Sob o título de “Beatriz”, o novo longa metragem do diretor Alberto Graça (“O Dia da Caça”) conta com atuações da curitibana Marjorie Estiano como a personagem-título e do paulista Sergio Guizé, no papel de Marcelo – seu marido. Com uma proposta inicial interessante que desperta questões voltadas para o amor romântico e o erótico, o filme consegue manter um nível de relevância até a metade. No entanto, depois de algum tempo, a narrativa se perde e se torna arrastada, sem trabalhar a profundidade necessária para se firmar como algo revolucionário.
A trama conta a história da personagem-título e de Marcelo, um casal que larga o Brasil e se muda para o exterior. Em Lisboa, o jornalista passa a produzir contos eróticos para uma revista – todos eles baseados em experiências vividas com a sua mulher. Nesse jogo de sensualidade e erotismo que envolve as mais diversas aventuras em parques e bondes, o casal vive uma vida aparentemente feliz enquanto esboça planos para o futuro, principalmente após a gravidez de Beatriz.
Ansiosa e com a esperança de formar uma família ao lado de Marcelo, a personagem não contava com um contratempo: o escritor decide se dedicar exclusivamente à produção de um novo livro, levando-o a rejeitar a condição da protagonista. Isso porque a inspiração para seus trabalhos costuma ser justamente sua mulher – e suas histórias vividas -, logo, o fato de ela estar grávida é visto como um empecilho para que o livro seja escrito. Sem o apoio necessário, mas ainda com uma ânsia profunda de construir um relacionamento duradouro com Marcelo, Beatriz interrompe a gravidez e passa a viver em função de ser a musa inspiradora para a nova obra do marido.
“Até onde podemos chegar por amor?” é um dos questionamentos abordados durante o filme. Essa é uma abordagem bastante curiosa até, uma vez que nos leva a refletir sobre as atitudes tomadas por Beatriz durante toda a narrativa. Deixando-se levar pelo “amor”, a personagem se submete a uma série experiências para estimular o trabalho de Marcelo. O que se inicia com uma aparente exploração da liberdade sexual acaba se transformando em um abismo de perdição para Beatriz, de forma que a personagem vive à sombra de uma história que não é a sua – e sim aquela que satisfaz a imaginação do escritor.
Enquanto Marjorie carrega toda a atuação nas costas, com interpretações dramáticas e capazes de mexer com o telespectador – tanto pela quanto pela performance exibida pela mesma -, não se pode dizer o mesmo do resto do elenco. Sergio Guizé, apesar de ser um dos maiores nomes do cenário artístico atual, não eleva seu personagem à altura que é inicialmente proposta e acaba decepcionando. Já o elenco coadjuvante passa um tanto despercebido, sem fazer grandes interferências na narrativa principal e sem nenhum personagem realmente marcante.
A verdade é que, se não fosse pela dramaturgia inspirada de Marjorie Estiano, “Beatriz” não ofereceria nada além de uma bela fotografia e cenários paradisíacos. Com um roteiro um tanto confuso, atuações indiferentes e sem trazer nada realmente inovador que possa prender o público, a obra de Alberto Graça é facilmente deixada para segundo plano se levarmos em conta outros filmes que conquistam as salas de cinema.