No final de 2017, mais precisamente no dia 29 de dezembro, a Netflix entregou uma nova temporada da série Black Mirror.
A série britânica criada por Charlie Brooker já ganhou seu status devido aos questionamentos sobre a relação da sociedade moderna com a tecnologia. Em formato de contos, a antologia lida com temas obscuros e toca em feridas que nem todos gostam de ver. Transmitida pela primeira vez na emissora Channel 4, no Reino Unido, em dezembro de 2011, desde setembro de 2015, a Netflix é dona do seriado. Cai em sua conta, a terceira temporada (2016) e a atual quarta temporada que se inicia com o episódio ‘USS Callister’.
Escrito pelo criador da série Charlie Brooker e William Bridges e dirigido por Toby Haynes, a trama segue Robert Daly (Jesse Plemons, de Breaking Bad), co-fundador da empresa Callister que criou o jogo de MMO, Infinity. Além de um gênio da programação, Daly é também um solitário ressentido da falta de reconhecimento de sua posição por seus colegas de trabalho. Por conta disso, desconta todas as suas frustrações na simulação do Infinity onde recria o ambiente de sua série favorita. Daly usa DNA dos colegas para criar simulacros virtuais, agindo como o comandante da nave estelar, que também dá nome ao episódio, submetendo essas versões à sua vontade e, os punindo se eles saem da linha – dentro ou fora do jogo. Quando Daly cria uma versão de Nanette Cole (Cristin Milioti, a Mãe de How I Meet Your Mother) no jogo, ela incentiva as outras cópias a se revoltar contra ele.
Com homenagens óbvias a Star Trek, USS Callister aborda os habituais dramas psicológicos. A questão aqui é o foco principal da trama. Seria a realidade virtual a nova realidade a ser encarada? Por que torcemos para os colegas de Daly no jogo, se no mundo real são eles quem o humilham e o ferem? Muitos críticos falaram sobre machismo e compararam Daly a Harvey Weistein, o principal vilão da onda de denúncias de assédios sexuais em Hollywood.
Pra mim, há várias questões e se trata mais de um episódio que foca no bullying pra depois se encaminhar por um caminho de sexismo e autoritarismo, além de críticas fortes sobre os ambientes de trabalho virtuais ou reais.
Com diálogos imprevisíveis e uma atuação segura de todos os envolvidos, USS Callister mistura humor e reflexão em doses certas de entretenimento. Não concordei tanto com o incomum ‘final feliz’, mas confesso não imaginar um episódio mais Black Mirror para uma season première.
Devido a boas críticas, USS Callister foi cogitado até mesmo ter um seriado solo. As possibilidades realmente são infinitas, tanto pra um spin off como pra temporada restante. É esperar pra ver.