“Bacurau”, filme dirigido por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, participou da 72.ª edição do Festival Cannes e levou o Prêmio do Juri. O filme é o cinema brasileiro em sua essência e, além de trazer Pernambuco para fazer parte das grandes produções do país, há um reapropriamento de imagens históricas do sertão.
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O filme retrata uma cidade pequena, Bacurau, a oeste de Pernambuco e se passa num futuro próximo. A comunidade local vive em harmonia e tranquilidade até a morte de uma querida moradora local. Um acidente na estrada e quantidade de caixões que foram levados para a cidade pode ser visto como um sinal de mal presságio. Logo em seguida eventos estranhos como o sumiço da cidade do mapa e a morte de moradores causam um sentimento de estranheza no espectador. O clima de suspense está sempre presente, muito bem construído, e vai crescendo com o desenvolver da trama. Apesar disso, o filme retrata todos esses acontecimentos de forma crível e fascinante.
Há um político que menospreza a população e os trata como lixo. Finge preocupação com o povo apenas com o intuito de se reeleger. Surge um grupo de mercenários estrangeiros, no qual estão incluídos dois personagens sulistas (Karine Teles e Antonio Saboia), que se julgam melhores e mais “brancos” do que a população nordestina. São críticas mordazes com um toque de humor, mas que se mostram de grande importância, especialmente nos dias de hoje, quando grande parte do país fantasia sobre intolerância e segregação.
A direção conjunta nos ajuda a perceber a linha discursiva (estética e política) na qual o novo filme se encaixa. Bacurau é uma consequência direta tanto da ironia fina de Mendonça Filho quanto da perversidade física de Dornelles.
A estética do filme (enquadramento, planos detalhe, montagem, uso da música, etc) visto em Bacurau também esteve com Mendonça em seus Aquarius e O Som ao Redor, com a mesma força e qualidade alcançados. Isso, por si só, já caracteriza uma assinatura forte, mesmo com enredos tão distintos entre si.
Outro ponto importante é que em Bacurau o protagonismo não é mostrado como uma pessoa, mas está mesmo com a pequena localidade sertaneja; está com a identidade que ela carrega, diluída, logicamente, em todos os seus vários personagens.
Apesar de seus aspectos técnicos serem impecáveis, alguns trechos do roteiro apresentam cenas com contexto amplo demais, abrindo muito espaço para a imaginação do espectador sobre a motivação de certos atos dos personagens.
No terceiro ato, há algumas cenas mais violentas, com bastante sangue e que pode ser considerado por alguns como algo gore, que com certeza agradarão os fãs da violência dos filmes de Tarantino. Portanto, é um filme ótimo para quem gosta dos gêneros de ação e suspense, além de ser o típico filme que te diverte e faz pensar.