A série brasileira escrita e produzida por Esmir Filho teve sua estreia na Netflix dia 17 de julho surpreendendo em todos os aspectos da imaginação, dando a oportunidade do telespectador viajar nas alucinações, melancolias, libertações e angústias dos personagens.
Passada em uma pequena cidade rural, chamada Progresso, a narrativa foca em personagens adolescentes por meio também de redes sociais, celulares e lives, podendo ser vista como inteiramente conectada com o mundo virtual atual ou até como uma crítica.
Tudo começa com uma festa muito parecida com a famosa rave que atualmente vem sendo muito frequentada pelos jovens, nesta festa a personagem Bel vivida por Luana Nastas acaba pegando uma doença anteriormente nunca vista e se torna o assunto principal da cidade.
Além de descobrir que o vírus causador da doença é transmitido através do beijo, também é concluído que a doença deixa a pessoa apática de qualquer sensação ou sentimento, por ser contagioso os familiares tem que lidar com o isolamento total dos infectados.
Por coincidência, a obra foi lançada em meio a uma pandemia, ou seja, seria inevitável a não ligação do que o mundo vem vivendo com a série. Boca a Boca tem uma produção de nível acima de outras séries nacionais, o seriado consegue captar o mais profundo do grupo juvenil e colocar em uma percepção por diversos meios. A apatia sentida pelos doentes mostra em forma física o que a ocultação da vulnerabilidade pode causar no ser humano.
O elenco composto por Caio Horowicz, Iza Moreira, Denise Fraga, Michel Joelsas, Kevin Vechiatto, entre outros, atuam e representam muito bem cada uma das personalidades e peculiaridades. A série aborda inúmeros assuntos como homofobia, sexualidade, aceitação, perdas, veganismo, autismo e etc. Mas também vem com uma pegada de algumas cenas de pura irrealidade como, por exemplo, o feito de uma nova raça de boi e talvez isso tenha atrapalhado o desenvolvimento da série.
Apesar de cenas um pouco forçadas fugindo muito da realidade, Esmir Filho conseguiu de forma um tanto mística ligar um paralelo entre as angustias dos personagens. Sendo com cores, efeitos exuberantes ou com a própria representação nas festas do que é real e o inconsciente, sendo a libertação o alvo principal. Além de conseguir mostrar exatamente a essência dos problemas juvenis, o mundo contemporâneo que foi meticulosamente apresentado, desde as angustias até as músicas.
Rapidamente, os seis episódios que compõem a série tomam conta dos seus próprios traumas, a cidadezinha também leva um papel muito importante com o autoritarismo e moralismo em uma nação pecuarista. Alguns dilemas abrem feridas ainda maiores nesta temporada e os detalhes como o transcender, o neon, cores e ao mesmo tempo simplicidade trás a sensação de querer uma nova temporada.