Delphine Dayrieux (Emanuelle Seigner) é uma renomada escritora. Ela atingiu o sucesso com um livro muito pessoal: A relação com sua própria mãe, que lhe angustia e amargura. A fama conquistada a incomoda. A rotina de autógrafos, festas com editores, o assédio dos fãs e entrevistas com a imprensa à levam ao isolamento. Seus filhos abandonaram-na. Seu namorado, Raymond (Vincent Perez), um apresentador de TV, percebe sua fragilidade, só que passa mais tempo ausente gravando seus programas do que com ela.
Delphine é atormentada por cartas anônimas na qual é acusada de vender sua família em troca de inspiração para seus livros. Os ataques se estendem a acusações raivosas por haters em redes sociais. A pressão para escrever o próximo “best seller” e as demandas profissionais a faz estar à beira de um colapso nervoso.
Em uma noite de autógrafos, Delphine conhece uma fã, Elle (Eva Green). Elle é uma mulher bonita, intuitiva e sedutora. Por trabalhar como “ghost writer”, uma profissional que atua nas sombras, Elle se aproxima da escritora para ajudá-la organizar a sua vida enquanto poderia se concentrar em sua próxima obra.
Os filmes do cineasta polonês Roman Polanski são conhecidos por trabalhar muito bem os aspectos psicológicos de cada protagonista. Por isso, ele se tornou um cineasta “mestre” ao criar obras como “O Bebê de Rosemary” (1968) e “O Inquilino” (1976). Em seu novo filme, Polanski tenta resgatar essas características, construindo um thriller psicológico e acrescentando mais de um nuance para essas duas mulheres, que carregam personalidades e motivações diferentes.
As atrizes traçaram composições distintas para suas personagens: Eva Green encarna mais uma femme fatale, sedutora, dissimulada e ambígua (oras boazinha, oras raivosa). Emmanuelle Seigner dá vida a uma personagem abalada, fragilizada, ingênua e solitária. A relação entre ambas é tenra, passional e tensa. Entre as duas atrizes, Green se sobressai. Se os personagens fossem invertidos, o filme sairia de sua zona de conforto.
A direção de Polanski é firme, em um estilo sofisticado de narrativa, porém pouco inspirada. Na expectativa de provocar os espectadores, concede mais pistas do que deveria antes do ato final. “Baseado em Fatos Reais” torna-se banal e frívolo ao abordar a previsível premissa da escritora em crise de criatividade confrontada por uma mulher misteriosa.
Se aqui é o clássico filme onde nada é o que parece, um olhar mais apurado descobre uma boa parte das reviravoltas da trama. Entre a loucura e sanidade, o que poderia conter mais mentiras do que uma história baseada em fatos reais?