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Crítica 2 | Uma Batalha Após a Outra

Uma Batalha Após a Outra de Paul Thomas Anderson traz Leonardo DiCaprio em épico tragicômico, misturando sátira política, drama e faroeste.

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Uma Batalha Após a Outra

Vivemos tempos sombrios, onde o medo tomou conta do espírito das pessoas e a esperança por dias melhores parece inexistente. Mas será que podemos enfrentar essa monstruosidade? A resposta é sim, e Paul Thomas Anderson nos traz essa reflexão em seu épico tragicômico. Em “Uma Batalha Após a Outra“, seguimos Bob Ferguson (Leonardo DiCaprio), um ex-integrante de um grupo revolucionário que está em busca de sua filha sequestrada. Chase Infiniti entrega uma atuação marcante em sua estreia no cinema.

A produção é baseada no romance “Vineland“, de Thomas Pynchon. O cineasta adapta a premissa do livro com uma abordagem moderna para dialogar com os tempos atuais. Enquanto a obra de Pynchon retrata uma Califórnia marcada pela Guerra às Drogas e pela violência policial durante a reeleição de Ronald Reagan em 1984 (acontecimentos que refletiam sua época), o filme de Anderson aborda o avanço da extrema-direita, a imigração e o preconceito com uma maturidade crua. Ele trata esses temas com seriedade e mantém a força da discussão. O longa não é apenas um retrato da situação atual dos EUA, mas do estado decadente do nosso mundo.

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 O país se tornou uma zona de guerra, uma versão distorcida de uma América dominada pelos confederados. Já não é a terra da liberdade que abriga a todos, mas sim uma terra que rejeita as minorias e abraça a propaganda do americano de “sangue puro”.

Anderson equilibra com maestria a comédia e o drama. Embora o filme seja muito engraçado, com um timing cômico impecável, ele também carrega uma melancolia, já que os personagens enfrentam o peso de uma luta interminável e de desfecho incerto. É uma guerra que continuará atravessando gerações. Se fosse um diretor submisso aos executivos, não teria essa intensidade.

Uma Batalha Após a Outra” é uma obra em constante transformação. O filme não para e explora diversos gêneros, sem medo de ser uma sátira política, um thriller e um faroeste. O espectador não percebe as 2h40m de duração graças ao ritmo frenético (com um clímax carregado de tensão surreal no melhor estilo western), comprovando o domínio absoluto do artista.

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Além disso, Anderson vai desconstruindo gradualmente os arquétipos de seus personagens. Em que sentido? É simples: temos uma heroína revolucionária, Perfidia Beverly Hills (interpretada pela cativante Teyana Taylor), que assume um papel muito ativo no início do filme, mas tem um desfecho que compromete sua reputação.

Bob Ferguson é apresentado como um herói típico; no entanto, após 16 anos do desaparecimento de sua amada, ele se torna um bêbado deprimido e patético. Porém, sua determinação em resgatar a filha reacende a chama do revolucionário dentro dele. DiCaprio, como sempre, entrega uma interpretação versátil; em meio a diálogos dinâmicos, o astro consegue transmitir as nuances de um homem afundado no fracasso, mas que ainda tenta ser uma pessoa decente.

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E todas as interações entre o Sensei Sérgio (interpretado com carisma por Benicio del Toro) e Bob são extremamente divertidas. Sean Penn (de Sobre Meninos e Lobos) talvez entregue sua maior performance como o militar Steven J. Lockjaw, um personagem de complexidade íntima que oscila entre extremista e covarde, reprimindo seus desejos. É o retrato perfeito de um americano dividido em relação aos seus valores.

“Uma Batalha Após a Outra” é uma montanha-russa emocional que levanta muitos questionamentos. O filme reflete intensamente o nosso mundo e, quem sabe, pode ser a produção mais marcante da década pela sua ousadia. No entanto, só o tempo dirá.

Uma Batalha Após a Outra
Perfeito 10
Nota 10
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