O filme apresenta com clareza seus argumentos e ajudam a construir um Christopher Robin adulto, cheio de responsabilidades e dificuldades que todo adulto tem e tudo o que ele perdeu com o passar dos anos. As principais ideias aqui, são apresentadas pelo próprio Christopher ao longo do tempo, vivenciando situações que são tão cotidianas e tão comuns, que é impossível não se identificar.
Pool, representa toda a inocência que uma criança que não consegue entender o mundo dos adultos pode ter, e por consequência disso, ser exclusivamente capaz de criar para si mesmo, uma realidade que faça algum sentido. Ao mesmo tempo, apresenta a ideia da exploração, da construção de uma realidade tão imersiva e tão própria de uma criança, que não da para não lembrar da época em que éramos crianças e de como víamos o mundo naquela ótica. Aqui, a sensação de reconexão com algo e uma forte sensação de empatia com o personagem enquanto criança chega a ser magica de tão sutil como é apresentada: apesar de sabermos como é chato ser adulto, você fica curioso em saber como aquele personagem chegou ali, e como ele pode estar tão perdido, a ponto de sequer imaginar que pode estar perdido.
Enquanto filme para adultos, especialmente para quem é pai ou mãe, apresenta argumentos que concordam com a nossa luta diária: como ser responsável e prestar atenção em nossos filhos? De fato, é um desafio homérico, e em muitas vezes, estamos tão fatigados pelas obrigações e pelos deveres e responsabilidades, que perdemos o que é mais importante. Enquanto pais, planejamos a carreira dos nossos filhos, esperamos que eles entendam como as coisas são no “ mundo adulto” e o maior desafio em dizer isso para alguém que é incapaz de compreender a complexidade disso (porque ainda é uma criança e o mundo para elas tem outra forma) não é em si, tão importante assim. Ser criança é mais simples, mas tão difícil….
As histórias clássicas mostram o Christopher Robin que gostava de se divertir em aventuras com seus amigos e as coisas complicadas…bem…não eram em si complicadas. Mas é aqui que o argumento principal da história do reencontro se desenvolve. Pool é a conexão que representa um Christopher Robin diferente do adulto que virou e que não consegue compreender sua filha. Isso se torna claro a medida que ele vai se esquecendo de como é ser criança. Isso é, até que se veja envolvido na brincadeira. O caminho de volta do personagem adulto e seu reencontro com sua essência, é uma experiência deliciosa que acaba por envolver sua família toda e apresentando o seu principal argumento: ser criança não é algo que tem a ver com a idade, e sim, como você vê o mundo, e o que você decide fazer com isso a seguir.
Pool, com perguntas tão bobas e inocentes, alfinetam fundo e me fez questionar varias das minhas decisões na vida. Dependendo de como você olha a situação, as coisas podem ser bem mais simples, e se resolverem sozinhas, como de fato, a gente aprende durante a vida que existem situações das quais, fazer nada, é a melhor coisa a se fazer. Um filme cativante para crianças (nos dias de hoje)
Apesar de ser um filme que foi muito fácil para se conectar em função dos argumentos, da construção do Christopher Robin adulto e das ideias e valores que o motivam, ainda assim, é um filme altamente cativante para crianças. Isso porque, o filme é sobretudo, sobre ser criança, e as dificuldades que elas enfrentam no dia a dia. Se ser adulto não é simples, ser criança, principalmente nos dias de hoje, deve ser bem mais complicado. Me lembro que quando eu era criança, tudo que eu precisava me preocupar era ir bem na escola e pensar em uma profissão. O resto, era construído ao longo do tempo. Meus pais, por exemplo, nunca falaram sobre faculdade, intercambio ou vestibular. Era de uma família bem humilde e isso era tão improvável que não precisava se preocupar com isso. Talvez por isso é tão saudoso me lembrar de passar tardes jogando “ fubeca” (bolinhas de gude) e bafo (virar figurinhas de álbuns quaisquer que fossem), além das partidas de futebol no campinho da vila ate o sol se por depois da escola. Esse era o meu Bosque dos 100 Acres. E até onde me lembro, ele era muito divertido.
A comparação das atividades e obrigações escolares da filha de Christopher Robin com o trabalho dele e a importância que ele o tempo todo tenta explicar a Pool, é praticamente um tapa na cara da sociedade (adulta). E o mais interessante, é que isso é feito com a Inocência infantil dos personagens e de forma tão simples que para uma criança pode fazer muito sentido pensar “ei, eu já fiz essa pergunta para meu pai/mãe” e praticamente um choque para um adulto que se vê por breves horas, na pele da criança, que esqueceu de se divertir e ser feliz. Pensando por esse lado, pode parecer uma daquelas perguntas que uma criança não consegue entender: só queria que ele lesse uma história para mim, ou só queria que ele estivesse esse fim de semana aqui. É tão pouco para um adulto e tão significante para uma criança, que de fato, nos faz pensar no que é, ou tem sido mais importante para nós.
Nos aspectos técnicos e demais detalhes, o filme é impecável. Os personagens se movem dentro do espectro físico das suas dimensões, suas personalidades fieis as personalidades das histórias anteriores, e isso também da o tom cômico das situações que eles se metem. O Pool desastrado que vive entalado em algum pode de mel por ai, é garantido.
Até aqui, só tenho boas recomendações dessa linda e cativante história, que com certeza vai te emocionar e quem sabe, fazer você se lembrar de como era ser criança.