“Cinquenta Tons de Liberdade” é o terceiro e último filme da trilogia “Cinquenta Tons de Cinza” (2015). Baseado no best seller internacional, a série erótica escrita pela britânica E.L James ganha o seu desfecho nos cinemas mundiais.
O livro conta a história de uma jovem estudante de Literatura, recatada e virgem, que se apaixona por um empresário bonito, rico e cheio de traumas de infância que recorre a relações exclusivamente sexuais com suas submissas.
O terceiro filme, a relação de Anastasia (Dakota Johnsson) e Christian Grey (Jamie Dornan) chega ao casamento. Antes do final feliz, o casal tem que enfrentar a perseguição de Jack Hyde (Eric Johnsson), o perigoso ex-chefe de Ana, que desenvolveu uma obsessão pela família Grey.
Novamente dirigido por James Foley, o roteiro continua nas mãos de Niall Leonard, que vem a ser marido de E.L James. A primeira diretora, Sam Taylor-Johnsson, se demitiu após as sucessivas interferências da autora na produção. A saída de Sam fez com que o filme perdesse o pouco que tinha de elegância e qualidades.
A direção de Foley é pouco inspirada. O roteiro de Niall é fraco, inconsistente, com diálogos risíveis e demonstra todo o esgotamento de uma trama que não tem mais nada a oferecer.
Anastasia tenta manter sua identidade pessoal enquanto Christian ainda exerce toda a dominação em cima de sua esposa, ao ficar furioso porque ela não assina com o sobrenome Grey no trabalho. Para recém-casados, o casal parece se conhecer mais na cama do que nos diálogos.
Dakota Johnsson e Jamie Dornan são fisicamente bonitos e desfilam seus corpos perfeitos. Porém, são atores de recursos limitados. Jamie parece desconfortável no personagem. Sua expressão para Christian feliz, irritado, chateado e/ou apaixonado são iguais. Dakota só fala num tom de voz sussurrante. A química do casal é praticamente inexistente.
A história de Ana e Grey é a romantização de uma relação abusiva. No terceiro filme, Christian usa de todos os argumentos previsíveis de “proteção” para determinar como Ana pode se vestir, trabalhar, dirigir ou sair de casa. Quando o casal discute uma eventual gravidez, Grey alega que não está pronto para ser pai porque não gostaria de dividir a mulher com outra pessoa. Oi? Grey é controlador, possessivo e não sabe respeitar as escolhas de Ana.
As cenas de sexo são as mais constrangedoras de toda a trilogia. Cita-se uma cena no qual os protagonistas fazem sexo dentro do carro, num estacionamento, logo após escaparem de uma perseguição do vilão. Quem consegue ter libido num momento de tensão? Todos os problemas do casal são resolvidos no sexo.
Os personagens secundários são relegados a coadjuvantes que não merecem ter vida própria. Sua função é estar na órbita do casal Grey ou servirem de distração entre suas rotinas atribuladas.
A presença da arquiteta Gia Matteo (Arielle Kebbel), a responsável pelo projeto da futura casa dos Grey, é apenas para atiçar a rivalidade feminina por causa de… Homem! O maior conflito é Kate (Eloise Mumford), a melhor amiga de Ana, desconfiar da fidelidade do namorado Elliot (Luke Grimes). O filme ainda conserva muito do machismo que o livro carrega em suas páginas.
As intenções de Jack Hyde ficam explícitas antes da metade da projeção. A trama do vilão é resolvida em dez minutos e quem resolve? Ana Grey, sozinha, num plano mirabolante que funciona na primeira tentativa!
No meio de clipes musicais de estrelas pop, desfiles de carros de marca, viagens e roupas de grife, “Cinquenta Tons de Liberdade” chega ao fim numa conclusão sem personalidade e sem alma feita sob medida para agradar os fãs. Nada além.