“Atypical” estreou ontem (11) na Netflix e traz a história de Sam, um garoto de 18 anos com autismo que começa a buscar sua independência e leva os membros da sua família a se redescobrirem como indivíduos.
Incentivado por sua terapeuta, Sam decide que quer começar a namorar e ter sua autonomia. Entretanto, sua vontade esbarra com a discordância de sua mãe Elsa, que sempre foi apenas isso, uma mãe e não está pronta para ver seu filho completamente independente.
Na família ainda temos Doug, o pai, que tem dificuldades em aceitar o diagnóstico de Sam, por isso abandonou a família por 8 meses, mas que se esforça para ficar mais próximo do filho. E Casey, a irmã mais nova, de longe a melhor personagem depois do próprio Sam e que lida com a invisibilidade na família.
Antes de partimos para os spoilers do enredo, a série acerta em desenvolver a história de todos na família e não foca apenas na condição de Sam. Ela também trás momentos engraçados e alterna com um plano de fundo mais dramático, não sendo uma comédia ou um drama propriamente dito.
“Atypical” contém 8 episódios de meia hora cada e dá para assistir em uma tarde sem perceber o passar da história.
Depois de “13 Reasons Why”, a Netflix se propôs novamente a trazer à luz outro tema não muito discutido, mas em “Atypical”, ela falhou em não definir um tom para série. A indecisão entre a comédia e o drama não deram a profundidade necessária para a seriedade do assunto. Porém, a série acerta na interpretação de Sam pelo ator Keir Gilchrist e na edição, nos fazendo entrar na cabeça do personagem e ver e o ouvir apenas o que está evidência para ele.
Outro ponto positivo é o fato do Sam ter um emprego fixo em uma loja de eletrônicos, já que é bem difícil encontrarmos pessoas diagnosticadas desempenhando funções no mercado de trabalho. Ainda se tratando da inclusão social, um ponto alto ao longo dos episódios foi o Baile Silencioso de Inverno realizado na escola para que Sam também pudesse ir, pois o barulho e as luzes artificiais comuns nesses locais o impediriam de participar.
A jornada de um jovem comum para arrumar uma namorada já não é fácil, mas para Sam é ainda mais complicada. Primeiro, ele descobre que está apaixonado pela sua terapeuta Julia, mas por conta do conflito de interesses, Sam decide arrumar uma namorada de teste até que eles possam ficar juntos. Quando começa a namorar Paige, sua colega de escola, ele precisa aprender como funciona um relacionamento e esse processo é retratado na série de uma forma problemática.
Em um dos episódios, quando Sam se sente agoniado com Paige mexendo em suas coisas, ele a tranca em seu closet. Prontamente, seu pai lhe explica que isso é errado, mas a própria Paige não enxerga isso como algo ruim e ainda rouba um moletom como souvenir. Além disso, Sam tem como assunto preferido pinguins e coisas relacionadas a natureza, mas Paige faz com que ele só possa comentar sobre isso três vezes por dia, pois é irritante e desinteressante para ela e outras pessoas.
Ainda para ajudá-lo em todo o processo romântico, Sam tem Zahid, seu melhor amigo e colega de trabalho que nem sempre tem as melhores dicas, mas tem boas intenções e arranca muitas risadas.
Durante o processo de aceitação da autonomia de Sam, Elsa começa a usar seu novo tempo livre para se descobrir além do papel de mãe. Mas o que poderia ter sido algo muito interessante se tornou maçante. Não só por suas escolhas erradas ao trair o marido, mas por causa do remorso que sentia e repetição do processo. Toda sua relação com o bartender Nick contribuiu apenas para que ela deixasse de dar a atenção ainda necessária para Sam e deixasse de lado as conquistas recentes de Casey.
A jornada de Doug, por outro lado, é cativante. Embora tenha abandonado a família após o diagnóstico de Sam, ele se esforça para se aproximar do filho e aceitar sua condição. Doug sai do estágio de agir como se Sam não fosse autista, ajuda-o com toda a questão do namoro, chega a frequentar o grupo de apoio de sua esposa e consegue superar a vergonha que sentia do diagnóstico do filho. Ele também enxerga Casey como ela é e a incentiva em suas escolhas.
Casey é uma personagem forte. Logo no início ela defende uma menina do bullying e é a única que trata Sam enxergando todo seu potencial. Ela não deixa que ninguém o machuque, mas isso não a inibe de dar uns tapas nele de vez e quando. Sua proteção em relação ao irmão acaba a impedindo de realizar suas vontades, mas durante a série a vemos conseguindo a bolsa para uma escola particular e aceitando que seu irmão não depende tanto dela assim e que ela pode ter uma vida própria.
Ainda falta um longo caminho para uma representação fiel da vida de um autista, mas “Atypical” é uma série que vale a pena ser assistida. Criada por Robia Rashid, tem no elenco Keir Gilchrist, Jennifer Jason Leigh, Michael Rapaport e Brigette Lundy-Paine.