxos adultos são tão legais quanto os adolescentes, e me conquistaram completamente.
Quanto aos atores, todos foram perfeitos. O vencedor do Oscar, Eddie Redmayne, no papel de Newt, está sensacional, como sempre. Até Colin Farrell ficou incrível. Achei que o fato de Farrell ser excessivamente famoso poderia atrapalhar, mas isso não aconteceu. Ele domina as cenas em que aparece. Aliás, todos os atores principais fazem isso. Acho que nunca vi um filme com um elenco tão bem escolhido.
Um único aspecto me incomodou: os duelos com varinhas. Achei que ficaram fracos; que os feitiços não tiveram o impacto que a gente costumava ver nos outros filmes. Focaram muito nos animais, fazendo-os absolutamente maravilhosos e perfeitos, e deixaram a desejar nos duelos. Isso, no entanto, não atrapalhou em nada o resultado final, como vocês podem ver pela minha empolgação.
Ao sair do cinema, algumas pessoas reclamaram do excesso de animais na trama, dizendo que deveriam tê-los espalhado ao longo dos cinco filmes, mas precisamos ter em mente que o foco dos próximos pode não ser animais fantásticos… Realmente não sabemos. Eu gostei da quantidade de animais que apareceram. Não me incomodou. Muito pelo contrário. Eles se tornaram tão reais para mim, que eu saí do cinema com vontade de ir ao pet shop bruxo mais próximo comprar um.
Não é todo escritor de livros que consegue escrever um roteiro. É um outro ritmo, uma outra técnica, e o que eu posso dizer?