a hora do mal 3

Crítica | A Hora do Mal “Um novo clássico do terror”

"A Hora do Mal" é uma experiência assustadora com toques de humor, que estabelece seu diretor como uma voz inovadora no gênero.

6 Min Ler
10 Perfeito
A Hora do Mal

Todos os olhares da indústria estão voltados para o novo talento do terror diretor de A Hora do Mal: o cineasta e comediante Zach Cregger, responsável por dirigir e escrever o aclamado “Noites Brutais (2022)”, um filme que conquistou tanto a crítica quanto o público. O sucesso do longa colocou Cregger no radar dos grandes estúdios, que agora aguardam com expectativa seu próximo projeto. O roteiro de “A Hora do Mal” foi alvo de disputa entre várias produtoras, mas a New Line/Warner Bros saiu vitoriosa nas negociações.

Em entrevistas, Cregger revelou que sua maior inspiração para criar “A Hora do Mal” foi “Magnólia (1999)”, dirigido por Paul Thomas Anderson, devido ao elemento narrativo em comum: múltiplas histórias interligadas. “A Hora do Mal” narra o desaparecimento enigmático de 17 crianças de uma sala de aula, com exceção de um menino. Todas elas despertaram no mesmo horário durante a madrugada e saíram no escuro por vontade própria, sem nenhum sinal de violência, e nunca mais foram vistas. A comunidade se questiona quem ou o que está por trás desse mistério.

A Hora do Mal

Podemos dizer que “A Hora do Mal” é a obra mais criativa e madura de Cregger até agora (e, possivelmente, seu melhor filme). O longa funciona como um conto de horror infantil contemporâneo, explorando os maiores pesadelos da infância e alternando entre fantasia e realidade, com diversos simbolismos ligados aos medos infantis mais primordiais.

Aliás, o modo como as crianças desaparecem lembra muito o conto do Flautista de Hamelin, em que um músico se oferece para livrar a cidade de uma praga, mas, ao ser traído, vinga-se atraindo as crianças com sua flauta.

É incrível como Cregger evoluiu como contador de histórias, mostrando habilidade ao integrar diversos conceitos de maneira natural. “A Hora do Mal” tinha tudo para ser uma bagunça de ideias e estrutura, mas, felizmente, não é o caso. Cregger captura a atenção do público já nos primeiros dois minutos com uma narração perturbadora, e o núcleo investigativo do filme remete a “Os Suspeitos“, de Denis Villeneuve, já que ambos compartilham uma atmosfera sombria que permeia a cidade.

a hora do mal 2

Como já foi mencionado, o longa é fortemente influenciado pela obra de Anderson (o visual do personagem de Alden Ehrenreich, por exemplo, presta homenagem ao policial Jim Kurring). O uso de múltiplas histórias não é coincidência: essa técnica auxilia tanto na construção do mistério quanto na imersão do espectador no universo dos personagens.

Cada um deles tem suas falhas, e suas escolhas os levam ao clímax (assim como acontece em “Magnólia”). Além disso, o diretor utiliza com frequência o movimento back shot (plano de costas) para provocar desconforto e criar intimidade com o espectador, já que seguimos de perto os personagens em suas jornadas.

O desaparecimento das crianças provoca medo e incertezas na comunidade. Os moradores estão ansiosos por respostas e enfurecidos na busca por um culpado. Infelizmente, a professora Justine Gandy (Julia Garner) se torna o alvo do ódio coletivo. Todas as crianças eram suas alunas, e os pais, certos de que ela é a vilã, insistem em culpá-la. Cregger retrata com habilidade a paranoia que consome tanto Gandy quanto a comunidade. A personagem não consegue sair de casa sem enfrentar ameaças, acusações ou agressões.

a hora do mal 1

Tudo isso é transmitido pela brilhante interpretação de Julia Garner (Ozark). Ela é a nossa heroína trágica, odiada por todos e crucificada como uma “bruxa”. Mesmo assim, Gandy tenta encontrar pistas em meio ao caos. Outra figura importante nessa trama é Archer Graff (Josh Brolin), um pai devastado que, aos poucos, perde a noção da realidade após o desaparecimento do filho (ele começa a dormir no quarto da criança e ignora a presença da própria esposa). É um homem que perdeu o propósito e busca desesperadamente recuperá-lo.

Além de Gandy e Graff, temos o policial Paul Morgan (Alden Ehrenreich) e o viciado James (Austin Abrams), que adicionam profundidade à narrativa por serem personagens patéticos (no melhor sentido possível). Ambos parecem desconectados na trama, mas seus caminhos inevitavelmente se encontram (e vale destacar que Ehrenreich e Abrams estão brilhantes em seus papéis). Quando tudo começa a se encaixar, o desfecho é incrivelmente satisfatório. Quem dera os filmes de estúdios sempre tivessem esse nível de qualidade.

Se “Os Suspeitos” e “Magnólia” tivessem um bebê, seria “A Hora do Mal”. Uma experiência aterrorizante com pitadas de humor, que consagra Cregger como uma voz criativa no gênero.

A Hora do Mal está em exibição nos cinemas.

A Hora do Mal
Perfeito 10
Nota 10
Compartilhe este artigo