Zoë Kravitz estreia em grande estilo com o thriller Pisque Duas Vezes, não só como diretora, mas também como coautora do roteiro.
Uma das primeiras brincadeiras que fiz quando saí da sala foi perguntar se poderia assistir ao filme novamente. E desde então, tenho dificuldade em não chamar o filme de “Não Pisque Nenhuma Vez“. Sim, o debut de Zoë é tão fantástico que fiquei presa na cadeira durante toda a duração do filme e me arrependi de ter “piscado” algumas vezes.
A filha do músico Lenny Kravitz com a atriz Lisa Bonet certamente se enquadra no que chamamos de “nepobabies“, que estão invadindo Hollywood. Apesar disso, Zoë prova, em seu debut, que tem talento para brilhar sozinha. E, para mim, seu talento é provado em uma cena crua, com apenas um close no rosto de Channing Tatum, que entrega à diretora o que talvez seja um dos melhores monólogos de sua carreira como ator.
É lógico que Kravitz bebe de referências visuais e criativas no filme. Podemos encontrar um pouco dos filmes Matrix, da obra de David Lynch, passando talvez por Hitchcock e mais algumas que eu não fui capaz de perceber. Entretanto, o resultado é um filme coeso, visualmente impecável, com figurino e direção de arte fantásticos, fotografia perfeita, edição sem um erro e um enredo muito interessante. Ao escrever este texto, posso dizer que já ouvi de algumas pessoas que talvez este seja o melhor filme que elas já viram no ano.
Vermelho, azul e amarelo são três cores primárias, fundamentais para nossa visão do mundo. E é com essas cores que Pisque Duas Vezes trabalha de maneira muito rica. Seja na Polaroid do pôster, nos óculos que um dos personagens usa, nas máscaras faciais, ou na forma de brincar com as diversas tonalidades de vermelho, o uso das cores me deixou extremamente empolgada com a cuidadosa escolha estética.
Continuando os elogios, é preciso enaltecer o trabalho de edição do longa. Em um determinado momento, as personagens colocam máscaras de tratamento faciais azuis. E, mesmo após retirá-las, podemos notar que as cenas que se seguem mantêm pontos brilhantes para criar a narrativa. Esse também foi um primoroso esforço da continuidade, essencial para que a história flua e para a compreensão da trama.
O figurino, uma das minhas partes preferidas de qualquer filme, é praticamente um personagem por si só. A pureza do branco, as roupas iguais, simples, mas ao mesmo tempo perfeitas para cada uma das personagens femininas, culminando nos vestidos de inspiração greco-romana. Cheios de amarrações, o que poderia ser apenas um pedaço de pano, os longos que elas usam remetem às mitologias, propositalmente adicionando mais elementos importantes para o universo que o filme cria.
Com o sobrenome Kravitz, eu não esperava pouco da parte sonora do thriller. Além de músicas pontualmente acrescentadas com excelente timing para criar o clima da narrativa, acredito que o ponto alto no filme é a sua sonoplastia.
Os efeitos sonoros não costumam ser elementos que me impactam tanto. Dessa vez, comecei perguntando, nos primeiros segundos, “Esse é o barulho de uma câmera fotográfica?” para minha amiga, e foi a única frase que falei o filme inteiro. A cada acender de isqueiro, cada taça que era enchida com champanhe, o cigarro sendo tragado, o som do vape, todos e cada som me transportavam mais para dentro da história.
Tentarei encerrar essa longa dissertação elogiosa ao filme – não recebi nada para escrever este texto – falando um pouco do elenco. A britânica Naomi Ackie, que já havia brilhado como Whitney Houston, interpreta Frida, uma simples garçonete.
Naomi está excelente no papel, e suas cenas com a latina Adria Arjona, que interpreta Sarah, uma ex-participante de um reality show de sobrevivência, são de tirar o fôlego. A química entre as duas é explosiva, e ao som de “I’m That Girl“, de Beyonce, elas entregam uma sequência de tirar o fôlego, com selo de aprovação da própria Queen B. Geena Davis é um nome que fala por si só, e é interessante a escolha da eterna Thelma, de Thelma & Louise, para a produção.
Partindo para o elenco masculino, começo com Kyle MacLachlan, conhecido por Twin Peaks e Duna, de Lynch, que assume seu posto em mais uma história intrigante. Christian Slater é Vic, um esnobe meio estranho, mas que tem seu carisma. Levon Hawke, filho de Ethan Hawke e Uma Thurman, traz uma inocência fundamental para seu personagem. E, como Slater King, um bilionário, temos Channing Tatum.
Channing não é considerado um excelente ator, mas é palpável o quanto ele se dedicou para dar vida a King. Acredito que essa seja uma das suas melhores interpretações até hoje. Zoë soube utilizar o passado de Tatum para trazer emoções que eu não esperaria dele.
Acredito que, pela minha “pequena” crítica, sou do time que amou o filme e concordo que foi um dos melhores que assisti até agora no ano. Esperamos mais filmes de Zoë Kravitz.