Abigail é daqueles filmes que se você não espera muito dele, pode acabar se surpreendendo. Ao menos, foi o meu caso.
Também, não poderia deixar de ser assim, já que o material de divulgação em nada ajudou a diminuir essa imagem. O trailer entrega basicamente toda a história do longa, envolta em uma fórmula de terror mais do que batida. E foi assim que acabei sendo surpreendido com um filme divertido, engraçado e caricato.
Se eu puder dar uma dica, antes de você prosseguir com a leitura dessa crítica é: saia daqui! Não leia esse texto (pelo menos, não agora). E também não veja nenhum trailer, teaser, comercial ou o que quer que seja sobre Abigail. Vá ao cinema e depois volte para ler esta crítica. E me agradeça (ou xingue) depois.
A história se passa em um local não-especificado, onde um grupo de criminosos é contratado por Lambert (Giancarlo Esposito), para sequestrar uma bailarina de 12 anos, filha de um homem muito rico (e misterioso). Isolados em uma mansão antiga, eles devem aguardar 24 horas pelo resgate de 50 milhões de dólares.
Porém, quando um dos sequestradores aparece brutalmente morto, boatos inflamam os humores e a desconfiança se espalha nesse grupo de desconhecidos. Até que uma tentativa de pôr um fim no trabalho de maneira precoce expõe a verdadeira natureza de Abigail (Alisha Weir), mostrando que ela não é tão inocente e pura como parece.
Dirigido por Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett, responsáveis pelos 2 últimos Pânico, o filme reúne um grupo heterogêneo de personagens: Joey (Melissa Barrera), responsável por vigiar a vítima; Frank (Dan Stevens), o aparente chefe em campo da operação; Sammy (Kathryn Newton), a hacker; Peter (Kevin Durand), o brutamontes burro; Dean (Angus Cloud, em seu último papel), o piloto de fuga e Rickes (William Catlett), o atirador.
A dinâmica do grupo é bem divertida e convence, mesmo com as frases de efeitos genéricas e cafonas. A maioria dos personagens do grupo são atrapalhados, cometem diversas burradas e correm que nem idiotas. Mas, entre todos, o destaque fica para Melissa, que é a final girl perfeita e conquista com a sua gentileza e instintos maternos.
Alisha, como a bailarina vampira, é exagerada, intensa e até mesmo caricata em algumas cenas. Ela é responsável por boa parte do humor do filme, oscilando entre a inocência e a brutalidade, sempre com muita inteligência.
Apesar de uma vampira dançarina ser um conceito até interessante (e divertido) nas primeiras cenas, acaba cansando ao longo da trama. Principalmente pelas cenas não terem tanta fluidez e a inspiração em M3GAN gritar na nossa cara, como uma tentativa de viralizar no TikTok com uma dancinha macabra.
Ainda assim, faltou uma maior exploração das habilidades de Abigail, se aprofundando na mitologia dos vampiros desse universo. A própria Sammy menciona durante o longa sobre que tipo de vampiro eles estão enfrentando: Anne Rice, True Blood ou Crepúsculo, já que cada mitologia vampiresca é muito particular. Isso abre espaço para algumas inconsistências do roteiro, mas que não atrapalham a diversão e a ação.
Se você é do tipo que gosta de gore, do meio pro final o banho de sangue é literal. E acaba até mesmo pegando a gente de surpresa, já que apesar de gráfico, durante boa parte do filme as coisas se mantêm bastante sóbrias.
No meio do caminho, o roteiro ainda tenta enfiar alguns plot-twists que não funcionam tão bem quanto esperado, mas ainda ajudam a dar um gás numa história com pouca substância.
Abigail é pura galhofa, quase uma sátira de filmes de vampiros, como Todo Mundo em Pânico é uma sátira do mesmo Pânico, de onde os diretores vieram.
Abigail está em cartaz nos cinemas brasileiros.
Agradecimento a Universal Pictures do Brasil, que convidou o Cabana para ver o filme previamente.