Desde seu anúncio, a Marvel Studios tem promovido “Thunderbolts*” como uma obra radicalmente diferente no Universo Cinematográfico Marvel (UCM), destacando sua abordagem mais autoral e inventiva. A comparação com um “filme indie” não é por acaso, pois reflete tanto o tom quanto a equipe criativa por trás do projeto.
Jake Schreier (um dos diretores de “Treta”) e Joanna Calo (co-showrunner de “O Urso”) estão à frente do filme, o que chama atenção, já que muitas produções do UCM priorizam uma visão de estúdio em detrimento de uma assinatura artística. No entanto, essa estratégia parece não se concretizar em “Thunderbolts*”, que sofre com um conflito de ideias: de um lado, a tentativa de se arriscar; do outro, a necessidade de preparar o terreno para os próximos filmes do universo.

É uma pena que “Thunderbolts*” seja um blockbuster esquecível, cujo clímax final acaba mais interessante do que o desenvolvimento da jornada. Ainda assim, o filme vai abordar seu tema central de uma maneira teatral que é a saúde mental.
Sim, a Marvel está demonstrando certa consciência em suas histórias. Todos os membros dos Thunderbolts buscam redenção por erros passados e tentam encontrar um propósito. A espiã Yelena Belova (Florence Pugh) inicia o longa questionando sua vida solitária enquanto executa missões repetitivas, presa num loop cansativo. Belova recebe o maior arco de desenvolvimento e compartilha uma dinâmica emocional com Robert “Bob” Reynolds (Lewis Pullman), que se tornará o Sentinela. Reynolds é uma surpresa positiva, pois o personagem vive em constante conflito contra sua tristeza.

O filme explora bem essa relação espelhada entre os dois, mas o verdadeiro triunfo de “Thunderbolts*” está na representação da luta interna de Bob contra o Vácuo (sua personalidade maligna). O Vácuo atua como uma personificação da depressão, dominando-o gradualmente, e é nesse aspecto que a narrativa se torna mais interessante, especialmente nos minutos finais, no qual o personagem precisa enfrentá-lo para encontrar paz na sua mente.
Já o restante do grupo não recebe o mesmo tratamento. O Agente Americano (Wyatt Russell) e Ava Starr (Hannah John-Kamen) ficam à margem da trama, Bucky Barnes (Sebastian Stan) parece perdido na jornada, e o Guardião Vermelho (David Harbour) se limita a um alívio cômico irritante. É uma produção que peca por tramas inconclusas e uma estética oca — o pior trabalho cinematográfico de Andrew Droz Palermo (conhecido por “A Lenda do Cavaleiro Verde”).

Falta imaginação para que “Thunderbolts*” seja um filme de quadrinhos, já que a direção de Schreier é burocrático e sem inspiração, não existe um sinal de realizador. O espectador ficará mais empolgado com o clímax e a cena pós-créditos, mas logo depois esquecerá a obra.
O filme é uma aventura sobre personagens perdidos em busca de redenção, mas a ausência de criatividade, boas ideias com execuções fracas e uma direção média o tornam uma experiência esquecível, que só chamará atenção por expandir o universo cinematográfico.