Muito se tem falado sobre a versão do diretor Zack Snyder no filme Liga da Justiça e como os fãs conseguiram que este sonho virasse realidade.
Mas será que o filme realmente é bom? Seria este filme necessário para os fãs e para o público geral do mundo geek? Iremos abordar com mais detalhes alguns dos momentos presentes nessa nova versão, então aqui fica o aviso:
Esta matéria contém spoilers!
Finalmente, o Snyder Cut foi lançado e de cara já conseguimos ver o qual diferente este filme é da sua versão de 2017. Não me entendam mal, o filme continua o mesmo, mas ao mesmo tempo ele é totalmente diferente.
O impacto dos acontecimentos parece mais carregados aqui, desde o sofrimento das Amazonas ao se sacrificarem em prol de salvar tanto a rainha e a Ilha Paraíso, como o mundo dos homens, até as cenas finais durante a luta dos heróis contra o Lobo da Estepe.
Snyder usa recursos diferentes do Joss Whedon. Enquanto o primeiro diretor busca expressar os momentos com a feição dos próprios atores com auxílio da câmera lenta, Whedon abusa de diálogos excessivos e piadas fora de hora, o que torna esta versão muito mais impactante em suas cenas.
E aqui entramos no assunto mais falado: As mudanças visuais dentre os dois filmes. O Lobo da Estepe ganhou uma armadura com uma tecnologia alienígena e eu confesso que ao olhar as fotos vazadas, me parecia feia, mas ao ver no filme e como ela reage e se mexe dependendo do que o Lobo esteja fazendo, ela ganhou um brilho a mais. Principalmente, pela sua cor mudar dependendo da luz de onde ele esteja.
Também tivemos o poderoso Darkseid e a história contada sobre a primeira vez que o vilão veio à Terra. Nesta primeira batalha, temos Zeus, Artêmis, Poseidon, as Amazonas e os Homens lutando com tudo o que tinham contra o vilão e essa cena trouxe uma camada a mais para entendermos como ele é poderoso.
De fato, as cenas em que o Darkseid aparece são extremamente necessárias e conversam bem de como tudo estava sendo tramado para a sua épica futura chegada a Terra em busca da equação anti-vida. Coisa que infelizmente provavelmente não veremos.
Outra mudança muito positiva é o verdadeiro papel do Ciborgue na trama. Aqui o herói cresce e tem um desenvolvimento muito mais elaborado. No primeiro filme, temos a impressão que ele está ali por acaso e que apenas é necessário para separar as Caixas Maternas. Já nesta versão podemos entender mais do herói. Como, dentro de si, ele é transcende o mundo. Ele literalmente poderia destruir o mundo com o conhecimento que ele tem, coisa que é confirmada com a gravação de seu pai ao explicar como ele é muito mais poderoso do que pensa. Se tornando uma peça principal para o enredo.
Não foi só o Ciborgue que teve alterações, as próprias cenas do Aquaman e como ele é tratado como um Deus, trazem à tona uma camada a mais. A famosa frase “história de pescador” nunca foi tão real quanto aqui. Pelo Arthur ser o salvador dos povos que vivem de pesca ou até dessas cidades pequenas de porto, ele é conhecido como algo místico (um Deus por assim dizer), coisa que se for contada para forasteiros vira uma lenda. Isso foi um belo toque adicionado.
Mais ponto positivo é a personalidade da Diana. Os seus filmes solos apresentavam uma Diana mais romântica e com feições charmosas, uma guerreira que seguia apenas os passos do amor (como mostrado no segundo filme), o que foi facilmente aceito pelo público. Já aqui temos a Diana dos quadrinhos.
Uma guerreira que tem seu papel, que quer salvar aqueles que sofrem. Essa característica que tinha sido esquecida, traz uma simbologia feminista muito maior que seu próprio filme solo, principalmente na cena onde a heroína aparece para salvar as pessoas que viraram refém dos terroristas. O olhar das alunas ao ver uma mulher forte e destemida enfrentando todos os terroristas, traz o forte sentimento de querer se tornar uma mulher como ela, que é uma das coisas que acompanhou o símbolo dessa heroína ao longo dos anos.
Vale também lembrar que a Diana é uma guerreira e seu objetivo é neutralizar o inimigo. Sempre que temos filmes que abordam guerreiros, como o próprio 300, não temos essa aversão do público com a morte de seus inimigos, mas nesta versão muitos tornam o fato da Diana matar tanto o terrorista, como o Lobo da Estepe como algo negativo. Será que o público não está preparado para uma versão mais realista da heroína?
Falando de realismo, é notório que o Snyder tenta abordar suas histórias voltadas a esta temática. Os raios saindo do Flash enquanto ele quebra a barreira do som (algo extremamente científico), o fato do Flash apenas dar “pequenos toques” para influenciar a direção de alguém, ao invés de carregar ou empurrar a pessoa (também baseado na ciência) e até um Batman mais humano (já que ele vinha sendo abordado como alguém super poderoso, que poderia bater e ganhar de tudo e todos) traz uma nova classificação nos corriqueiros filme de heróis. Algo que está em falta nos filmes blockbuster atuais.
Essa versão se conecta muito bem aos outros filmes existentes até 2017. Aqui temos novamente o sonho do Batman sendo citado e aprofundado com as cenas de uma linha temporal onde o Darkseid consegue induzir o Superman a apoiá-lo, causando a morte de diversos heróis.
A abertura desta confirmação de que existem sim outras linhas temporais e que, principalmente, o Darkseid vence em diversas delas, traz o terror e o medo que um dos Novos Deuses estabelece onde passa.
A fotografia do filme traz uma inspiração a outros filmes também do diretor Zacky Snyder. No começo, onde temos as Amazonas lutando com o Lobo da Estepe, a fotografia abusa das características semelhantes ao filme 300 do ano de 2006. Já a cena onde temos o Barry encontrar a Iris pela primeira vez, a direção nos levando ao jornal jogado na rua ao longo do desenrolar da cena remete a cena também presente no filme Watchmen, de 2009.
Porém, o filme também apresenta problemas. Um dos maiores é o CGI. Os efeitos especiais, por muitas vezes, estão mal elaborados. Tem cenas que o próprio Ciborgue parece que saiu direto de um jogo do Playstation 2 e por isso ser muito notório, acaba afastando o telespectador em alguns momentos.
Outro problema aparente é a duração do filme. Visivelmente, a parte intitulada epílogo não era necessária. O sentimento é que o próprio Snyder colocou essas cenas para fazer com que o público fique com o gostinho de quero mais e, talvez, se movam a pedir a segunda parte do filme como fizeram com a Liga da Justiça de Zack Snyder.
A trilha sonora aqui também é marcante, dando uma cara nova e impactante para algumas das cenas repetidas do filme de 2017, mas ela peca ao usar repetidamente algumas músicas de alguns cantores.
Filmes como Coringa ganham um charme pela trilha quase que totalmente composta para o filme, coisa que deveria ter sido feita aqui, mas optaram de adicionar músicas pré-existentes a trama.
A versão do Snyder de A Liga da Justiça mostrou para o que veio, sendo necessária para os telespectadores que ficaram com aquele gosto amargo da versão do Whedon, como também necessária para aqueles que não viram a primeira versão.
Se esta visão tivesse realmente sido a primeira, talvez ela seria responsável por remoldurar as fórmulas existentes de como fazer um filme de herói, trazendo mais realismo, peso e uma melhor conexão entre outros filmes existentes do universo.
Sim, mesmo com seus defeitos, este filme consegue facilmente entrar no pódio dos melhores filmes de heróis já feitos e é uma pena que possivelmente não veremos a continuação deste universo.