Homenagens aos principais mestres na arte dos quadrinhos, unindo oriental e ocidental, marcou a Bienal nesta quarta-feira (4). A famosa história em quadrinhos japonesa teve sua origem ainda no tempo feudal, nos Oricom Shohatsu, ou Teatro das Sombras, onde percorriam os vilarejos em forma de fantoches. Essas lendas eram escritas em pergaminhos e ilustradas.
Esse ano, a Bienal Internacional do Livro junto ao Consulado Geral do Japão no Rio de Janeiro estão homenageando a Terra do Sol Nascente. Além de um espaço exclusivo com a exposição “O Poder do ShoujoMangá” em parceria com Instituto Cultural Brasil-Japão e a Fundação Japão, o grande evento também trouxe grandes mangakás para um bate-papo. Por isso ontem foi o dia de falar com Reiko Okano e escutar um pouco sobre a experiência de Macoto Tezuka, filho do ilustre Osamu Tezuka, junto, é claro, ao mestre Maurício de Sousa.
No Café Literário, Reiko explicou sobre as raízes nipônicas nas temáticas de seus mangás. Seu primeiro trabalho, Fancy Dance (ファンシィダンス), passa-se nos anos 80 e conta a história de um menino que deixa toda a vida juvenil para integrar a filosofia zen dos monges. Comentando sobre um segundo, que em breve virará um live action, a japonesa conta como é a relação de seus conterrâneos com o esporte sumô, explicando sobre os rituais anteriores à iniciação da luta, algo que a própria diz que vem se perdendo ao passar dos anos.
“Estou falando para vocês coisas que nem os japoneses sabem!”
Recentemente, a autora desses quadrinhos tão especiais lançou duas séries. Uma delas sai um pouco do Japão, migrando para a antiga mesopotâmia, onde a personagem principal é a deusa Inana, guardiã do sagrado feminino, dona da feminilidade que habita até mesmo os homens.
A última obra apresentada era carregada de ancestralidade e mitos oriundos dos povos do século VI. Onmyoji, passado na era feudal no Império Japonês, tem seu herói baseado em um homem real na história japonesa. No mangá, o protagonista é uma espécie de exorcista que utiliza como arma uma flauta e o equilíbrio dos cinco elementos, sendo eles a água, fogo, madeira, metal e terra.
É nítido o aprofundamento de cada mangá escrito por Reiko Okano. O carinho para com sua cultura e o fato de querer revivê-la em suas obras é digno de admiração. Sua palestra foi uma aula de tradição.
Em sequência, todos presentes tiveram a chance de participar da conversa descontraída entre Maurício de Sousa e Macoto Tezuka. De início, Tezuka relembra animes de sucesso produzido por seu pai, dentre eles Astroboy, Dororo, Ribbon no Kishi, Kimba e outros. A cada imagem na tela, uma salva de palmas da platéia nostálgica.
Quando Maurício teve a palavra, o artista começou com relatos da amizade muito bonita que tinha com Osamu Tezuka. Ele o conheceu em 1984 pela Fundação Japão. Maurício visitava Tezuka e vice e versa, conversando sobre futuros projetos juntos que infelizmente foram interrompidos com a morte do lendário “Deus dos mangás modernos” em 1989.
Ao longo do bate-papo, surgiram várias homenagens, uma das mais bonitas foi a do Maurício de Sousa Produções com um curta animado, representando a parceria entre os estúdios que se tornou realidade após 24 anos de tentativa.
O fruto desta maravilhosa junção originou um mangá, em que a Turma da Mônica Jovem encontra com a Princesa Safiri, Astro Boy e Kimba se juntam em uma grande e incrível aventura ecológica.
O desfecho desse maravilhoso encontro não poderia ter sido melhor. Macoto Tezuka convidou Maurício de Sousa para a execução de um projeto envolvendo a floresta Amazônica. Este já teria sido combinado com o artista antes do falecimento de seu pai.
“Meu pai me falava sobre o Maurício com muita admiração e prometi a ele que iríamos fazer algo juntos um dia. Estou feliz por ter realizado o desejo dele após sua morte. Pude unir a nossa obra com a de Maurício e será um prazer falar sobre essa junção no encontro na Bienal do Livro”