O filme de abertura do Festival do Rio 2023, Atiraram no Pianista, é uma animação que conta a história de um autor norte-americano que é obcecado pelo gênero musical “Bossa Nova” e decide escrever um livro sobre um antigo pianista e um dos melhores amigos de Vinicius de Moraes, Tenório Jr. O pianista foi sequestrado e assassinado durante a ditadura militar na Argentina, e o autor decide investigar a fundo a história desse músico tão aclamado entre os músicos da Bossa Nova.
“Atiraram no Pianista” não é um documentário animado pensando em fugir do modus operandi do gênero, sendo composto por uma narração simples e um grande número de entrevistas. Mas faz algo que consegue imergir o espectador com a obra utilizando o protagonista.
A jornada do autor em contato com a história da ditadura militar nos países da América Latina, e sobre a operação Condor (executada por seu país de origem, Estados Unidos), mostra alguém que se depara com algo que é muito maior do que estava pensando que seria ser.
A morte de Tenório não é só um acaso de violência em um país qualquer, é uma consequência de um fator histórico que até mesmo pessoas consideradas “cultas” em outros países, nunca souberam o ‘que realmente foi o século XX na América Latina. Nem mesmo esses golpes financiados por um país que propagava uma democracia que ele mesmo fazia questão de apagar nos países Latinos.
O Autor descobrir como suas origens fizeram parte dessa aniquilação de inocentes é um dos pontos chamativos da obra. “Atiraram no Pianista” não é sobre como uma bala foi parar dentro da cabeça de Tenório Jr. mas qual a história dessa bala e de tantas mortes como a de Tenório por alguém ter uma aparência de “comunista” de acordo com os militares, que brincavam de assassinar outros por preconceitos e achismos.
Claro que as referências musicais e a história da Bossa Nova são um prato cheio para os amantes do gênero, em conjunto com a trilha sonora e a conexão da trilha com o que significou a existência de Tenório Jr. para a música brasileira durante um regime que fez de tudo para destruí-la. Mas, assim como é um filme carregado de informação e com um desenvolvimento tênue da jornada do protagonista com sua pesquisa, a obra é trabalhada no quesito técnico quase como um filme televisivo. Algo que é consequência pelo estilo de animação em conjunto com o formato documentário proposto.
Mesmo tendo o lado positivo do filme não tentar se aventurar demais no quesito técnico e resultando em uma sobreposição das informações, que são o foco da obra, “Atiraram no Pianista” não foge de ser um documentário sem muito desenvolvimento dramático para o que é proposto.
Claro que não tiro a dramaticidade dos fatos, mas de como eles foram executados e adaptados para a tela do cinema. É um filme muito colorido e parece quase uma propaganda sobre a beleza da cidade do Rio de Janeiro, mas o filme aborda questões que não são nenhum pouco belas. Além de nem citarem o fato de que uma grande parte dos torturadores não terem pago por seus crimes após a Ditadura Militar no Brasil.
Acaba sendo uma contradição do que a obra quer falar sobre: Quer falar de quão triste foi a época da Ditadura Militar nos países da América Latina e como muitos inocentes morreram por nada nesse período, ou sobre um Brasil sempre sorridente e carismático que passa por tudo com um sorriso no rosto?
“Atiraram no Pianista” é um documentário carregado de história necessário para falar da música e da história política brasileira, mas que acaba se vendendo como um filme leve e sem o peso necessário para falar o que significa a morte de um músico com tamanho reconhecimento da Bossa Nova.