Uma pesquisa sobre o mercado editorial revelou um aumento nas vendas de livro, mas com queda de 25% no faturamento geral dos últimos 13 anos, revelando que a crise editorial é causada pelo sistema de consignação. O estudo foi conduzido no mês passado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicos (Fipe) a pedido da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sindicato Nacional de Editores de Livros (Snel) e foi acompanhada por Eduardo Vilela, que atua a 15 anos como editor e book adivisor.
O maior motivo da crise levantado por Vilela é a maneira ultrapassada de comercialização consignada entre editoras e livrarias. Este modelo consiste em um envio de um número X de exemplares impressos de seus livros para as livrarias, que, no primeiro momento, não pagam nada por esses livros. Elas não compram os livros recebidos, apenas armazenam em seus estoques e os colocam à venda. Somente quando eles são vendidos é que o repasse às editoras acontece.
Para Eduardo, a consignação não funciona porque as livrarias não demonstram o comprometimento necessário para que os leitores adquiram os livros.
“Isso é ruim, já que não basta apenas disponibilizar os livros nas estantes, é preciso realizar esforços e ações consistentes em loja que incentivem o leitor a adquiri-los. Só se empenha 100% na venda de um produto aquele varejista que efetivamente compra de seu fornecedor!”, explicou Vilela.
O sistema de consignação é ineficiente também quando se trata do controle e estoque das livrarias, pois causa lentidão fazendo com que, na maioria das vezes, o cliente saia do estabelecimento de mãos vazias depois de não encontrar o livro desejado.
“A consequência disso, além da frustração do consumidor, é a queda nas vendas. Esse problema estaria solucionado se houvesse a adoção por parte das livrarias de um sistema integrado de estoques com as editoras, assim como acontece em outros setores”
De acordo com Eduardo, o atendimento nas livrarias também é um fator que contribui para a queda de vendas, pois as livrarias focam em livros best-sellers e em obras de autores muito conhecidos, mas “esquecem” os livros com assuntos diversos e de autores menos famosos. A falta de interesse em outras obras faz com que as pessoas procurem cada vez mais os canais digitais para a compra.
“É preciso que haja, sobretudo, uma mudança estratégica na gestão de grande parte das livrarias, deixando para trás um modelo falido de negócios que em nada contribui para o desenvolvimento do mercado livreiro no Brasil”
Outro problema também é que os livros famosos muitas vezes têm impacto temporário nos consumidores, que logo partem em busca de outros volumes e não o encontram. E além dos canais virtuais facilitarem a busca pelos títulos desejados, ainda oferecem muitas promoções, o que é provavelmente o motivo do aumento da venda de livros. Porém como estes leitores não compram o livro pelo valor original – que geralmente é praticado na livraria física – o faturamento acaba deficitário.