Apresentado na Comic-Con pela produtora Lionsgate como sendo uma produção “secreta”, o filme Bruxa de Blair é a terceira parte dessa famosa sequência dentre os filmes de terror. O primeiro e mais famoso foi lançado em 1999 como uma produção independente e com um módico orçamento de 60 mil dólares, mas apesar do pouco investimento, foi uma das maiores bilheterias da história do cinema, arrecadando em torno de 250 milhões de dólares, se tornando um dos 100 filmes americanos de maior faturamento de todos os tempos.
O sucesso se deu pela introdução de uma narrativa amadora, onde os planos são feitos no estilo “câmera na mão”, sendo a história contada pelo olhar dos personagens, o que gera uma grande expectativa e angústia no espectador, já que ele consegue ver tanto ou menos que os protagonistas. Os diretores Daniel Myrick e Eduardo Sánchez foram os primeiros na história do cinema a criarem esse formato, elevando o nível do gênero de terror.
O segundo filme não teve a mesma sorte. Lançado em 2000 com o título “Livro das Sombras”, o longa feito as pressas segue uma narrativa bastante diferente do primeiro, passando a impressão de ter sido rodado para fins de arrecadação, aproveitando o embalo e sucesso do primeiro filme. Embalo esse que não se observou na bilheteria, sendo considerado por muitos um fracasso.
O “Blair Witch”, terceiro filme, foi dirigido por Adam Wingard, um diretor aparentemente muito entusiasmado por filmes do gênero. Já dirigiu outras produções como “The Guest” (2014), “V/H/S/2” (2013), “Você é o Próximo” (2012), “Outcast” temporada 1 episódio 1 (2016), dentre outros. Na tentativa de obter o mesmo sucesso do primeiro filme, o longa contou com um grande escopo publicitário, tendo sua apresentação surpresa na Comic-Con e nas redes sociais, elevando as expectativas.
É possível reparar que há um receio por parte da equipe em decepcionar os fãs, pois mais uma vez apostaram no formato de “câmera na mão”, já utilizado tanto na primeira produção da série, como em outros filmes como “[Rec]” (Jaume Balagueró e Paco Plaza, 2007), “Atividade paranormal” (Oren Peli, 2007), Cloverfield: Monstro” (Matt Reeves, 2008), “V/H/S” (Adam Wingard, David Bruckner, Ti West, Joe Swanberg e Radio Silence, 2012), “The taking” (Adam Robitel, 2014), ou seja, é um formato bastante explorado pelo cinema e até um pouco desgastado.
A história baseia-se em James (James Allen McCune), cuja irmã Heather desapareceu com um grupo de jovens no primeiro longa. Após o surgimento de um novo vídeo, supostamente achado no local em que Heather sumiu, ele e mais três amigos decidem voltar ao local onde ela esteve pela última vez, a floresta de Black Hills, em Maryland, para descobrir os mistérios que rodearam seu desaparecimento.
O plot é interessante, mas seu desenvolvimento falha na falta de criatividade ao apresentar uma sequência de fatos já explorada. Assim como no primeiro filme, um grupo de jovens incrédulos vão acampar na floresta inabitada de Black Hills, desafiando a antiga lenda de uma bruxa que há séculos matou crianças e está envolvida em mistérios de desaparecimentos recentes sem resposta. O que muda até então é que dessa vez eles são acompanhados por um casal de moradores da região, que encontrou o suposto vídeo da câmera de Heather.
Conforme a interação dos personagens, observa-se aquela velha fórmula dos filmes de terror em atribuir a cada figura um papel emocional: o personagem principal, James (James Allen McCune), como a figura centrada e mais equilibrada do grupo, o casal de amigos, Peter (Brandon Scott) e Ashley (Corbin Reid), com personalidade mais humorada funcionando como alívio cômico e uma mulher, Lisa (Callie Hernandez), que vem a se identificar e unir ao personagem principal.
Os dois moradores citados anteriormente, Talia (Valorie Curry) e Lane (Wes Robinson), destoam do resto do grupo, inseridos como elementos importantes a contribuir com a história. Diferente dos jovens universitários da cidade grande, os dois cresceram ouvindo as lendas sobre a floresta e a bruxa, o que faz deles mais temerosos e atentos aos sinais da floresta.
Sons estranhos na calada da noite, galhos pendurados em formato de pentagrama, árvores despencando sem motivo aparente, muita correria, gritos e imagens angustiantes. É a mesma sequência de fatos vista no primeiro longa, só que com figuras diferentes. Há um momento da história sem resposta que talvez seja o único diferencial e que deixa o expectador com uma pulga atrás da orelha. Perto do fim, em uma cena de tentativa de fuga, nota-se que a imagem da câmera da personagem Lisa (Callie Hernandez) é idêntica a imagem do vídeo achado na câmera de Heather, o que gera inquietação e dúvida. Afinal, se aquele vídeo foi achado muito antes do grupo adentrar na floresta, como pode estar acontecendo naquele momento?
Não se pode dizer que é ruim, já que na primeira vez rendeu uma bilheteria milionária. Dá para se sentir ansiedade, angústia e tensão em muitos momentos, pois a linguagem ainda funciona ao provocar tais emoções, porém o forte marketing trouxe uma expectativa bastante alta para uma história repetida contada por outros personagens.
Revisado por: Bruna Vieira.