O filme que Ridley Scott dirigiu em 1982 não precisava de sequência, sejamos francos. Blade Runner por si só era uma obra de arte da ficção científica que se tornou uma referência incontestável na era moderna. Toda a aura noir futurista se distância ligeiramente da linha tênue explorada na sequência, quando a inteligência artificial passa a ser natural. Não posso deixar de pontuar que a trama toda se parece mais Kubrick do que do próprio Scott (agora produtor).
Na grande tela, 2049 nos mostra uma trama adulta e séria, mas que sem motivo se arrasta por quase 3 horas de duração. Ryan Gosling entrega um Agente K quase morno, e é Harrison Ford que, com apenas alguns minutos de tela, ofusca todas as outras atuações (incluindo Jared Leto, mesmo que ele tenha entregado uma de suas melhores atuações).
Em si, a história cativa. Nos prende, nos instiga e nos faz remoer algumas dúvidas em nossas cabeças ao ponto de sentir certo alívio quando finalmente explicadas em cena. Ela cumpre o papel proposto nas medidas certas, com grandiosidade de efeitos e cenários. Mas é só isso. Talvez se não obtivesse Blade Runner no título, tudo poderia ser medido de uma forma diferente. As cobranças seriam mais leves e as interrogações mais suaves.
Os nuances de cores que dançam entre o preto e cinza das cidades tecnológicas, e vermelho e laranja na longínqua casa de Deckard, faz com que se pareça estar olhando um quadro em um museu.
O tom pesado que permeia o ambiente em todas as cenas é sufocante na medida certa, te deixando angustiado na esperança de ver tudo começar a dar certo. A cena crua cortada por sons altos é uma artimanha feita para deixar os fãs atentos pelos próximos movimentos. E tudo isso funciona em uma sintonia que vários outros filmes tentaram emular e não conseguiram.
2049 quis ser uma sequência da obra prima de 82, e terá que conviver com o peso de que quase deu certo. Foi um filme excepcionalmente bom, mas não foi Blade Runner.
Assista Blade Runner: 2049 que estreia nos cinemas em 05/10 e nos conte o que achou do filme!