Retornar à Pandora em Avatar: O Caminho da Água, 13 anos após nossa primeira investida ao mundo habitado pelos na’vi, parecia arriscado. Não só pelo fato de que haveria o peso em repetir o êxito do longa original, que causou um impacto na indústria do cinema e ser um dos grandes sucessos da história – tendo este marco até hoje, inclusive – mas também pela dúvida em relação ao interesse do público em se aventurar novamente por esses lugares após tanto tempo. A resposta para essas questões se resumem em um nome: James Cameron.
O cineasta é um dos poucos hoje em dia que podem carregar o peso de ter o seu nome em destaque em qualquer produção e ser associado à qualidade do que se propõe a fazer, e aqui não é diferente. Se no primeiro Avatar ele nos conduz maravilhosamente por Pandora e seus habitats, em O Caminho da Água ele eleva isso num nível singular.
A construção do ambiente apresentado aqui é de fazer qualquer um cair o queixo. Não que isso exigiria muito de Cameron, afinal é o que sempre fizemos diante de seus filmes. Mas o esmero do diretor, que ficou na última década desenvolvendo a tecnologia necessária para aprimorar a captação de movimento e interpretação de seus atores, em jogar o espectador no fantástico e ultrarrealista mar pandoriano é perceptível em cada frame.
Ao contrário de muitas produções recentes, aqui não dá pra perceber o que é real e o que não é, mesmo o longa se localizando num mundo alienígena. Tudo é crível, palpável e, em menos de 5 minutos de história, o público já é fisgado. Acredite: você não saberá diferenciar um ser humano de um na’vi quando a discussão for o que é real na tela, uma vez que os efeitos especiais estão acima da média.
O roteiro desenvolvido aqui, assim como no primeiro filme, é básico e repleto de clichês que vimos em outras tramas parecidas, mas ele aqui serve como fio condutor a essa experiência visual que Cameron nos guia.
A premissa aqui, sem entrar em spoilers, mostra que a família de Jake Sully (Sam Worthington) e Neytiri (Zoë Saldaña) é forçada a viver numa região mais distante de Pandora, onde existem seres como eles mas, por passarem mais tempo na água, têm seus corpos adaptados para nadar e conseguir ficar mais tempo sem respirar.
E ter um mestre da ação como ele também serve como cartão de visitas para batalhas impressionantes, principalmente no ato final do longa. Mesmo não inventando nada narrativamente falando, o cineasta sabe como poucos criar essa atmosfera de adrenalina e tensão, fazendo a gente se empolgar toda vez que há cenas assim. É como um blockbuster de verdade deve ser feito.
Então Avatar 2 é perfeito, incriticável? De forma alguma: o roteiro ser simples não é um problema, porém há nele entraves que fazem com a história caia no piegas algumas vezes, tirando a crença no que vemos em tela. Apelar para algumas conexões desnecessárias com o primeiro filme – principalmente no plot do vilão principal – faz com o filme perca a oportunidade de aprofundar ainda mais nessa expansão de universo em que se propõe.
Além disso, personagens aqui são apresentados como se fossem ter alguma importância relevante ao longo do filme e, nada mais que de repente, somem. É verdade que haverá um terceiro longa e tais tramas possam ser exploradas ali, mas essas situações soam como descuido por parte da narrativa. É tanto lugar e seres diferentes a serem apresentados ali que às vezes dá a impressão de que vemos pouco, mesmo após 3 horas de filme.
E sim, é uma produção longa demais para uma trama que poderia ser desenvolvida perfeitamente em dois terços do seu tempo. Isso pode desagradar alguns…
Mas nada tira de Avatar: O Caminho da Água a aura de espetáculo, de encantamento. As formas e as cores são usadas de um jeito único e, somadas ao uso inigualável do 3D que só Cameron consegue fazer, te dá uma imersão àquele mundo de modo sem precedentes.
Pode ser que este novo capítulo da nossa ida à Pandora não cause o alvoroço que o filme de 2009 obteve. Os tempos eram outros. Mas com o retorno gradativo do público aos cinemas, desaquecidos recentemente com o advento da pandemia e a cultura dos streamings, quer maneira melhor de retomar o hábito de mergulhar na experiência do cinema do que num filme, comandado por ninguém menos que James Cameron, que traz tudo isso na enésima potência?